Abordagem Inicial da Criança Politraumatizada

O trauma é a principal causa de morte em crianças no mundo inteiro. Quando uma criança está gravemente traumatizada, a ressuscitação deve ser prontamente iniciada, preferivelmente no local do trauma.
Em crianças politraumatizadas, o comprometimento das vias aéreas e respiração é bem mais comum do que alterações da circulação.
Mas o comprometimento circulatório é mais letal, principalmente se há trauma cerebral. Por esta razão, a avaliação cardiopulmonar rápida e o pronto estabelecimento da ventilação, oxigenação e perfusão são as chaves para o tratamento bem sucedido.
A ressuscitação inadequada permite mortes pediátricas previníveis relacionadas ao trauma.
Quatro erros comuns em ressuscitação no trauma são: não abrir e manter as vias aéreas com simultânea estabilização da coluna vertebral; não prover oxigenação e ventilação apropriadas; não prover adequada reposição volêmica; e não reconhecer e tratar hemorragias.
A abordagem inicial de vítimas de trauma consiste na avaliação cardiopulmonar e estabilização do paciente com tratamento prioritário dos traumas potencialmente fatais. É a abordagem ABCDE.
– Vias Aéreas: avalie e estabilize as vias aéreas enquanto imobiliza a coluna cervical, se necessário; Faça tração da mandíbula sem inclinação da cabeça; Limpe orofaringe com aspirador rígido, se necessário; Determine necessidade de acessórios avançados de vias aéreas; Ofereça O² a 100% por máscara não reinalatória se a criança estiver respirando espontaneamente.
– Boa respiração: identifique causas de insuficiência respiratória e trate-as; Identifique hipoventilação devida a insulto cerebral, pneumotórax hipertensivo, hemotórax, tórax instável, contusão pulmonar; Ventile com O² a 100% usando bolsa-máscara, se a criança tiver desconforto respiratório significativo ou diminuição do nível de consciência.
Considere o uso de cânula orofaríngea ou pressão cricóide durante a ventilação com bolsa máscara se criança estiver inconsciente; Providencie intubação orotraqueal com imobilização adequada da coluna cervical, se a criança tiver sinais de insuficiência respiratória ou estiver inconsciente; Trate pneumotórax hipertensivo, hemotórax, tórax instável.
– Circulação: identifique sinais de choque e trate adequadamente. Determine causas; Inicie compressões torácicas e controle de sangramentos externos com pressão, se indicado; Estabeleça acesso vascular adequado (2 curtos e calibrosos) e inicie bolus de 20 ml/kg de solução cristalóide (soro fisiológico ou ringer), se houver sinais de choque; Providencie amostra de sangue para prova cruzada; Identifique tamponamento cardíaco e necessidade de pericardiocentese; Identifique instabilidade hemodinâmica devido à perda oculta de sangue e choque medular; Repita bolus de cristalóide se choque persiste e considere hemoderivados em caso de hemorragias.
– Disfunção: avalie o estado neurológico e identifique condições que requerem intervenções urgentes;.
Aplique ECGlasgow; Aplique Escala Pediátrica de Resposta AVDN (Alerta, responde a estímulo Verbal, responde a estímulo Doloroso, ou Não responde); Examine as pupilas (tamanhos desiguais, dilatação e resposta lenta a luz); Avalie hematoma epidural ou síndrome de herniação que necessitam intervenção cirúrgica urgente; Considere indicações para ventilação assistida (Glasgow < 8 e acidentes com inalantes); Imobilize o pescoço com um colar semi-rígido ou imobilizador de cabeça e fita adesiva. Imobilize a coluna em uma prancha adequada. - Exposição e controle do ambiente: Remova a roupa da vítima e procure lesões ocultas; Verifique a temperatura corporal e ambiente; Evite e trate hipotermia significativa. Após esta abordagem inicial deve ser feita uma história abreviada específica do trauma, um detalhado exame da cabeça aos pés e um plano prioritário de cuidados definitivos.