Pediatra: o que seu cliente come na Escola?

Vivemos um momento em que a saúde de crianças e adolescentes está ameaçada por uma alimentação nada adequada. O contexto desse problema é muito amplo, por isso desejamos focar, neste artigo, o consumo de alimentos nas cantinas das escolas.

 

É nessa hora que aparecem, na atitude do aluno, os resultados de uma educação que, desejavelmente, incentiva a autonomia e o espírito crítico. Para decidir sobre o lanche que vai consumir, o aluno precisa ter aprendido o que significa comer bem, através de informações as mais completas e corretas. Além disso, necessita ter acesso a uma variedade de alimentos que satisfaça a seu paladar e a suas necessidades. Só assim poderá fazer uma escolha e exercer sua autonomia. Função básica da família e da escola, a Educação deve sempre ressaltar a nutrição adequada. Se é verdade que a Educação Infantil de qualidade promove a formação de hábitos nutricionais muito saudáveis, numa fase em que a participação dos pediatras é igualmente importante, por que será que depois passam a comer em excesso doces e guloseimas, frituras e carboidratos , desequilibrando sua dieta? Parece que é necessário um processo educativo continuado.

 

Dados para reflexão sobre o problema Recente pesquisa de saúde e nutrição em escolares no Município do Rio de Janeiro mostrou que (a) o déficit nutricional, antes tão importante, não representa um problema tão relevante; (b) a obesidade, apesar de não chegar a ocorrer em magnitude alarmante, mostra tendência de aumento à medida que aumenta a escolaridade materna; (c) a anemia ocorre com uma freqüência de quase três vezes o esperado, havendo concomitância de anemia e obesidade. Nas últimas décadas, a obesidade vem aumentando no Brasil, atingindo adultos de todos os segmentos sociais. Detecta-se cada vez mais crianças e adolescentes com aumento dos níveis de colesterol e com hipertensão arterial. Houve mudanças no comportamento de crianças e jovens, que praticam menos esportes e outras atividades físicas, e passam mais tempo assistindo à televisão, brincando com jogos eletrônicos e dedicando tempo demasiado à internet. Alimentos preparados em casa vêm sendo substituídos pelos industrializados que, mesmo quando são inadequados, são acompanhados de forte propaganda. Crianças e adolescentes são vulneráveis e pouco críticos em relação à propaganda, que estimula o consumo de produtos nem sempre saudáveis. São usados prêmios, coleções de figurinhas e objetos, com esse propósito.

 

O culto à magreza exagerada é outro problema, com conseqüências para a saúde, sendo que bulimia e anorexia nervosa são exemplos extremos. Um único pacote de salgadinhos pode conter toda a necessidade diária de sódio da pessoa. Glutamato monossódico, usado para salgar, tem um gosto peculiar. Provoca ardência na ponta da língua e desencadeia um processo de comer sem parar, levando a ingesta muito aumentada de sódio. Salgadinhos e frituras são feitos, em geral, em gorduras reutilizadas, o que pode congestionar a mucosa do intestino. As cáries têm uma clara associação com o número de vezes que se ingere açúcar durante o dia. Adolescentes e crianças maiores têm forte influência sobre os menores, sendo capazes de mudar um hábito alimentar correto, quanto todos têm acesso à cantina ao mesmo tempo. Os hábitos alimentares das famílias e da sociedade em geral se refletem no que acontece nas cantinas. Seus proprietários alegam que os produtos mais saudáveis encalham, causando-lhes prejuízo. Alimentos naturais precisam ser de boa qualidade, de procedência conhecida e bem higienizados. Produtos industrializados, também.

 

É necessário prestar atenção à integridade das embalagens, prazo de validade, aspecto do produto. Muitas conseqüências da má alimentação na infância e adolescência passam desapercebidas nessas fases, manifestando-se com gravidade na idade adulta, quando medidas preventivas, às vezes, não são mais eficazes.

 

Quais são os prejuízos para a Saúde e suas conseqüências? Obesidade, dislipidemias e hipertensão arterial têm forte associação com alimentação inadequada, trazendo conseqüências muitas vezes desastrosas à qualidade de vida do indivíduo. Mas a lista de agravos à saúde não fica por aí. Devemos considerar as doenças cardíacas, neurológicas, visuais, renais que podem vir em decorrência das três condições citadas acima. Também não podemos esquecer diabetes, alterações posturais e ortopédicas, nem as cáries e o agravamento ou desencadeamento de doenças digestivas (incluindo úlceras, gastrite, doença de Crohn, constipação e suas conseqüências). Algumas formas de câncer se relacionam com erros alimentares, bem como está comprovado o efeito protetor (anticancerígeno) dos antioxidantes de certos alimentos. Finalmente, embora não complete a lista, citamos os problemas de ordem emocional e social que estão intimamente relacionados com alimentação inadequada.

 

Qual seria um lanche ideal na cantina da Escola? O lanche deve ser gostoso, prazeroso, até porque experiências emocionais do ser humano estão intimamente relacionadas com a alimentação. O lanche complementa a alimentação que, como sabemos, deve ser variada e equilibrada. Oferece energia necessária para levar bem as atividades restantes no turno de estudo. No entanto, por seu valor calórico ou pela quantidade, não pode interferir com a refeição seguinte, seja o almoço ou o jantar. É possível compor um lanche nutritivo e saboroso sem radicalismos. Se a criança é saudável, há mais opções, inclusive a de oferecer doces, chocolates e refrigerantes