SOPERJ responde com flores e homenageia médicos que cuidaram do bebê Arthur

A Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro (SOPERJ), prestou homenagem às equipes dos hospitais Adão Pereira Nunes e Moacyr Rodrigues do Carmo, ambos em Duque de Caxias, na noite desta quinta-feira, dia 10.  Num clima de muita emoção, os profissionais que tentaram durante 30 dias salvar a vida do bebê Arthur receberam uma menção honrosa e orquídeas, no evento que celebrou o Dia do Pediatra.

“Essa homenagem é para o hospital inteiro que ajudou de sobremaneira esse bebê. O que foi feito com o Arthur, foi literalmente por meio do Sistema Único de Saúde e é o que acontece com todo paciente que entra, pelo menos na unidade onde eu trabalho”, falou, emocionado, o pediatra Eduardo de Macedo Soares, chefe da UTI Neonatal do Adão Pereira Nunes, hospital onde o pequeno Arthur lutou pela vida durante 30 dias.

“A SOPERJ responde com flores”, disse a presidente da entidade, Isabel Rey Madeira, ao reconhecer o trabalho dos médicos Eduardo de Macedo Soares, Glaucia Martin Pereira Debernardo, Jacqueline Miguez Salles, Luiz Miller e Claudia Teixeira Trannin. Segundo a presidente, todos merecem uma menção honrosa por conta "dessa pecha que colocaram no médico de dizer que fingem que trabalham", comentou. “Houve manifestações de várias instituições. E essa é a resposta da SOPERJ em reconhecimento ao trabalho desses profissionais. Não adianta a gente ficar só lamuriando. Temos de partir para ações afirmativas, mostrar outras coisas e não só ficar se queixando e lamentando. Este é um evento intimista porque o objetivo é comemorar o Dia do Pediatra, mas é também para homenagear essa excelente equipe”, afirmou Isabel Rey Madeira.

Arthur foi baleado durante um tiroteio na Favela do Lixão, em Duque de Caxias, quando ainda estava na barriga da mãe. Ele morreu no dia 30 de julho, depois de apresentar piora do seu quadro clínico, em decorrência de uma hemorragia digestiva intensa. O pediatra Eduardo Soares, se emocionou ao falar do bebê.

"Foram 30 dias de extrema emoção. Posso falar até mesmo pela equipe. Ninguém nunca tinha visto um caso como aquele. Foi um caso único que demandou muito estudo nosso, muita paciência com as coisas que aconteciam com o bebê, porque era um bebê extremamente grave. Nesse caso, não havia protocolo. A gente tinha de viver literalmente um dia após o outro. Não foi somente a equipe da UTI, mas a equipe do hospital inteiro se mobilizou para ajudar a gente nesse caso. Como o quadro dele foi estabilizado, principalmente pela equipe do Moacyr do Carmo, que já entregou pra gente um paciente estabilizado, a gente conseguiu trabalhar um pouco melhor. Sempre foi um paciente extremamente grave. Chegou completamente desenganado. Mas a gente viu todo o esforço feito. De todas as equipes: da neurocirurgia, da cirurgia pediátrica, da UTI neonatal do Adão Pereira Nunes. A gente conseguiu fazer muita coisa com ele que nem pensava que pudesse acontecer”, contou emocionado para, em seguida, falar sobre o que considerou o pior momento no caso.

 “O momento mais difícil foi quando me ligaram às 6h30 da manhã de domingo falando que o Arthur estava sangrando sem parar. Aquele foi o pior momento. Dali, eu não parei mais. O paciente grave, às vezes, tem complicações que a gente não espera. E infelizmente a hemorragia digestiva é uma delas. Nunca na minha vida eu tinha visto algo semelhante. Esse foi o caso mais difícil que peguei na minha vida”, lembrou.

O Diretor do Conselho Federal de Medicina (CFM) e secretário geral da SBP, conselheiro Sidnei Ferreira, também falou sobre o caso do bebê Arthur: “Na verdade, o bebê já nasceu dentro de um ato de violência, foi muito marcante e a atuação da equipe, não só a pediátrica, mas a gineco obstetra, os intensivistas, com todas as dificuldades que temos com relação a recursos humanos, materiais, de insumos, é inquestionável. Com todo o desleixo do governo. Esse governo que ofende o médico, a dignidade do médico e da população. Tudo isso não impediu que essa equipe trabalhasse fora do seu horário e fora de qualquer protocolo. Salvaram a vida da criança, que, infelizmente veio a falecer por uma complicação inerente ao caso. Apesar de tudo, esse caso mostrou que ainda existe, e sempre existirá, a humanidade na Medicina, a humanidade na população e a solidariedade entre nós, pessoas comuns que vivemos a mesma violência e as mesmas deficiências e os mesmo desmandos governamentais.  E o médico é quem mais sofre com essa questão. Porque ele quer cuidar e não tem condição para isso. Ele quer salvar e muitas vezes não tem como, porque não tem medicamento, o instrumento, o exame que precisa para o paciente. Hoje é um dia de comemoração pelo Dia do Pediatra. Porque o pediatra, como todos os médicos, vai continuar trabalhando pela população independentemente do governo. Vamos sempre trabalhar em prol do paciente, que é nosso objetivo e o juramento que fizemos”, concluiu Dr. Sidnei Ferreira.