Xixi na cama tem explicação

Autor:Debora Meth / Camila du Bocage

Não adianta perguntar se ela já foi ao banheiro, nem aconselhar a não beber muita água antes de dormir. Algumas crianças continuam fazendo xixi na cama. “A enurese noturna, mais conhecida como perda involuntária da urina durante o sono, freqüente entre crianças entre 5 e 6 anos de idade, é classificada por duas fases: primária, quando a criança nunca deixou de molhar a cama; e secundária, quando após um período de seis meses de controle volta a ocorrer a perda urinária”, explica Terezinha Cruz, presidente do Comitê de Adolescência da SOPERJ.
Não identificada como doença, a enurese deve ser encarada como um sintoma. “Não existe uma causa isolada que defina todos os casos de enurese noturna, mas sim causas coexistentes, como fatores genéticos – quando um dos pais foi enurético a chance de o filho ter este sintoma fica em torno de 44% -, ou alteração do sono (o padrão de sono é semelhante aos das crianças saudáveis)”, afirma a presidente do Comitê de Adolescência.
Terezinha Cruz explica que a redução da capacidade da bexiga é um fator relevante, pois cerca de um terço dos pacientes apresenta menor capacidade. “Nestes casos, geralmente ocorrem sintomas diurnos, como aumento da freqüência de micções e escapes urinários”. Segundo a pediatra, o atraso do amadurecimento do sistema nervoso, ainda sem comprovação científica, também pode ser considerado um dos causadores da enurese. “Durante muitos anos pensava-se que transtornos psicológicos eram a causa do escape do xixi, mas novos estudos demonstram que a existência dos distúrbios psicológicos nas crianças enuréticas é semelhante à de crianças sem esse sintoma. O problema é que a persistência do sintoma pode levar a sentimento de culpa, ansiedade ou comprometimento da auto-estima, exigindo tratamento psicoterápico adequado”.
Se a criança ou o adolescente voltar a urinar na cama, após seis meses de controle, o resultado pode derivar do estresse. “Nascimento de um irmão, divórcio, morte de um familiar e até mesmo alguma violência, como abuso sexual, podem ser os causadores da enurese. Por outro lado, um dos motivadores da perda de urina pode ser a ausência da redução da produção noturna de urina (hormônio anti-diurético)”, diz a pediatra.
Se a criança apresenta outros sintomas além da enurese noturna o problema pode ser mais complexo. “Anormalidades de rins, bexiga, infecções urinárias e/ou distúrbios hormonais exigem exames complementares para termos o diagnóstico correto e, se preciso, encaminhar a um especialista. O xixi na cama representa um fardo pesado para a criança e sua família, não só por afetar sua auto-estima e prejudicar seu desenvolvimento, mas também por, talvez, limitar uma série de atividades comuns e importantes dessa faixa etária”, esclarece Terezinha Cruz.
Para tratar, após diagnosticado o problema, o médico escolherá qual o melhor caminho. “As orientações gerais podem ser iniciadas após os 5 ou 6 anos (depende da maturidade da criança) e o tratamento com remédios ou por condicionamento com alarme deve ser iniciado só após os 7 anos. A primeira etapa é orientar a criança e os pais sobre a natureza do problema e sua cura, diminuindo a ansiedade de todos”, completa a presidente do Comitê de Adolescência.
“Uma outra forma é motivar a criança a modificar hábitos que podem predispor a enurese como a retirada de fraldas; evitar líquidos duas horas antes de deitar e alimentos que estimulem a contração da bexiga (chá, café, mate, refrigerantes, chocolate); urinar antes de deitar; diário miccional; resolver problemas de prisão de ventre; treinamento da urina durante o dia. E principalmente o comportamento positivo dos pais, recompensando as noites secas com elogios, carinho, demonstrando alegria. O importante é não castigar, humilhar ou torná-lo motivo de brincadeiras”, conclui Terezinha Cruz.

Fonte:SOPERJ