Autora: Adriana Rodrigues Fonseca
Reumatologista Pediátrica do IPPMG/UFRJ
Presidente do Departamento de Reumatologia Pediátrica da SOPERJ 2019-2021
DIA 12 DE OUTUBRO – DIA MUNDIAL DA ARTRITE REUMATOIDE
FIQUE DE OLHO – CRIANÇAS TAMBÉM PODEM TER REUMATISMO!
O dia 12 de outubro, além de ser o Dia das Crianças, também é o Dia Mundial de Conscientização sobre Artrite Reumatoide e, portanto, uma oportunidade para lembrarmos que as crianças também podem ter artrite! Reumatismo não é só uma doença de pessoas mais velhas, como a maioria das pessoas ainda pensa!
A Artrite Idiopática Juvenil (AIJ), também conhecida pelo nome antigo de artrite reumatoide juvenil – é a causa mais comum de artrite crônica da infância. O termo “idiopática” é usado pelo fato de sua causa ser desconhecida e “juvenil” porque se inicia até os 16 anos de idade.
A AIJ é uma doença autoimune, o que significa que ela acontece porque um erro do sistema de defesa começa a atacar o próprio corpo. Estudos recentes mostram que também existe uma tendência familiar e que alguns fatores externos, como certas infecções virais e bacterianas, o estresse emocional e os traumatismos articulares podem desencadear a doença.
O diagnóstico de AIJ é clínico, ou seja, o reumatologista pediátrico chegará a esta conclusão através dos sintomas apresentados pela criança. Baseia-se na presença de artrite em uma ou mais articulações com duração igual ou maior a 6 semanas e sem outra causa que a explique.
A AIJ pode ser de sete diferentes tipos e os sintomas variam de acordo com o tipo que a criança apresenta. No entanto, as principais manifestações são: dor nas juntas, inchaço, rigidez para se movimentar ao acordar (rigidez matinal), dificuldade ou incapacidade na mobilização das articulações, mancar para andar, redução da atividade física e das brincadeiras. Alguns tipos também podem apresentar febre alta por mais de duas semanas sem causa conhecida, manchas vermelhas na pele, inflamação dos olhos sem qualquer sintoma ou sinal visível como dor ou vermelhidão nos olhos (chamada de uveíte), inflamação da membrana que reveste o coração (pericardite) ou os pulmões (pleurite), ínguas inchadas ou aumento do fígado e do baço.
Nem sempre a artrite é facilmente visualizada e algumas crianças podem nem se queixar de dor. É a mãe ou o pai que notam que a criança está andando estranho, está mancando, que pede muito colo ou não brinca tanto. Embora possam ser confundidos com traumas no início, dores e inchaços persistentes nas articulações, rigidez de membros e dificuldades na movimentação podem ser sinais de alerta para a AIJ.
Não existe um exame específico para detectar a AIJ. Logo, os exames são solicitados com a finalidade de descartar outras possíveis causas (como fratura, tumor, ou infecção), para avaliar como está a inflamação (proteína C reativa – PCR – e a velocidade de hemossedimentação – VHS), para determinar o tipo de AIJ que a criança apresenta (fator reumatoide, HLA-B27 e o anticorpo antinuclear-FAN) e, radiografias, ultrassom ou ressonância magnética das juntas inflamadas para detecção precoce de sequelas nas juntas. Além disso, a criança com AIJ precisa ser periodicamente avaliada pelo oftalmologista para diagnosticar e tratar precocemente qualquer inflamação ocular porventura existente.
A artrite idiopática juvenil não tem cura, mas, com os novos tratamentos e o diagnóstico precoce da doença, a expectativa para o controle da doença é muito boa. O tratamento, por um tempo imprevisível e diferente para cada paciente, pode promover o desaparecimento dos sintomas, fase conhecida como remissão. Contudo, os sintomas podem tornar a aparecer e o tratamento deve ser reiniciado conforme prescrição médica.
Cada tipo de AIJ tem um tratamento específico, variando para cada paciente, de acordo com as manifestações clínicas. Os medicamentos utilizados inicialmente são os anti-inflamatórios não-hormonais (aspirina, naproxeno e ibuprofeno), úteis no alívio da dor. Os corticoides por via intra-articular (infiltração) ou por via oral podem ser utilizados em casos selecionados. Nos casos de inflamação persistente por mais de 3 meses pode ser associado o metotrexato, a ciclosporina ou a sulfassalazina. As novas terapias biológicas (infliximabe, etanercepte e adalimumabe) são recomendadas para os pacientes com má resposta às medicações acima citadas. Os pais devem checar a ingestão dos medicamentos, especialmente nos casos de pacientes adolescentes.
A fisioterapia é fundamental para manter ou recuperar a mobilidade das articulações acometidas e deve ser iniciada assim que possível. Até onde não causar (ou aumentar) dor, qualquer atividade física deve ser estimulada, bem como o retorno o mais breve possível a sua vida social e escolar. A AIJ não é uma doença contagiosa e os pacientes podem (e devem) frequentar normalmente escolas e espaços coletivos.