Março de 2014
O impacto do uso de medicamentos em escolas merece um olhar atento, quando se pensa na repercussão para a saúde da criança e do adolescente. Também é importante ressaltar o quanto o uso criterioso de remédios é relevante como tema de Educação para a Saúde. É comum o uso exagerado de remédios, especialmente nas instituições de Educação Infantil (creches e pré-escolas), onde as crianças podem ter longo tempo diário de permanência. Isso chega a interferir com as atividades pedagógicas, além de potencialmente colocar em risco a integridade das crianças. Por isso, há escolas que não administram medicamentos (se for o caso, a criança falta às aulas durante o tratamento), enquanto outras permitem, com muitas restrições. Mas, pensando bem, há muitas situações em que o estudante precisa ser medicado, embora esteja em bom estado geral, apto para as atividades pedagógicas e para o aprendizado. Nesses casos, é razoável que receba a medicação na própria escola, para não ter sua escolaridade prejudicada por faltar às aulas por tempo prolongado. No entanto, o uso de medicamentos deve ser restrito às situações em que é imprescindível, e cercado de cuidados, a fim de evitar erros e inadequações, que podem ter consequências sérias para a saúde1.
Em geral as creches adotam agendas para anotações diárias, onde a família registra a medicação a ser dada. A análise dessas anotações revela muitos enganos (doses e intervalos errados, concentração da substância ativa diferente em relação à prescrita e até via de administração incorreta). É comum o envio de remédios sem prescrição médica. O pediatra pode contribuir bastante para corrigir tais situações, orientando as famílias a adotarem algumas atitudes, como as que seguem:
- encaminhar sempre a receita médica, para total conferência, junto à anotação na agenda da criança (ou outra forma de comunicação), a fim de evitar enganos;
- dar na escola o menor número de doses possível, somente quando for imprescindível, a fim de diminuir a possibilidade de enganos, atrasos e esquecimentos, em função de grande número de doses a serem dadas na rotina da instituição. Adicionalmente se consegue menos interferência e prejuízo nas atividades pedagógicas;
- enviar os medicamentos nas embalagens originais, identificados com o nome da criança e, é claro, dentro do prazo de validade;
- aceitar que muitas escolas podem considerar inviável interromper suas atividades para administração de remédios em intervalos muito curtos (de duas em duas horas, por exemplo) ou que demandem muito tempo e complexidade (como nebulizações);
- considerar a possibilidade de o pediatra enviar a receita médica por fax ou outro meio (nos casos em que a receita se perdeu, por exemplo), de forma que não falte esse importante documento para a saúde e a segurança da criança;
- manter contato com a equipe escolar para os esclarecimentos que forem necessários. Nos casos de medicamentos de uso contínuo, é importante a conversa entre pediatra, escola e família, de modo a encontrar a alternativa mais segura para garantir o tratamento sem prejuízo das atividades escolares.
Já os adolescentes, no exercício de sua autonomia, podem se responsabilizar por sua medicação. Situações especiais devem ser discutidas com a comunidade escolar, com o objetivo de se estabelecerem acordos que atendam da melhor forma os interesses dos estudantes.
O uso criterioso de medicamentos na escola visa a minimizar os efeitos da automedicação e diminuir interferências com as atividades pedagógicas, além de promover educação em saúde no âmbito escolar, controlando o uso abusivo de medicamentos pelos jovens1.
Referência Bibliográfica
- Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Vigilância Sanitária e Escola: parceiros na construção da cidadania. Brasília: ANVISA, 2008. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/propaganda/manual_visaescola_profissionais.pdf; acessado em: 20 de janeiro de 2014.