*DIA MUNDIAL DA VISÃO

DIA MUNDIAL DA VISÃO

Segundo a estimativa da Agência Internacional de Prevenção à Cegueira, é possível considerar que no Brasil tenhamos cerca de 26 mil crianças cegas por doenças oculares que poderiam ter sido evitadas ou tratadas precocemente (As Condições de Saúde Ocular no Brasil 2019 – Conselho Brasileiro de Oftalmologia)

             O dia mundial da visão é celebrado anualmente na segunda quinta-feira de outubro desde 2000. Iniciativa da OMS tem por objetivo alertar, tanto à classe médica, quanto à sociedade em geral, sobre as variadas questões que provocam comprometimento visual e cegueira. Este ano o tema é: Vision First!,  conclamando a que todos façam pelo menos uma consulta oftalmológica.

Focando nas crianças a importância do evento é grandiosa, uma vez que segundo a própria OMS 60 a 80% dos casos de cegueira e baixa visão na infância são evitáveis, por serem preveníveis ou tratáveis.

O pediatra tem papel de suma importância nesse contexto, uma vez que é o profissional que em maior número de ocasiões atende os pequenos pacientes e detém a confiança da família.

Os dados sobre cegueira e baixa visão na infância são difíceis de serem determinados, em parte pelo grande leque de patologias e, muitas vezes, devido ao diagnóstico tardio. No Brasil em especial há carência de informações precisas, porém várias estratégias de prevenção à cegueira e baixa visão infantil são mundialmente reconhecidas como eficazes:

  • A qualidade do atendimento perinatal previne desde os casos de coriorretinite por infecção congênita, como toxoplasmose, citomegalovírus etc., incluindo nos últimos anos as arboviroses (principalmente Zika e Chikungunya), como aqueles que comprometem a área cortical visual por asfixia.
  • A avaliação de crianças na idade escolar, onde os erros refrativos acometem aproximadamente 20% das crianças e provocam perda visual facilmente corrigida com o uso de óculos, previne dificuldades de aprendizado e possível evolução para ambliopia. Sempre que possível essa avaliação deve ocorrer também em idades mais precoces, quando a prevenção/tratamento da ambliopia é muito mais eficaz.
  • O estrabismo é uma importante causa de ambliopia e devemos sempre reforçar que exige tratamento imediato se persiste após o sexto mês de vida da criança.
  • A realização do reflexo vermelho ao nascimento tem por objetivo principal o rastreamento da catarata congênita, mas também favorece a identificação de possíveis opacidades de córnea, má-formações oculares e glaucoma congênito, entre outros. Esse diagnóstico precoce é fundamental para que se institua o tratamento em idade adequada para um bom prognóstico visual final. Obstruções congênitas ao eixo visual, se tratadas após os 3 meses de vida (fase do chamado período crítico do desenvolvimento visual central), apresentam prognóstico mais pobre.
  • O reflexo vermelho deve ser repetido algumas vezes, principalmente durante os dois primeiros anos de vida da criança, pois a catarata pode ocorrer após o nascimento, assim como o glaucoma e retinoblastoma.
  • A retinopatia da prematuridade é uma das principais causas de cegueira e baixa visão na infância nos países em desenvolvimento. Sua prevenção começa também no pré-natal com a prevenção do parto prematuro. O rastreamento adequado, dentro dos protocolos estabelecidos para cada região, permite realização de tratamento em tempo hábil, quando indicado, prevenindo o descolamento de retina (quadro de difícil resolução em tão tenra idade).
  • Nas populações mais carentes ainda encontramos deficiência visual devido a cicatrizes corneanas por deficiência de vitamina A e sarampo, doenças de fácil prevenção com políticas de saúde adequadas.

Considerando que muitas das patologias acima também estão implicadas nas causas de mortalidade infantil; que, se pensarmos em anos de cegueira/baixa visão na infância, esse número é muito maior do que no idoso; que crianças com deficiência visual apresentam atraso em todos os aspectos do desenvolvimento (motor, de linguagem, afetivo, cognitivo, etc.); que 80% das informações que recebemos do meio ambiente vêm através da visão, podemos perceber o grande impacto que as deficiências visuais, em qualquer grau de severidade, provocam na vida das crianças e suas famílias. Cabe a nós, profissionais da saúde, envolvidos no atendimento pediátrico, alertar e orientar a sociedade e gestores públicos sobre a importância do atendimento preventivo e curativo dessas patologias.

 

Dra. Viviane Lanzelotte

Outubro / 2019