Pesquisa SBP sobre autoagressão em adolescentes

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) divulgou recentemente um levantamento relacionado ao número de autoagressões em adolescentes. O estudo foi elaborado dentro do contexto do Setembro Amarelo e apontou que a cada 10 minutos pelo menos um caso de autoagressão é registrado em jovens de 10 a 19 anos.

O material analisou o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), que contém os registros encaminhados pelas unidades de saúde, escolas e assistência social. Os dados mostraram que, nos últimos dois anos, a média diária foi de 137 atendimentos na faixa pediátrica relacionados à violência autoprovocada e tentativas de suicídio.

O Departamento Científico de Saúde Mental da SOPERJ, presidido pela Dra. Gabriela Crenzel, analisou os números divulgados no estudo e elaborou um artigo abordando o assunto. Segundo o Departamento, esses números são alarmantes e os profissionais que trabalham com assistência a esses jovens, seja na área da saúde ou educação, devem ficar atentos a essa questão.

Parecer do Departamento sobre o levantamento da SBP

É alarmante o dado de que “a cada 10 minutos, o Brasil registra um atendimento de adolescente de 10 a 19 anos por autoagressão”, como foi divulgado em 22/9/2025, pela SPB, após um levantamento a partir do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).

Diante desse alerta tão relevante, acreditamos que todos os profissionais que trabalham na área da saúde ou de educação com jovens deveriam tomar conhecimento deste tema e ficar cientes desse agravo. Assim, deveríamos começar essa conversa pontuando as diferentes formas de autolesão, os fatores de risco e os de proteção e as formas de prevenção.

Formas de autolesão

A autolesão envolve a agressão direta e intencional do próprio corpo, com ou sem intenção suicida consciente, e o resultado pode ser não fatal. Podem ocorrer desde autolesões mais leves (arranhaduras, cortes e mordidas) a mais severas (amputação de membros e outras partes do corpo). Ela pode ser entendida como uma forma de comunicar um sofrimento psíquico e pode gerar um alívio da dor psíquica, pois essa pode ser substituída pela dor física. Assim, a maioria das pessoas que apresentam o comportamento de autolesão afirmam que se machucam com o objetivo de lidar com emoções de raiva, culpa, vergonha, ansiedade, tensão, pânico, tristeza, frustração e desprezo, dentre outras.

Segundo McEvoy, et al 2023, as estatísticas que existem sobre autolesão podem variar de acordo com o método de identificação adotado pelos serviços e pesquisas, da motivação declarada, como também da parte do corpo lesionada. Apresenta uma tendência de crescimento nos últimos anos, mas ainda é um fenômeno pouco visível ou subnotificado. Nos casos notificados, há uma maior incidência nas meninas, tanto na ocorrência como na repetição do agravo.

Fatores de risco e proteção

Como destacado anteriormente, a autolesão não está necessariamente relacionada ao comportamento suicida. Este abarca desde a ideação, planejamento, tentativa e ato consumado com intenção de morte até o suicídio consumado.

Apesar de serem comportamentos distintos, estudos (McEvoy et al, 2023) apontam que a autolesão não suicida e suicida compartilham muitos dos mesmos fatores de risco.

Segundo esse estudo abrangente de revisões sistemáticas sobre os fatores de risco e proteção para autolesão em adolescentes e adultos jovens, os fatores de risco mais frequentes são: abuso infantil, depressão/ansiedade, bullying, trauma, doenças psiquiátricas, uso/abuso de substâncias, divórcio dos pais, relacionamentos familiares ruins, falta de amigos e exposição a comportamentos de autolesão em outras pessoas. Sendo que os fatores de risco com as evidências mais fortes de associação com autolesão foram: transtornos de comportamentos, transtornos de personalidade e depressão/ansiedade.

Neste mesmo estudo, os fatores de proteção apontaram que as boas relações familiares e /ou com amigos, foram identificadas com mais frequência.

Outro estudo (Santos,B et al, em 2025), apresenta a revisão sistemática de estudos observacionais que examinam fatores de risco para comportamentos de automutilação e suicídio em adolescentes não clínicos, e encontraram como principais fatores: sexo feminino, história de comportamentos de autolesão e vulnerabilidades nos domínios psicológico, neural, familiar e social.

Este estudo pontua que, embora muitos dos estudos foram transversais e necessitam de uma representação étnica robusta, os achados reforçam a literatura que vincula o comportamento de autolesão em adolescente a fatores individuais e contextuais específicos, contribuindo com uma visão geral sistemática que ressalta o risco não clínico do adolescente e a necessidade de identificação precoce e estratégias personalizadas de prevenção e tratamento.

Assim, é fundamental que os profissionais que se deparem com esse agravo tenham em mente que: “A autolesão é considerada um fator de risco para o suicídio, mas a sua presença não indica necessariamente a existência de ideação suicida.

A distinção entre essas duas categorias exige avaliação individualizada, com consequências clínicas e prognósticas distintas. Todavia, o sofrimento psíquico que ambas as situações apresentam é significativo e não pode ser desvalorizado.

Merecem cuidado especial, atenção e encaminhamento das crianças e adolescentes que as vivenciam” (Comportamento suicida e autolesão na infância e adolescência: conversando com profissionais sobre formas de prevenção [recurso eletrônico] / autores Joviana Q. Avanci … [et al.]. – Rio de Janeiro : Faperj, 2023, pg. 17).

Prevenção

Diante de comportamentos de risco dos casos de autolesão e de suicídio, se faz necessário o desenvolvimento de estratégias de intervenções e de prevenção para reduzir a frequência dos mesmos.

Diversos estudos e cartilhas estão disponíveis para que os profissionais que lidam com jovens dessa faixa etária possam aprofundar o seu conhecimento e aumentar a identificação do problema, contribuindo com a diminuição dos fatores de risco, colaborando com o aumento dos fatores de proteção nas dimensões individual e psicossocial, melhorando as notificações dos casos e os buscando encaminhar cada caso de acordo com suas peculiaridades e necessidades.

Em anexo estão alguns desses recursos para o aprofundamento e enriquecimento do conhecimento do tema da autolesão em adolescente.

  1. https://share.google/IhFbygtP0bLOB9E7J
  2. https://share.google/0RXSewndjZB84fn5H
  3. https://share.google/2Hww3G84okYK54SCL
  4. https://share.google/5ATVDfXyzV9svu9HG

Referencias bibliográficas dos estudos referidos: