Palavra do Presidente

Caros colegas pediatras,

Iniciamos o segundo ano de nossa gestão à frente da SOPERJ com muitos planos. Pretendemos incrementar a educação à distância, por meio de parceria com a Rede RUTE (Rede Universitária de Telemedicina) e com a TeleSSaúde UERJ, iniciaremos nossa pesquisa sobre a cartografia dos pediatras do Estado do Rio de Janeiro e continuamos na luta pelo exercício ético da pediatria e valorização do médico pediatra.

Vários eventos de educação continuada já estão divulgados no site da SOPERJ, para que os colegas possam organizar suas agendas, com destaque para o 12º Congresso Brasileiro Pediátrico de Endocrinologia e Metabologia, de 31 de maio a 3 de junho, e o XII Encontro de Atualização em Pediatria da Zona Oeste, de 4 a 5 de agosto.

Dito isto, gostaria de pedir licença a meus colegas para abrir o meu baú e publicar aqui trechos de um texto que escrevi há alguns anos, e ao qual sempre recorro quando desanimo. Penso que será útil aos colegas, pois já vislumbramos 2017 como um ano difícil para todos. O texto fala de o que é, para mim, ser médico. E ser médico pediatra. Sei que cada um tem sua história, mas que muitas de nossas histórias se aproximam.

Ser médico… fico tentando me lembrar o que eu pensava, quando, em torno de 16 anos de idade, resolvi ser médica… Não me lembro de nada, nada mesmo… Lembro que sempre quis ser professora primária, ensinar crianças a ler era meu grande sonho. Lembro que queria muito ser arquiteta, quando no final do antigo primeiro grau, segui a área tecnológica, no segundo grau. Lembro que gostava muito de matemática, e que meus pais estavam construindo a casa dos sonhos deles, tinha um arquiteto, e me seduziu bastante o seu trabalho. Mas quando resolvi ser médica… realmente não me lembro. Só me lembro de minha mãe dizendo que eu devia fazer engenharia… mas onde estava a poesia da engenharia? Acho que aí pensei: bem, tem mais poesia na medicina. Tem mais humanidade. Afinal, gostar de matemática não é querer respirar números para o resto da vida… Só me lembro desses pensamentos. Mais nada.

Fico tentando me lembrar… meu pai é médico, isto talvez tenha pesado na minha escolha. Minha mãe é professora primária, da época áurea das normalistas do Instituto de Educação. Antes, penso na minha formação religiosa, católica. No Colégio São José, ia a orfanatos, tinha uma vontade enorme de cuidar daquelas criancinhas, gostava de me misturar com elas, ficava querendo saber se estavam com saúde, felizes… será que isso influenciou? Bem, não sei.

Fiz vestibular, passei para a UERJ, toda orgulhosa. O curso de medicina é especial. Acho que eu seria outra pessoa se não fosse a faculdade… e se não fosse médica… E ali me tornei médica. Lembrando agora, acho que não tive um só dia em que fui infeliz durante a graduação. Adorava acordar para ir para a UERJ, adorava o convívio com meus colegas, com os professores. E ali fui me tornando médica. Mas não dá para pensar muito sobre a profissão durante o curso. Ouvimos falar que é mais que carreira, que é sacerdócio, mas no dia seguinte tem prova de anatomia, e depois de fisiopatologia, farmacologia… minha turma assistiu aos últimos anos da ditadura… vêm as provas de semiologia, de cardiologia… o internato, a escolha da especialidade… a prova de residência médica junto da formatura… e ainda não tivemos tempo de pensar o que é ser médico. Até que nos tornamos médicos.

Será que ajuda ler o juramento de Hipócrates? Acho que talvez seja por isto, por não sabermos bem o que é ser médico até que o somos, que todo formando de medicina fica lendo o juramento de Hipócrates… Eu fiquei lendo, e lendo, e tentando me ver naquelas palavras: promessa, arte de curar, fidelidade, honestidade, caridade, ciência, entrar na intimidade das pessoas, sigilo, revelações, preceitos, honra, costumes, vida, arte de novo, reputação, homens. E a palavra ARTE aparecendo duas vezes. Então é isto, aí é que está o cerne, na ARTE. Médico é ator, artista, artesão…

E as palavras de Hipócrates dizem, afinal, tudo o que é ser médico.

Acordo de manhã, vou para o Hospital Universitário Pedro Ernesto, depois para o consultório, e agora para a SOPERJ, chego em casa e estudo… não sou professora de crianças, mas ensino pediatria, ensino sobre saúde de crianças a futuros médicos. Olha a responsabilidade, além de ser médica, formo médicos. E agora, presidente da SOPERJ… e olha… ainda me pergunto o que é ser médico, e, até hoje, leio o juramento de Hipócrates, para saber do que se trata. E a cada dia vivo uma das facetas desta carreira fascinante. Sinto-me muito gratificada, ao final de cada dia, da minha arte. Acho que medicina se resume a uma única palavra: ARTE.

É isto…

Força para todos em 2017! Quando se sentirem desanimados, venha para a SOPERJ, vamos compartilhar nossas experiências e lutas juntos!

A SOPERJ é de todos nós!