Ambliopia: Por que o exame entre 3 e 5 anos é tão importante?

  1. O que é Ambliopia?

Ambliopia, popularmente conhecida como “olho preguiçoso”, é a principal causa de deficiência visual evitável na infância, acometendo 2 a 3% das crianças.

Caracteriza-se por redução da acuidade visual em um ou ambos os olhos, mesmo com correção óptica adequada e sem alterações estruturais aparentes.

O risco de sequelas permanentes ocorre porque o sistema visual nasce imaturo e depende de estimulação adequada na primeira década de vida (período crítico até cerca de 8 anos).
Quando o cérebro recebe imagens desfocadas, desalinhadas ou obstruídas, ele suprime a visão do olho afetado, podendo gerar perda visual definitiva.

  1. Principais Causas

A ambliopia resulta de qualquer condição que impeça a formação de uma imagem nítida durante o desenvolvimento visual. As causas incluem:

  1. Ambliopia estrabísmica
  • Cerca de 50% das crianças com estrabismo apresentam ambliopia.
  • Acontece quando o desvio é sempre do mesmo olho, levando o cérebro a ignorar a imagem.
  1. Ambliopia por erro refrativo (anisometropia ou altas ametropias)
  • Diferença significativa de grau entre os olhos → o olho de maior grau torna-se o “fraco”.
  • Altos graus bilaterais podem causar ambliopia bilateral.
  1. Ambliopia por privação

Ocorre quando algo impede a entrada da luz, por exemplo:

  • Catarata congênita
  • Opacidades corneanas
  • Ptose severa

É a forma mais grave e deve ser tratada urgentemente.

  1. Quando Suspeitar?

A ambliopia costuma ser assintomática, especialmente se unilateral.
Por isso, o rastreamento é crucial.

Sinais de alerta:

  • Histórico familiar de ambliopia, estrabismo ou óculos de alto grau na infância
  • Criança que fecha um olho para ver, aproxima objetos ou apresenta dificuldade visual
  • Presença de estrabismo
  • Reflexo vermelho alterado
  1. Recomendações de Avaliação Oftalmológica (SBOP)

Ao nascimento

  • Teste do reflexo vermelho: obrigatório; repetir 2 a 3 vezes por ano até os 3 anos.
  • Reflexo alterado → encaminhamento imediato ao oftalmologista.

Fatores de risco que exigem consulta precoce:

  • Prematuridade (<32 semanas e/ou <1500g)
  • Infecções congênitas (toxoplasmose, sífilis, CMV, rubéola, herpes, Zika)
  • Síndromes genéticas, malformações e doenças hereditárias oculares
  • Doenças metabólicas, autoimunes e autoinflamatórias

Consultas recomendadas:

  • 6 a 12 meses: primeira avaliação com oftalmologista
  • 3 a 5 anos: exame oftalmológico completo (preferencialmente aos 3 anos)
  • Periodicidade posterior conforme achados
  1. Tratamento

O tratamento é sempre conduzido pelo oftalmologista e pode incluir:

  1. Correção óptica
  • Óculos para corrigir erros refrativos. Alguns casos de ambliopia relacionados ao grau resolvem somente com o uso dos óculos.
  1. Estímulo visual
  • Oclusão do olho de melhor visão por até 6 horas/dia.
  • Penalização com colírio de atropina no olho bom (embaçamento proposital).
  1. Tratamento da causa de base
  • Cirurgia nos casos de privação visual (ex.: catarata congênita, ptose severa).

O sucesso depende de:

  • Diagnóstico precoce
  • Adequação do tratamento
  • Adesão da família
  1. O papel do pediatra

O pediatra é o ponto-chave para detecção precoce da ambliopia.
Sua atuação inclui:

  • Realizar e repetir o teste do reflexo vermelho nos primeiros anos
  • Reconhecer sinais de alerta
  • Identificar fatores de risco
  • Garantir o encaminhamento correto e no tempo adequado
  • Orientar a família sobre a importância da adesão ao tratamento

Com diagnóstico e intervenção oportunos, a ambliopia é altamente tratável e a atuação do pediatra faz toda a diferença no desfecho visual a longo prazo.