Síndrome de Prader-Willi

CID associado: Q 87.1

A Síndrome de Prader-Willi (SPW) é uma condição geneticamente determinada. Sua prevalência é de 1:12.000 a 1:15.000, acometendo ambos os sexos e sem predileção por cor ou raça. As características principais da SPW são a hipotonia neonatal, a hiperfagia de difícil controle e déficit global do desenvolvimento em graus variáveis. O acompanhamento médico visa principalmente o controle de peso, visando impedir a obesidade e suas complicações.

Na infância, a SPW é caracterizada por hipotonia severa (bebê muito “molinho”), dificuldade de alimentação e criptorquidia (testículos fora da bolsa escrotal). A hipotonia melhora com o tempo; a dificuldade alimentar do lactente geralmente se resolve no primeiro ano de vida, e, entre 1 e 6 anos, a criança com SPW desenvolve apetite exagerado, levando a obesidade em muitos casos.

A maioria das crianças com SPW apresenta atraso no desenvolvimento motor e da linguagem, podendo evoluir para déficit de aprendizado. Distúrbios do comportamento incluindo desordens obsessivo-compulsivas, depressão e má adaptação às mudanças na rotina devem ser monitorados, podendo ocorrer, geralmente, a partir da adolescência ou na vida adulta.

Outras anormalidades associadas à SPW são a baixa estatura, escoliose, osteoporose e dismorfias, que incluem diâmetro bifrontal estreitado, olhos amendoados, nariz afilado, cantos da boca inclinados para baixo, mãos e pés pequenos.

A SPW é geneticamente determinada e causada pela não-expressão de genes paternos em uma pequena região do braço longo do cromossomo 15 (15q11.2-q12). Três tipos de alterações podem levar a esta situação:

1) Microdeleção: perda de uma parte do cromossomo 15, observada em aproximadamente 70% dos casos;

2) Dissomia uniparental: duas cópias do cromossomo 15 seriam de origem materna. Esta situação acontece em aproximadamente 25% dos casos;

3) Mutações no centro controlador da impressão genômica: em raros casos (menos de 5%), o paciente apresenta a estrutura do cromossomo 15 e a origem dos cromossomos normais, mas há falha no mecanismo de metilação do DNA – que é o responsável pela impressão genômica visto que determina alteração da expressão dos genes – funcionando como uma deleção.

A SPW, na grande maioria dos casos, ocorre de forma esporádica, sendo a probabilidade de recorrência muito baixa para casais com um filho afetado (menor que 1%). A maioria dos pais pode ser tranqüilizada quanto a futuras gestações sem a necessidade de investigação pré-natal. Devido, porém, a relatos na literatura médica de casos familiares, a estimativa dos riscos de recorrência será individualizada para cada família, com base nos resultados dos exames específicos. É possível efetuar a investigação pré-natal para SPW através de cariótipo de alta resolução ou análise molecular do DNA.

Rotina recomendada para acompanhamento médico

A pessoa com SPW deve manter acompanhamento médico periódico. Além da rotina recomendada para cada faixa etária, alguns tópicos relevantes são ressaltados a seguir.

Endocrinologia

• Controle da obesidade. Não há medicação disponível para o tratamento da hiperfagia. É necessário que se institua um programa de exercícios e que o consumo de calorias seja significativamente reduzido. É muito importante a participação familiar. Os alimentos devem ficar em locais inacessíveis ao paciente. A obesidade mórbida (felizmente pouco comum nos dias de hoje) é uma complicação que deve ser evitada, sendo causa de morte nos pacientes com SPW em função da doença cardiopulmonar. Atenção especial deverá ser dada com respeito à resistência periférica à insulina.
• Avaliação hormonal. Avaliação de disfunção hipotalâmica e necessidade de terapia medicamentosa. Qualquer menino que esteja se desenvolvendo razoavelmente bem deve ser considerado para uma terapia completa de reposição de testosterona, uma vez que sua própria produção usualmente é inadequada. Cerca de 60% das mulheres apresentam amenorréia (ausência de menstruação); as demais começam a menstruar entre 10 e 28 anos, sendo a idade média 17 anos. A reposição de hormônios sexuais promove o desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários, mas freqüentemente piora os distúrbios do comportamento em homens e aumentam o risco de infarto em mulheres.

Genética

• Consultas para investigação e confirmação diagnóstica;
• Aconselhamento genético da família;
• Revisões periódicas em momentos específicos:
– Início da fase escolar (6-7 anos)
– Pré-adolescência (12 anos)
– Adolescência – periodicidade das revisões estabelecida de acordo com a necessidade.

Oftalmologia

• Avaliação de miopia (25%) e estrabismo (40 – 95%).

Odontologia

• Avaliação periódica em função de má – oclusão dentária e maior risco de cáries (pela diminuição da saliva e alimentação rica em carbohidratos).

Acompanhamento multidisciplinar

• Problemas de comportamento. A avaliação periódica do comportamento é um dos aspectos mais importantes do acompanhamento da SPW. Nos pacientes, no final da infância, podem surgir distúrbios de comportamento em que se incluem a teimosia e respostas raivosas. A persistência verbal em tópicos favoritos é freqüente. Em relação à alimentação, os problemas incluem apetite excessivo, ausência da sensação de saciedade e obsessão por comida.
• Sono. Aproximadamente 50% dos pacientes apresentam distúrbios do sono, incluindo a apnéia do sono.
• Atraso motor. A idade média de sentar sem apoio é de 12- 13 meses e de andar 24- 30 meses.
• Déficit de aprendizado com atraso na linguagem. A idade média para falar palavras soltas é de 21- 23 meses e para formar frases de 3 anos e 6 meses.

Anestesia

• O refluxo pode levar a broncoaspiração de conteúdo gástrico durante a anestesia mesmo após 10 horas de jejum. Em caso de necessidade de cirurgia, são recomendações para a anestesia geral: a redução