“De tudo, ficaram três coisas: a certeza de que ele estava sempre começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza que seria interrompido antes de terminar. Fazer da
interrupção um caminho novo. Fazer da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sonho uma ponte, da procura um encontro.”
Fernando Sabino
Queridos colegas, O Brasil e o mundo estão vivendo a pior crise de saúde do nosso século devido à pandemia do novo Coronavírus. A mídia e os artigos científicos publicados no mundo inteiro se complementam na tentativa de compreender a doença. Todos os dias nos deparamos com novos estudos em importantes publicações científicas revelando o quanto esse vírus é avassalador. Nós, pediatras, estamos vivendo um momento único em nossa vida pessoal e profissional. Estamos mais conectados do que nunca em busca de uma resposta que nos aponte uma solução para o fim dessa crise humanitária. É falsa a ilusão de que a atual perda da liberdade, para aqueles que estão cumprindo o isolamento, corresponde a uma súbita fartura de tempo. Confinados ou não, nos sobra pouco tempo para fazer ou estudar algo que não esteja relacionado ao coronavírus. É um momento, para nós pediatras, de muito trabalho e estudo. Se para alguns o ritmo de plantões está mais intenso, para outros o consultório passou a ser exercido a distância, através da telemedicina, ou presencial, porém cheio de novas normas. Essas novas medidas de higiene, aliás, precisarão ser incorporadas ao nosso cotidiano de uma maneira geral, pois trarão grandes benefícios para a humanidade em termos de saúde. Os colegas que fazem plantão, ou que estão diretamente ligados ao atendimento, não podem renunciar a seus equipamentos individuais de proteção. Aqueles que estão vivenciando novas situações em seu local de trabalho, devem se aprimorar buscando cursos de capacitação. É preciso decifrar qual é a real história da doença nas crianças e nos adolescentes. Precisamos descobrir se existe alguma droga que possa auxiliar no tratamento e esperar ansiosamente por uma vacina. Não sabemos ainda em quanto tempo teremos uma vacina eficaz. No mundo inteiro vacinas estão sendo testadas. A nossa Bio-Manguinhos tem um grande protagonismo nesse processo. É um grande desafio orientar pais e pacientes para que enfrentem com bravura este momento. É muito importante que os pais apoiem seus filhos, aconchegando, conversando, estabelecendo um diálogo que normalmente não acontece no dia a dia. Um dos pontos que mais nos aflige é a divulgação de fake news. Muitas publicações científicas, aprovadas sem o necessário rigor metodológico, viram verdades que caem por terra dias após serem divulgadas. Para reverter esse quadro, contamos com grande apoio dos presidentes dos nossos Departamentos Científicos e Grupos de Trabalho. Eles estão nos ajudando a produzir conteúdo de qualidade para tentarmos esclarecer sobre as diversas faces do coronavírus. Aproveito esse espaço para agradecer a todos que estão colaborando nessa luta. Estamos mantendo todas as nossas mídias atualizadas com informação relevante, não só para os pediatras, como para os nossos leitores. Para nós, da SOPERJ, o isolamento social nos fez adiar muitos projetos. Nosso congresso de Emergências Pediátricas foi transferido para novembro e o CONSOPERJ para 2021. Citamos esses por serem nossos maiores eventos desse ano, mas outros também tiveram suas datas adiadas. Quero ainda acrescentar que no meio de uma pandemia como essa, temos certeza de uma coisa: precisamos fortalecer o Sistema Único de Saúde. O SUS vem sendo posto à prova e superando expectativas no que diz respeito à funcionalidade num momento inédito e absolutamente crítico. Temos confiança que se existe algum legado de tudo isso que estamos vivendo, esse será um sistema público de saúde de melhor qualidade e com acesso de qualidade para todos.
Quero finalizar fazendo um pedido aos colegas. Por favor, se cuidem, cuidem da sua saúde física e mental. Sou uma otimista incorrigível e tenho certeza de que, depois dessa crise, sairemos melhores e mais fortes. A angústia desses dias também vai passar. Precisamos manter nosso foco, fortalecer a empatia, a inclusão, o engajamento nas nossas questões éticas e trabalhistas. Vamos em busca de um mundo socialmente justo, sempre trabalhando em equipe. Podem contar com a SOPERJ, estaremos sempre juntos. O filósofo Alain Botton afirma que o silêncio é um momento em que a mente pode se organizar e entender, são as chamadas viagens no sofá. Espero que esse momento também sirva para uma grande reflexão sobre a vida, sobre a nossa profissão e a nossa missão no mundo: cuidar de crianças e adolescentes.