Hipertensão Arterial na Infância? E criança tem pressão, doutor??

Autor:Fátima Leite

Á primeira vista parece uma pergunta sem sentido, mas, infelizmente, ainda muito freqüente nos consultórios de cardiologia e nefrologia pediátrica, onde a aferição da pressão arterial é realizada de rotina em todos os pacientes. Não sei onde se perdeu o hábito de aferir a pressão arterial das crianças, pois ela é parte do exame físico, tal qual a aferição do pulso arterial, a realização da ausculta pulmonar ou o exame da orofaringe, este por sinal muito mais incômodo ao paciente do que a aferição da PA. A revisão deste conceito é essencial, pois especialmente nos dias atuais, quando a violência, a era dos videogames e do fast food, nos apresenta toda uma geração de crianças cada vez mais obesas, hipercolesterolêmicas e hipertensas.
Não há muito tempo que as brincadeiras de criança eram na rua, onde eram gastas as energias em piques, cordas e bicicletas na porta das casas. Comer nesta época, só por pura necessidade, pois as crianças estavam muito ocupadas para comer algo além do essencial. Hoje, não é mais assim, as crianças vivem dentro de casa com medo da violência e “na falta de coisa melhor para fazer e na presença de muita propaganda” comem quilos de coisas doces ou gordurosas, bebem litros de refrigerantes e passam suas horas em frente ao computador e à televisão. A conseqüência deste novo hábito cultural é obesidade e sedentarismo, dois fatores de risco antes raros para hipertensão na infância. Mesmo assim, ainda são poucos os pediatras que aferem de rotina a PA, mesmo nos consultórios.
Nos últimos anos diversos trabalhos vêm mostrando o crescimento da incidência de hipertensão arterial essencial na infância. Em estudo realizado na rede pública de Florianópolis 12% das crianças entre 7 e 12 anos apresentavam hipertensão arterial especialmente na presença de obesidade ou sobrepeso. Em revisão de prontuário de pacientes do ambulatório da UNIGRANRIO 65% das crianças tinham a PA aferida a partir de 3 anos de idade, e este índice de aferição foi considerado muito bom. Em questionário realizado no último CONSOPERJ, observa-se que a situação da aferição da PA ainda é pior nos hospitais públicos e postos de saúde, onde a falta de manguitos de tamanho adequado praticamente impede a prática desta rotina.
É importante lembrar que a hipertensão arterial crônica é doença de alta morbidade, tendo como complicações os acidentes vasculares encefálicos, a insuficiência renal crônica e a insuficiência cardíaca, além disso, é fator de risco importante para doença coronariana, uma das doenças de maior mortalidade no mundo! Portanto a sua prevenção é essencial e seu diagnóstico precoce fundamental.
Assim, temos que começar a responder para as mães: “É claro que criança tem pressão e inclusive hipertensão! É por isso que vou aferir a do seu filho agora mesmo!”.

Fonte:SOPERJ