*”Entre a cadeirinha, o patinete e o tapete mágico”

Entre a cadeirinha, o patinete e o tapete mágico”.

 

O matemático e filósofo francês Blaise Pascal (1623-1662), além da máquina aritmética precursora da calculadora, foi o pioneiro no transporte urbano, desenvolvendo um sistema de carruagens em Paris, com itinerários fixos, tarifas e horários regulares. O filósofo sugeriu ao Duque de Roaunez pedir permissão ao Rei Luís XIV para explorar o serviço, no que foi atendido. As pessoas, que inicialmente se deslocavam a pé, passaram a ter sete carruagens e três trajetos. Foi um sucesso, mas veio acompanhado de críticas pelas longas filas de espera e poucos veículos. Queixas bem atuais!

Pascal com saúde precária não resistiu ao seu invento e, no mesmo ano de lançamento, veio a falecer.

 

Porque conto essa historia? 

É de longa data o desejo de melhorar a qualidade de vida e a saúde, encurtando distâncias, quer seja a pé ou através de algum meio de transporte seguro para todos, incluindo nossas crianças.

 

 

Os acidentes de trânsito figuram como causa principal de morte entre zero e quatorze anos, 36% crianças como passageiros,  resultando em três mortes por dia, 1200 por ano. Desde 2008, com a resolução 277, se iniciou a aplicação prática, chamada “Lei da Cadeirinha” e avançamos muito.

Segundo a OMS as cadeirinhas e dispositivos de segurança reduzem 70% das mortes entre bebês e 54% a 80% das mortes de crianças. 

 

 Normas vigentes (SBP, MS e Denatran):

– Os produtos devem conter o selo do INMETRO, seguir suas indicações e experimentar antes da compra.

– Bebês até um ano de idade (máximo até 13 kg) no bebê conforto, de costas para o banco dianteiro.

– Crianças de um ano até quatro anos de idade (peso máximo até 18 kg), cadeira de segurança voltada para frente, na posição vertical, no banco de trás. 

– Crianças com idade superior a quatro anos ou igual a sete (peso de18 a 36 kg ou até 1,45 m) devem utilizar um assento de elevação preso no banco traseiro. Esse assento permite que ela tenha altura para poder usar o cinto de segurança de três pontos.

– Crianças entre 7 anos e meio e dez anos devem usar apenas cinto de segurança no banco de trás.

 

Somos responsáveis pelos bons exemplos que possam resultar num aprendizado sadio para as crianças. As referências, a paz no conviver, falar, respeitar, andar, se exercitar, comer, vestir, estudar e valorizar a família, a saúde, a escola, a inclusão, sem discriminação, melhorando as perspectivas de qualidade de vida própria e da comunidade. 

Fato interessante é que, segundo o MS e o IBGE, apenas 50% da população adulta afirmam usar sempre o cinto quando no banco traseiro e que 79,4% o utilizam no banco dianteiro. Entre escolares, segundo a  pesquisa nacional da saúde do escolar (Pense), 19,7% não utilizam no banco da frente e 30,7% no banco de trás. Portanto  o descontrole de uso do cinto e da cadeirinha torna vulnerável a criança, com efeitos desastrosos em todos os sentidos. Temos necessidade cada vez maior de repensar coletivamente os meios de mobilidade urbana por questões de espaço, poluição, longevidade da população e qualidade de vida. Precisamos andar mais para chegar mais longe com saúde física e mental e que nossos pequenos, dependendo diretamente de nossas atitudes, sejam criados em espaços livres, valorizando a natureza, o meio ambiente e fortalecendo a cidadania. 

Hoje temos as ciclovias, as calçadas compartilhadas, as ruas e uma mistura significativa de caminhos com interface obrigatória de diferentes meios de transporte. Temos trem, ônibus, carro, táxi, van, moto, scooter, carrinho de bebê, velocípede, bicicleta, bicicleta com cadeira de criança, bicicleta elétrica, carrinho elétrico, patins, skates, longboards ou pranchas, patinetes e patinetes elétricos ou e-scooters, segways, uniciclos, cada um desses no espaço regido por uma normativa e alguns não regulamentados.  O excesso de oferta aumenta seu risco e pode ser um problema, como acontece na China, que possui dez milhões de bicicletas espalhadas por mais de trezentas cidades e já possui cemitérios delas. Os engenheiros responsáveis pelo planejamento urbano têm planos futuros baseados em experiências bem sucedidas em algumas cidades com sistemas de transporte multimodais, ampliando as calçadas e ruas compartilhadas, reduzindo os veículos solitários. E estamos bem próximos daqueles veículos com comando de voz e coletivos conduzidos remotamente. Já iniciamos esse processo aqui no Brasil com a entrada dos metrôs, BRT, VLT num passado recente.

 

O que precisamos?

 Educação, segurança, investimentos, manutenção, pistas e calçadas sem buracos, niveladas, bem sinalizadas, acessíveis aos cadeirantes e pessoas com necessidades especiais, estímulo para mudar e controle para essa reorganização urbana, da parte de nossos representantes e das leis. Dependemos muito uns dos outros para evitar os acidentes, da consciência, da ética, do respeito ao próximo e pela vida. Ainda temos muito a fazer, mas alguns pontos são muito importantes: estar habilitado para dirigir responsavelmente na rua ou na calçada, sem usar o celular para falar ou digitar, sem beber, dentro das faixas e dos limites de velocidade estabelecidos e nas direções sinalizadas, usando os equipamentos de segurança próprios, como capacete, óculos e protetores de nosso corpo. E também sendo amigável, cedendo, respeitando os animais e contando com o cuidado dos seus donos, encontrando as menores distâncias para se chegar mais longe. 

 

É de grande importância a inserção desses temas na grade curricular escolar e a família recomendar e reforçar junto aos filhos. O pediatra representa o link perfeito e deve exercê-lo nas consultas de rotina.

 

Ah, e o tapete mágico?  Dá um bom começo de história para contar às crianças sobre os meios de transportes. Era uma vez …

 

Dr. Abelardo Bastos Pinto Jr

Departamento de Saúde Escolar da SOPERJ 

 

Junho / 2019