DISCALCULIA: UM PANORAMA ATUALIZADO

Os transtornos de aprendizagem são condições neurodesenvolvimentais que afetam a aquisição e o uso de habilidades acadêmicas específicas, como leitura, escrita e matemática. Eles não são causados por falta de inteligência, oportunidades educacionais inadequadas ou déficits sensoriais, mas sim por diferenças no funcionamento cerebral, especialmente em áreas relacionadas ao processamento da linguagem e do raciocínio.

Segundo o DSM-5 (APA, 2013), os transtornos específicos de aprendizagem se caracterizam por:

  • Dificuldades persistentes no uso de habilidades escolares básicas;
  • Desempenho significativamente abaixo do esperado para a idade;
  • Impacto negativo na vida escolar, social e emocional;
  • Início durante os anos escolares, ainda que possam não ser plenamente identificados até demandas mais complexas surgirem.

As causas dos transtornos de aprendizagem são multifatoriais. Os principais fatores incluem:

  • Genéticos: histórico familiar de dificuldades semelhantes;
  • Neurológicos: alterações na estrutura e funcionamento de áreas cerebrais específicas;
  • Ambientais: prematuridade, baixo peso ao nascer, exposição a substâncias tóxicas na gestação;
  • Psicossociais: estresse crônico, traumas, pobreza extrema.

Os transtornos de aprendizagem são geralmente classificados em três grandes categorias, de acordo com a área acadêmica afetada:

  1. Dislexia (Transtorno com prejuízo na leitura)
  • Dificuldade na precisão e fluência da leitura;
  • Problemas de decodificação, reconhecimento de palavras e compreensão de texto;
  • Erros frequentes na leitura em voz alta e lentidão no processamento de palavras.
  1. Disortografia (Transtorno com prejuízo na expressão escrita)
  • Dificuldades em ortografia, gramática e estrutura das frases;
  • Escrita desorganizada, com omissões, inversões e trocas de letras;
  • Problemas com a coerência textual e a organização das ideias.
  1. Discalculia (Transtorno com prejuízo na matemática)
  • Dificuldades com números, operações aritméticas e raciocínio lógico-matemático;
  • Problemas com estimativas, sequências e memorização de fatos matemáticos básicos;
  • Ansiedade matemática e baixa autoestima frente a tarefas quantitativas.

A discalculia é reconhecida como um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta a capacidade de uma pessoa em processar informações numéricas e realizar operações matemáticas. Embora menos conhecida que a dislexia, sua prevalência é significativa e suas implicações na vida acadêmica e cotidiana são profundas.

De acordo com o DSM 5-TR, a discalculia é um termo usado em referência a um padrão de dificuldades caracterizado por “problemas no processamento de informações numéricas, aprendizagem de fatos aritméticos e realização de cálculos precisos ou fluentes”. É um Transtorno Específico de Aprendizagem, inserido nos Transtornos do Neurodesenvolvimento. Não é doença, se trata de uma desordem específica, resultante de falhas no processamento do sistema nervoso central.

Estudos indicam que a discalculia afeta aproximadamente 3% a 7% da população, abrangendo crianças, adolescentes e adultos. Essa variação nos dados pode ser atribuída a diferenças nos critérios diagnósticos e metodologias de pesquisa. O DSM 5-TR classifica a discalculia como um Transtorno Específico de Aprendizagem com prejuízo em matemática, enfatizando dificuldades persistentes em habilidades numéricas que não são explicadas por déficits intelectuais, condições neurológicas ou instrução inadequada.

As Discalculias do Desenvolvimento estão presentes antes da criança entrar na escola e são observadas em situações cotidianas, em brincadeiras e interações sociais. As dificuldades iniciais podem se modificar, mas não desaparecem com o avanço da formação escolar e o rendimento permanece aquém quando a criança é comparada a seus pares, mesmo após intervenções pedagógicas. Os principais sintomas de discalculia são:

  • Dificuldade para contar, especialmente de trás para a frente;
  • Atraso na aprendizagem para somar números;
  • Dificuldade para saber qual o número maior, quando comparado números simples como 2 e 6;
  • Não consegue criar estratégias para fazer contas, como contar nos dedos, por exemplo;
  • Dificuldade para distinguir sinais de cálculos matemáticos;
  • Dificuldade para organizar os problemas matemáticos e terminar cálculos;
  • Dificuldade para entender ou associar um número com uma palavra, por exemplo, que o número 7 é o mesmo que a palavra sete e que ambos significam sete itens;
  • Dificuldade para entender frases matemáticas como “maior que” e “menor que”;
  • Evitar situações que necessitam da compreensão de números, como jogos que envolvem matemática;
  • Dificuldade para estimar o tempo;
  • Dificuldade para entender velocidade e distância;
  • Dificuldade extrema para cálculos mais complexos do que somar;
  • Evitar fazer atividades que possam envolver matemática.

Os primeiros sintomas de discalculia surgem por volta dos 4 a 6 anos, mas, o diagnóstico formal geralmente ocorre após a criança ter tido exposição suficiente ao ensino matemático formal.

Segundo o DSM-5, a discalculia é classificada como um transtorno específico da aprendizagem com prejuízo na matemática. Entre os sinais mais comuns estão:

  • Dificuldade em compreender o valor dos números;
  • Problemas em memorizar operações básicas (adição, subtração, multiplicação, divisão);
  • Dificuldade para sequenciar passos em problemas matemáticos;
  • Troca ou inversão de números;
  • Lentidão em resolver cálculos simples;
  • Baixa autoconfiança em contextos que envolvam números.

Para as dificuldades em matemática, ainda podemos elencar:

  • Determinantes extrínsecos: relacionados ao professor (inadequação do método de ensino, tempo pedagógico insuficiente; formação docente); à instituição (falta de estrutura e recursos, falta de professor); ao conteúdo (deficiências no currículo), o estudante (faltas frequentes, déficits auditivos ou visuais não corrigidos, ambiente familiar pouco estimulante, relações interpessoais desfavoráveis).

 

Rita Thompson
Membro Consultor do Departamento Científico de Saúde Escolar