SOPERJ participa de seminário sobre SAF no CREMERJ

 

A Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro (SOPERJ) marcou presença no Seminário Síndrome Alcoólica Fetal (SAF), um problema subestimado de Saúde Materno-Infantil, realizado no auditório Júlio Sanderson, na sede do CREMERJ, na praia de Botafogo, no último dia 18 de setembro. As pediatras Leda Amar de Aquino, da diretoria da SOPERJ e Coordenadora da Campanha #gravidezsemalcool  no RJ, Patrícia Correia, do Comitê de Genética, Lívia Borgneth, do Comitê de Atenção Integral ao Desenvolvimento e Reabilitação, Maria Marta Tortori, Ana Lucia Figueiredo e Laura Afonso Dias, todas do Comitê de Perinatologia, representaram a Sociedade no evento, que reuniu médicos e outros profissionais interessados em debater a doença.

Na abertura do Seminário, o presidente do CREMERJ, Nelson Nahon, ressaltou a importância de se discutir este assunto entre os médicos, fato que foi reafirmado pelos conselheiros Sidnei Ferreira e Vera Lúcia Mota da Fonseca. "A proposta é saber quais são os mecanismos que serão lançados para que outros colegas tenham conhecimento e outras ações de prevenção sejam feitas em relação a esta patologia. Esse seminário é para que saiamos daqui mais conscientes dessa possibilidade de diagnóstico e prontos a tentar diferentes ações de prevenção, seja dentro do CREMERJ, nas sociedades, universidades ou até nos consultórios, onde se pode diretamente atuar com orientação e ajuda aos pacientes”, disse Vera Lúcia na abertura do evento.

As profissionais que representaram a SOPERJ no seminário esclareceram que há um total interesse da entidade em trabalhar de forma conjunta com todos os que estão empenhados na campanha pela redução dos problemas causados pela ingestão de álcool durante a gravidez. "A SOPERJ está à disposição de todos para que, juntos, possamos planejar ações coordenadas e potentes", disse a dra. Leda Amar de Aquino. Segundo a diretora da SOPERJ, a ingestão de qualquer tipo e quantidade de bebida alcoólica durante a gravidez pode acarretar problemas graves e irreversíveis ao bebê. "Eles podem revelar-se logo ao nascimento, ou mais tardiamente, e perpetuarem-se pelo resto da vida. 

Esta avaliação é compartilhada pelo neurologista José Mauro Bras de Lima. Em sua palestra, o médico ressaltou que a SAF é uma doença que atinge todas as áreas da classe médica, inclusive a área do ensino médico, pois envolve a questão das políticas públicas. "A SAF é uma doença, pois tem um agente etiológico, que é o álcool; tem um órgão que vai sofrer com esse agente etiológico, que é o feto; e tem também o mecanismo, porque o álcool é uma substância toximetabólica. O feto toma álcool na artéria. O álcool penetra no organismo de forma imediata. É uma substância que se dilui na gordura, dilui na água, não tem barreira, atravessa a placenta e vai direto para o cordão umbilical. Enquanto a mulher bebe pela boca, o feto toma uma injeção na artéria umbilical. E o feto está em formação. Isso pode causar um estrago de grandes proporções. E somente três por cento dos pediatras tem essa noção", afirmou o médico.

Estudos indicam que, no Brasil, em torno de três milhões de grávidas dão à luz por ano a crianças sadias. Diante desse número, segundo os médicos, pode se estimar que, no Brasil, há pelo 30 mil casos de SAF por ano diagnosticados de maneira efetiva. Isso significa que a cada hora pode-se imaginar o nascimento de 340 crianças e, dessas, de três a quatro estão com SAF.

O fato de a SAF não estar sendo percebida por grande parte dos médicos é uma preocupação entre os profissionais engajados na luta para a eliminação da doença. Para o neurologista José Mauro, não existe um exame complementar específico, nem um marcador genético que possa dar aos médicos uma pista para o diagnóstico. Ele relatou que criou o primeiro ambulatório de SAF no Hospital Universitário, em 2002, quando montou uma equipe multidisciplinar. O neurologista esclareceu que as consequências da doença podem ser imensuráveis. "O perfil clínico é muito variado, assim como as características. Às vezes a ingestão de álcool pode levar até a um natimorto. E isso traz um impacto na saúde pública", relatou.

Todos os médicos compartilham da ideia de que a única solução para a SAF é a prevenção, que a SAF é uma doença 100% evitável. "Sem álcool não existe SAF. Por isso a importância de incentivar as políticas públicas. Não há uma dose mínima pois não há uma dose segura. A dose segura é zero álcool", concluiu o palestrante.

A neonatologista Luciana Araújo falou sobre sua prática no trato de crianças com SAF. Ela apresentou a sua experiência no ambulatório da Baixada Fluminense, quando começou a observar transtornos comportamentais nas crianças e, pela anamnese, fez a associação com a síndrome. Foi por meio da anamnese que ela descobriu que as mães haviam ingerido álcool durante a gravidez.

A psicóloga Vanessa Karan, do Departamento de Saúde da Marinha, falou sobre os aspectos neurocognitivos, os distúrbios comportamentais e os desafios da saúde e da educação, um estudo de mestrado feito por ela na UFRJ. Segundo a psicóloga, muitas vezes há diagnósticos que são subnotificados nas formas leves da SAF, como deficit neurocomportamental, deficit no crescimento e características faciais. "São diagnósticos muitas vezes confundidos com autismo ou deficit de atenção e que muitas vezes não são vistos como pessoas que tiveram exposição alcoólica fetal", alertou a psicóloga.