Autor: Bruno Leal Carneiro
Reumatologista pediátrico
Membro do Departamento de Reumatologia Pediátrica da SOPERJ
Doença de Kawasaki: febre que pode parecer uma virose … mas não é!
A doença de Kawasaki é uma vasculite, ou seja, uma inflamação dos vasos sanguíneos, que pode complicar com dilatações (aneurismas), sobretudo nas artérias do coração chamadas de artérias coronárias. Felizmente, com o diagnóstico precoce e o tratamento adequado, a porcentagem de crianças que complicam com aneurisma das coronárias, reduz de 20% para menos de 5%!
É uma doença rara, porém uma das vasculites mais comuns da infância, sendo quase exclusivamente uma doença de crianças. Cerca de 85% dos casos ocorrem em crianças menores de 5 anos, principalmente entre 18 e 24 meses. Casos em idades mais precoces ou mais tardias (menores de 3 meses e maiores de 5 anos) são mais raramente encontrados, porém estes pacientes tem um risco maior de aneurismas das coronárias.
Ainda não se sabe a causa exata da Doença de Kawasaki, embora haja suspeitas de que algumas infecções possam causá-la, em crianças com tendência genética e com funcionamento desordenado do seu sistema de defesa. Apesar desta suspeita (de ser causada em parte por alguma infecção), não é uma doença contagiosa, nem transmissível de uma pessoa para outra e não existe nenhuma prevenção necessária.
Na Doença de Kawasaki ocorrem três fases de sintomas. Na primeira fase, ocorre uma febre alta, insistente, sem uma causa aparente, que dura pelo menos cinco dias, sendo o sintoma obrigatório para o diagnóstico. Outras alterações que podem ocorrer são a conjuntivite (olhos vermelhos, porém sem saída de pus); manchas vermelhas pelo corpo; lábios vermelhos e rachados, língua vermelha (chamada de língua em morango ou framboesa); inchaço e vermelhidão nas mãos e pés; ínguas inchadas no pescoço (geralmente uma medindo pelo menos 1,5 a 2 cm). Nem todas as crianças terão todos estes sintomas, gerando demora a se pensar neste diagnóstico e, consequentemente, atrasando o início do tratamento adequado. Outras crianças podem apresentar, além da febre, sintomas como irritabilidade, dores de cabeça, artrite (dor e inchaço nas articulações) e uma vermelhidão na cicatriz da vacina de BCG no braço.
Após cerca de 7 a 10 dias, há uma descamação da pele nas áreas de fraldas, nas mãos, pés e em volta das unhas, aumenta a contagem das plaquetas do sangue (medida pelo hemograma) e, é nesta fase que pode aparecer a complicação de aneurismas das coronárias.
Por último, na terceira fase da doença de Kawasaki, a contagem de plaquetas e os exames indicativos de inflamação se normalizam e se estabilizam as alterações coronarianas. Estas podem ter regressão ou permanecerem alteradas.
Quando falamos de doença de Kawasaki, destaca-se que é uma doença com diagnóstico predominantemente clínico, ou seja, é feito com base na avaliação médica. Exames de sangue e de urina podem e devem ser feitos, bem como o ecocardiograma para avaliar o coração e as artérias coronárias nas três fases da doença e, principalmente, naquelas crianças que não apresentam os sintomas mais característicos da doença.
O tratamento da doença de Kawasaki deve ser feito com uma dose de imunoglobulina venosa e aspirina, com o objetivo de redução da inflamação dos vasos e de evitar a complicação dos aneurismas das coronárias. Infelizmente não são todos os pacientes que melhoram apenas com este tratamento, sendo necessária nova dose de imunoglobulina, corticoides ou outros remédios para controlar a função alterada do sistema de defesa (imunossupressores).
As crianças que tiveram doença de Kawasaki geralmente evoluem bem, levam uma vida normal como as outras, sendo recomendado, como para todos, um estilo de vida saudável. Apenas nos pacientes que tiveram alguma alteração nas artérias coronárias, o acompanhamento e o tratamento porventura necessários ficam na dependência da regressão ou do tamanho da lesão das coronárias que tenha permanecido.
Julho / 2019.