Autor:Aramis Lopes
O ato de agressão bárbara ocorrida recentemente, cujos acusados são jovens de classe média residentes na Barra da Tijuca, merece uma reflexão mais profunda sobre as motivações que levariam a práticas agressivas de extrema crueldade.
A investigação e análise do fato de forma pontual, como uma fotografia que registra uma imagem imóvel e momentânea, não nos permite avaliar as razões que levam os adolescentes e jovens, tanto os oriundos de favelas como os de condomínios de luxo, a desenvolverem comportamentos violentos e, aparentemente, sem motivação evidente.
Pesquisas internacionais têm demonstrado que esses agressores, provavelmente, já adotavam a agressividade em suas vidas escolares, como forma de alcançarem a popularidade e a liderança entre seus pares. É possível que alguns de seus colegas já haviam sido martirizados de forma repetida e durante longos períodos por um tipo de agressão denominado bullying, sem que seus pais e as escolas interviessem para cessar esses comportamentos anti-sociais e as atitudes delinqüentes.
Muitos educadores não percebem esses atos ou não os valorizam. Muitos pais entendem que essa liderança imposta pela violência e o medo é a representação de uma personalidade forte e positiva de seus filhos, até perderem o controle sobre eles e vê-los adotarem atos de delinqüência e aderirem ao consumo de álcool e drogas.
Seria muito interessante que as investigações retrocedessem a cinco ou seis anos atrás, para que a sociedade tenha consciência de que a violência urbana que nos atemoriza é criada no seio das famílias e nos bancos escolares, contando com a omissão da sociedade e do governo, que só se interessa em desenvolver políticas públicas assistencialistas, ao invés daquelas capazes de produzirem mudanças reais, mesmo que em médio e longo prazo.
Aramis Lopes
Diretor de Direitos da Criança e do Adolescente da SOPERJ