Autor:Regina Muller é Presidente do Grupo de Trabalho de Febre Reumática da SOPERJ e Coordenadora Médica do Programa PREFERE (Programa de Prevenção à Febre Reumática)
A febre reumática, doença antiga mas desconhecida por muitos, permanece ainda hoje como um problema de saúde pública no Brasil. Ela é a maior causa de cardiopatia adquirida em crianças e adolescentes, atingindo principalmente indivíduos entre 5 e 15 anos, e ocorre em surtos ou ataques, com agravamento do problema cardíaco a cada episódio da doença. Estima-se que 30.000 novos casos da doença ocorram a cada ano no Brasil, e que 15.000 pacientes tenham acometimento das válvulas cardíacas, a maioria evoluindo para seqüelas crônicas.
A febre reumática é uma doença inflamatória, que ocorre como conseqüência de uma infecção de garganta bacteriana não tratada, ou tratada de forma inadequada. Essa infecção de garganta, a faringoamigdalite estreptocócica, é uma das afecções mais comuns na infância e pode melhorar sem tratamento específico, razão porque muitos pais não lhe dão maior importância e não procuram auxílio médico. Muitos preferem utilizar remédios naturais, gargarejos ou medicamentos, como antiinflamatórios e antibióticos sem prescrição médica, e acabam utilizando-os de forma inadequada.
E naquelas crianças e adolescentes que têm predisposição genética ocorre a febre reumática. Os sintomas aparecem cerca de uma a duas semanas após a infecção de garganta e iniciam pela dor e inflamação das juntas (articulações), principalmente grandes articulações: joelhos, tornozelos, cotovelos. O que chama mais a atenção é a dor, que é muito intensa, impossibilitando muitas vezes a criança de andar. Mas pode ocorrer, também, inchaço, vermelhidão e calor nas juntas acometidas. Essa é a artrite reumática, um tipo de reumatismo infantil, que apresenta caráter migratório, ou seja, quando uma articulação começa a melhorar, a outra está piorando. Após essa fase aguda da inflamação, a criança fica boa, sem qualquer cicatriz ou deformidade nas articulações.
Mas na metade das crianças que tem febre reumática a inflamação atinge também o coração, em especial as válvulas cardíacas – cardite reumática. Os sintomas aparecem cerca de duas semanas após a inflamação nas juntas, e o que chama a atenção é o coração disparado mesmo quando a febre cede, e muito cansaço e falta de ar, mesmo quando está em repouso. A inflamação nas válvulas do coração, quando é muito intensa, pode levar à morte nessa fase da doença, mas o mais comum é que deixe cicatrizes – seqüelas que necessitam de acompanhamento cardiológico e, muitas vezes, de cirurgias cardíacas de reparo ou troca valvar, com a colocação de uma prótese no local da válvula.
O diagnóstico da febre reumática é clínico. Exames laboratoriais ajudam na confirmação do diagnóstico, mas não existe nenhum exame específico desta doença. O ecocardiograma é muito útil para avaliar as lesões das válvulas cardíacas, tanto na fase aguda da doença, como no acompanhamento posterior.
O mais importante na terapêutica da febre reumática é que ela pode ser prevenida. A prevenção primária – o tratamento correto das infecções de garganta, para evitar que a doença ocorra – e a secundária – que é a manutenção da medicação para evitar que novos surtos da doença se instalem – é feita com a administração de injeções de penicilina benzatina, um antibiótico potente, em que uma injeção corresponde a 21 dias de antibiótico oral. Para o tratamento das infecções de garganta basta tomar uma injeção para curá-la, mas os pacientes que têm febre reumática devem tomá-la a cada 21 dias para evitar novas infecções estreptocócicas.
Amigdalite não é brincadeira. Trate da garganta de seu filho e proteja o coração dele.
Fonte:SOPERJ