O fato de a adolescência ser área de atuação da pediatria, aliado ao aumento na demanda de distúrbios alimentares nessa faixa etária, evidencia a necessidade do pediatra de ampliar seus conhecimentos a respeito de imagem corporal, visto que sua distorção é uma característica desses distúrbios. A afirmação é de Maria de Fátima Goulart Coutinho, Diretora de Cursos da SOPERJ. Ela ressalta que “é importante lembrar que os avanços tecnológicos da medicina aumentam as situações crônicas na adolescência, muitas delas associadas a repercussões na imagem corporal, o que pode prejudicar a própria adesão ao tratamento”.
Maria de Fátima explica que imagem corporal é a visão de nosso corpo que produzimos em nossa mente. Ela é construída com base em aspectos conscientes e inconscientes, pela percepção subjetiva que cada um tem de sua aparência, modulada por fatores psicológicos e sociológicos. “A imagem corporal não é estática, alterando-se com o ciclo da vida e com experiências e sensações obtidas por ações e reações dos outros em nossas relações sociais”, complementa a pediatra.
Segundo ela, a insatisfação com a imagem corporal começa cedo, mas adquire maior destaque durante a adolescência, “pela associação do corpo em transformação, aumentando a suscetibilidade aos estímulos ambientais”, destaca. Maria de Fátima explica que “isso faz com que assumam comportamentos de risco na busca de uma imagem que se aproxime da idealizada, seja através de distúrbios alimentares, seja através do uso de esteróides anabolizantes”.
Pesquisas evidenciam que as mudanças da imagem corporal são influenciadas por fatores biológicos, psicológicos e socioculturais. Entre os fatores biológicos, o índice de massa corporal (IMC) parece ser um importante indicador. A puberdade precoce e a tardia resultam em desvio do habitual, o que pode exercer impacto negativo na imagem corporal, levando a adoção de estratégias de mudança. “Entre os fatores psicológicos, a baixa auto-estima, a autopercepção, a importância do corpo (aparência física) e a tendência à comparação mostram importante associação”, destaca Maria de Fátima, que também é diretora de Cursos e Eventos da SOPERJ.
Fatores socioculturais – pais, pares e mídia -, constituem o terceiro grupo de variáveis associadas e, em relação aos pais, “é bom lembrar que a imagem corporal se inicia através do olhar materno. Os pares também exercem influência significativa na satisfação corporal”, comenta. A mídia, relacionando a magreza extrema da mulher e a massa muscular masculina a atributos como beleza, atratividade, aptidão física e saúde, possibilitam a internalização de uma imagem idealizada, em cuja busca os adolescentes são capazes de envolvimento em sérios comportamentos de risco.
“Os poucos estudos que encontramos a respeito da imagem corporal ligada às doenças crônicas refletem a importância da forma de observação parental e a necessidade de uma abordagem mais ampla a respeito da repercussão dessas doenças na aparência física e, do que se possa fazer para atenuá-las”, diz Maria de Fátima. Ela afirma que “maiores estudos precisam surgir, pois a prática tem mostrado que muitas das doenças são freqüentemente acompanhadas de distorções da imagem corporal e o pediatra precisa estar atento para ampliar sua abordagem no sentido de oferecer suporte tanto para as situações já habituais – atraso puberal, baixa estatura, abuso sexual, criptorquia, agenesia/ assimetria mamária, acne, ginecomastia, lipodistrofias e amputações – como para as que os avanços tecnológicos estão por apresentar”. “Encontrar fatores de risco para que se possa atuar na prevenção da distorção da imagem corporal se faz necessário no sentido de reduzir as possibilidades de depressão e adoção de comportamentos de risco”, finaliza Maria de Fátima Coutinho.