Doença de Kawasaki: Atualização Diagnóstica e Terapêutica

Lívia Maria de Andrade Sacramento
Cardiologista Pediátrica
⁠⁠Residência de Pediatria pelo HU-UFJF
⁠Residência Cardiologia Pediátrica pelo Hospital Federal de Bonsucesso
Médica Preceptora da Residência Médica de Pediatria e da Disciplina de Saúde da Criança e do Adolescente da UNIFAA
Departamento de Cardiopediatria SOPERJ

A Doença de Kawasaki (DK) é uma vasculite sistêmica aguda que acomete predominantemente crianças menores de cinco anos, sendo a principal causa adquirida de doença cardíaca na infância nos países desenvolvidos. Descrita pela primeira vez em 1967 por Tomisaku Kawasaki, a enfermidade se caracteriza pela inflamação das artérias de médio calibre, com ênfase nas coronárias, podendo evoluir para aneurismas coronarianos em 20–25% dos casos não tratados.

A etiologia permanece incerta, mas a hipótese mais aceita atualmente envolve uma resposta imunológica exacerbada a um superantígeno, modulada por fatores genéticos e ambientais. A doença se manifesta, tipicamente, em três fases histopatológicas: arterite necrotizante aguda, vasculite subaguda/crônica e remodelamento vascular, este último com risco de estenose arterial progressiva.

O diagnóstico é clínico, baseado na presença de febre persistente por cinco dias ou mais, associada a pelo menos quatro dos seguintes critérios: conjuntivite bilateral não purulenta, alterações orais (como língua em framboesa e lábios eritematosos), exantema polimórfico, alterações em extremidades (edema e descamação) e linfadenopatia cervical.

Exames laboratoriais são auxiliares, com destaque para elevação de PCR, VHS, leucocitose e trombocitose na fase subaguda. Alterações ecocardiográficas, como dilatações ou aneurismas coronarianos, confirmam o envolvimento cardíaco e orientam a estratificação de risco.

O tratamento é iniciado com o diagnóstico, mas em casos de menos de cinco dias de febre, porém com quadro clínico típico está recomendado iniciar tratamento de forma precoce. O tratamento da fase aguda consiste na administração precoce de imunoglobulina humana intravenosa (IVIG) na dose de 2g/kg, associada ao uso de ácido acetilsalicílico (AAS) em doses anti-inflamatórias e, posteriormente, antiagregantes. Nos pacientes com maior risco de resistência ao tratamento ou de complicações coronarianas (idade £ 12meses, principalmente < 6 meses, dilatação coronariana já na apresentação inicial, quadro com choque ou síndrome de ativação macrofágica) é indicado a associação precoce de corticosteróides à terapia com IVIG, mesmo antes de se confirmar a refratariedade. Nos pacientes que usaram apenas IVIG e apresentam refratariedade, é indicado o uso de corticoides, infliximabe ou outros imunossupressores. O acompanhamento é essencial, com ecocardiogramas seriados e, em alguns casos, ressonância magnética cardíaca.

 

Referências Bibliográficas

  1. McCrindle BW, Rowley AH, Newburger JW, Burns JC, Bolger AF, Gewitz M, Baker AL, Jackson MA, Takahashi M, Shah PB, et al. Diagnosis, treatment, and long-term management of Kawasaki disease: a scientific statement for health professionals from the American Heart Association. Circulation. 2017;135:e927–e999. doi: 10.1161/CIR.0000000000000484
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