Orientações sobre transfusão de concentrados de plaquetas no dengue

Autor:Comitê de Oncohematologia

Segundo o Ministério da Saúde, nos últimos 10 anos, foram notificados no Brasil mais de três milhões de casos de dengue1. Portanto, é preciso suspeitar da doença, reconhecer os “sinais de alerta”, notificar qualquer caso suspeito, e, confirmar e decidir a tempo as condutas terapêuticas mais adequadas. As orientações básicas a respeito de cada uma destas questões podem ser encontradas no site (www.saude.gov.br/svs) ou no material enviado aos médicos pelo Conselho Federal de Medicina.
Cerca de 25% dos casos de dengue cursam com plaquetopenia, cuja causa é multifatorial. Envolve tanto uma coagulopatia de consumo como um quadro imunológico com a presença de anticorpos antiplaquetários que levam à destruição das plaquetas no sangue periférico2,3. Os estudos sobre o tema mostram que a gravidade da plaquetopenia se correlaciona mal com a incidência de sangramentos4.
A transfusão de concentrados de plaquetas (CP) só deve ser realizada na presença de hemorragias ativas, com risco de vida, ou nos casos com manifestação sugestiva de hemorragia intracraniana, com contagens de plaquetas abaixo de 50000/mm3. A monitorização clínica e laboratorial deve ser cuidadosa. A dose recomendada é de 1U de CP/5-10Kg, a cada 8-12h, geralmente por 24h5,6. Apenas 0,4% dos pacientes com diagnóstico de dengue hemorrágico precisam receber transfusão de concentrados de plaquetas 6.
Segundo a Resolução RDC nº 129 da ANVISA, de 24 de maio de 2004, não há indicação para a transfusão profilática de plaquetas, independentemente da contagem de plaquetas no sangue periférico7. Esta prática não mostrou aumento significativo da contagem plaquetária, nem diminuição da incidência de sangramentos, e pode piorar o quadro de coagulação intravascular disseminada.4,5
1. www.saude.gov.br/svs, em 25 de janeiro de 2008.
2. Green S, Rothman A. Immunopathological mechanisms in dengue and dengue hemorrhagic fever. Current Opinion in Infectious Diseases 2006, 19:429-436.
3. Saito M, Oishi K, Inoue S et al. Association of increased platelet-associated immunoglobulins with thrombocytopenia and the severity of disease in secondary dengue virus infections. Clin Exp Immunol 2004; 138:299-303.
4. Chaudhary R, Khetan D, Sinha S et al. Transfusion support to Dengue patients in a hospital based blood transfusion service in north India. Transfusion and Apheresis Science 2006; 35:239-244.
5. Lum LCS, Abdel-Latif MEA, Goh AYT et al. Preventive Transfusion In Dengue Shock Syndrome- Is It Necessary? J Pediatr 2003; 143:682-4.
6. Singhi S, Kissoon N, Bansal A. Dengue and dengue hemorrhagic fever: management issues in an intensive care unit. J Pediatr (Rio J).2007;83(2 Suppl):S22-35.
7. Resolução RDC nº 129, de 24 de maio de 2004
Doe sangue, você pode salvar uma vida!
SOPERJ – Comitê de Oncohematologia – Janeiro de 2008