O contato do álcool com os olhos normalmente ocorre quando o jato do spray de álcool é inadvertidamente direcionado aos olhos ou devido ao ato de manipular a região ocular sem que o álcool (gel ou líquido) tenha evaporado da mão completamente.
A presença do álcool na face anterior do segmento ocular pode provocar ceratite (inflamação da córnea) química ou abrasão corneana. Geralmente o quadro é mais brando do que o encontrado por outros compostos químicos, porém pode ocasionar hiperemia conjuntival (olhos vermelhos), dor/ardência, sensação de areia nos olhos e lacrimejamento. Complicações não são comuns.
Quando esse acidente ocorre é importante lavar os olhos com água, se a quantidade de álcool foi volumosa. Pequenas quantidades da substância são eliminadas do olho através do próprio piscar e lacrimejamento. Caso os sintomas de desconforto persistam é importante procurar o oftalmologista rapidamente para uma avaliação detalhada e tratamento adequado.
E esses acidentes aumentaram durante a pandemia? A princípio sim, conforme estudo publicado na França em janeiro de 2021. O estudo mostrou que acidentes com desinfetantes para as mãos a base de álcool aumentaram muito no país a partir de março de 2020, principalmente entre as crianças. Em 97,8% dos casos os sintomas foram nulos ou leves.
É possível evitar esses acidentes? Sim. A maioria dos acidentes pode ser evitada com condutas adequadas. Neste caso, algumas medidas simples podem ser tomadas, prevenindo a exposição dos olhos infantis ao álcool:
- É adequado que a criança seja sempre supervisionada ao higienizar as mãos;
- Evitar colocar os dispensers de álcool na altura dos olhos da criança;
- Álcool em espuma geralmente sai do frasco com menor velocidade, tornando mais difícil atingir a região dos olhos;
- Esfregar a mão até estar completamente seca;
- Limpar a abertura de saída do frasco com frequência, pois resíduo endurecido no local pode criar a necessidade de força para o uso do álcool gel e o mesmo ser expelido com velocidade.
A visão durante a infância está em desenvolvimento e cuidados são fundamentais para que tudo ocorra de forma adequada. Além das visitas de rotina ao oftalmologista, a prevenção de acidentes oculares é imprescindível para garantir o pleno desenvolvimento visual.
Dra. Viviane Lanzelotte – presidente do GT de Oftalmologia
Dr. José Eduardo da Silva – membro consultor (segmento anterior) do GT de Oftalmologia
Referências:
- American Academy of Ophthalmology. Hand Sanitizer in the Eye: Is It Dangerous? 29, 2021.
- Martin GC, Le Roux G, Guindolet D, et al. Pediatric Eye Injuries by Hydroalcoholic Gel in the Context of the Coronavirus Disease 2019 Pandemic. JAMA Ophthalmol.2021;139(3):348–351.
- Harley’s Pediatric Ophthalmology. Leonard B. Nelson. Scott E. Olitsky. 6.ed.