O Pediatra

Autor:Abelardo Bastos Pinto Jr – Presidente do Comitê de Saúde Escolar da SOPERJ

Sempre estivemos ligados ao futuro mas antigamente essa responsabilidade quase que desaparecia na adolescência quando nosso “ex-pacientinho” quase não adoecia fisicamente, lidávamos mais com o presente, hoje com o desenvolvimento e ampliação do papel pediátrico, englobamos desde a perspectiva de constituir uma família até a sua concretização e mais o acompanhamento de sua entrada na vida adulta. Temos importância fundamental na formação de opinião, nas condutas de interface com outros especialistas, para garantir um momento de parto seguro e humanizado, de estimular ainda gestacionalmente as relações com aquele ser em formação, de estar presente desde a gravidez a hora do parto, de promover o aleitamento materno , o acompanhamento do desenvolvimento e da responsabilidade de intervenção o mais precocemente possível para garantir uma performance motora e cognitiva compatível com um crescimento saudável. Estamos presentes nos momentos difíceis tais como a entrada precoce do lactente na creche ou na escolinha, na introdução de novos alimentos que hoje funcionam como gatilhos na obesidade e doenças cardiovasculares, no reforço de medidas de segurança quando a mãe menos assistida deixa o menor em companhia do filho mais velho sozinho em casa para poder trabalhar, nas questões familiares já que houve uma transformação imensa da sociedade nessas últimas décadas quando muitas mães assumiram o papel de chefes de família e pais viraram “pães”. Assistimos e participamos orgulhosos dos benefícios da hidratação oral, das campanhas públicas de vacinação, dos programas de assistência integral a saúde da criança que nos qualificava com visão de saúde pública e tantos outros que se sucederam até hoje; essa ampliação sempre promovida pela Sociedade Brasileira de Pediatria e suas afiliadas, valorizando cada vez mais o TEP como a ” certidão de nascimento” do Pediatra. Hoje com a valorização do pré-natal, dos recursos laboratoriais, dos procedimentos preventivos precoces tais como vacinas, exame do pezinho, exame de audição, da visão e a presença do pediatra na sala de parto, consolidamos nosso papel. Criamos uma relação médico-paciente que nos tornou espontaneamente o médico de família, com o surgimento das subespecialidades, nos integramos mais, criamos mais recursos, somos invocados para referencia para os pais até os avós, tamanha a importância que conquistamos; enveredamos pelo pré- e pelo escolar quando em cumplicidade com os profissionais da educação desmedicalizamos, atuamos nesse novo contexto de escola que também teve que se transformar para se adequar aos novos tempos mantendo os limites claros entre aluno e filho e crescemos em direção ao adolescente desistigmatizando-os e lhes dando a importância merecida numa sociedade de poucas referências, muita violência, drogas, exploração, muita omissão, muita subtração da infância, pouco esporte e família e muita precocidade. Vejo com profundo respeito esse nosso papel crescendo e se ampliando cada vez mais, temos muito a fazer ainda, vou citar Coelho Neto que filosofava “ser mãe é andar chorando num sorriso… ter um mundo e não ter nada… é padecer num paraíso” e assim somos nós pediatras trabalhando entre o tudo até em excesso e o nada por falta absoluta, somos fortes, temos que ter a consciência que qualquer gesto, qualquer palavra, qualquer atitude, pode significar a única esperança daquele necessitado social, mesmo naquelas condições de trabalho que aceitamos pelo amor a profissão, a família, a cidadania e a dignidade humana, Deus nos proteja sempre.

Fonte:SOPERJ