O ano de 2021 tem sido especial para algumas crianças, entre elas Nicole Oliveira, a Nicolinha, astrônoma amadora mais jovem do mundo. A menina foi escolhida pela SOPERJ como símbolo do Dia das Crianças. Conheça um pouco da história dela.
Conheça a história de Nicole Oliveira, a Nicolinha, a astrônoma amadora mais jovem do mundo
Em meio a tantas dores vividas na pandemia, muitas crianças brasileiras nos ensinaram, por meio de suas histórias, que nunca devemos parar de sonhar. E este foi um ano de muitos sonhos realizados para algumas dessas crianças. E o sonho de todos nós, pediatras, é que um dia todas elas possam concretizar seus desejos.
Neste 2021, em que meninas como Rayssa Leal, a nossa medalhista olímpica, a Fadinha do skate, nos proporcionou inúmeros momentos de emoção, outro nome chamou a atenção no Brasil e em várias partes do mundo. Nicole Oliveira, a Nicolinha, a menina que tem paixão pelo céu e pelas estrelas, é a astrônoma amadora mais jovem do mundo.
Protagonista de uma história impressionante para os seus oito anos de vida, Nicolinha foi escolhida pela SOPERJ como símbolo neste 12 de outubro, Dia das Crianças. Conheça um pouco da história dessa menina que quer se tornar engenheira espacial num futuro muito próximo.
A menina que ama o céu e as estrelas
Quando tinha apenas dois anos de idade, Nicole Oliveira já surpreendia os pais ao revelar um gosto pouco comum a crianças daquela idade. A menina apresentava um apreço espantoso pelo céu e pelas estrelas, um encantamento que deixava os pais, Zilma Janacá Semião, uma artesã de bonecas, e Jean Carlo Semião, analista de sistema, perplexos. Ao ganhar bonecas de presente, Nicole imediatamente tratava de transformá-las em astronautas em sua imaginação, tamanha a sua paixão por este universo.
Aos quatro anos, Nicole, mais uma vez, causou estranhamento ao pedir aos pais um telescópio como presente de aniversário. A mãe admite que ela e o marido sequer sabiam o que era o instrumento e foram pesquisar antes de dar uma resposta a menina sobre o inusitado pedido.
Surpresos, depois de descobrirem do que se tratava, eles explicaram a filha que não tinham dinheiro para comprar o “brinquedo” que ela tanto queria. Nicole, como é bem comum em qualquer criança, logo encontrou uma solução para o problema. Avisou que trocaria a festa de aniversário de cinco anos pelo telescópio que tanto sonhava.
“Quero ver as estrelas de perto, vai juntando o dinheiro mamãe”, determinou, resolvida a não abrir mão de seu maior desejo de infância até aquele momento. Quando levada a lojas para escolher brinquedos, Nicole sempre rejeitava a proposta dos pais de ganhar princesas. Insistia em percorrer outras lojas em busca de astronautas, foguetes e livros. Por isso, ganhou muitas estrelinhas de pelúcia e foguetes.
No entanto, o tão sonhado telescópio só chegou quando a menina completou 7 anos. Como o instrumento era muito caro para o padrão financeiro da família, foi preciso fazer vaquinhas entre familiares e amigos. Até o dono da loja entrou na ciranda familiar e facilitou as condições de pagamento ao saber da paixão da menina pelo instrumento.
Daquele momento em diante a vida de Nicolinha ganharia outra dimensão. A menina se aprofundava cada vez mais em suas observações e leituras sobre o tema.
“Começamos a perceber que ela realmente era apaixonada pelas estrelas e pelo céu, e entendemos que precisávamos dar mais atenção a essa questão”, conta Zilma, que pouco tempo depois recebia outra missão da filha. A menina queria estudar astronomia, desejo que, naquele momento, soava impossível. Afinal, ela acabara de completar cinco anos e o curso de astronomia disponível no Centro de Estudos de Alagoas (CEAAL), em Maceió, só aceitava crianças acima de 12 anos.
Foi necessária muita persistência de Nicolinha, e da família, até que a menina conseguisse ser matriculada no curso de iniciação à astronomia do Centro de Estudos de Alagoas. E assim, aos seis anos, ela deu seu primeiro passo como astrônoma. “Insistimos tanto que eles acabaram baixando a idade de entrada no curso”, lembra Zilma.
Hoje Nicole tem notoriedade mundial e é conhecida como a astrônoma mirim brasileira. Seu currículo contabiliza mais de 30 certificados em temas relacionados à astronomia, um bicampeonato na Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica – ouro em 2020 e 2021 – e é candidata a se tornar a pessoa mais jovem da International Astronomical Search Collaboration (IASC), programa da Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (Nasa) e, por consequência do feito, entrar para o Guiness Book.
É que Nicolinha, que participa do programa Caça-asteroides, um projeto do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), em parceria com a agência espacial norte-americana (Nasa), detectou sete asteroides. Se a descoberta feita por ela for confirmada, seu nome passará a constar no Guiness. Porém, o processo de análise pode levar de três a oito anos.
Apesar de ter conquistado feitos surpreendentes para uma criança de sua idade, a mãe de Nicolinha não gosta que vejam a filha como uma criança superdotada. “Minha filha é uma criança comum, uma menina muito estudiosa que vive como outras crianças da idade dela. Até a pandemia começar ela brincava normalmente com outras crianças, mesmo que algumas não gostassem muito porque ela só queria falar sobre o céu e as estrelas”, diverte-se Zilma.
Com apenas oito anos, Nicolinha é a astrônoma amadora mais jovem do mundo, divulgadora científica, palestrante, caçadora de asteroide, embaixadora do Planetário Rubens Azevedo, localizado no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, em Fortaleza, e cientista cidadã pelo MCTI/IASCA/NASA. A menina também tem crônicas sobre o sistema solar e o planeta Saturno publicadas em três livros feitos em parceria.
Filha única, Nicolinha atualmente mora com os pais em Fortaleza, cidade para a qual a família se mudou em fevereiro desse ano, depois que a menina ganhou uma bolsa de estudos para uma escola da cidade.
Mas a futura engenheira espacial não se contenta apenas em aprender. Nicolinha faz questão de compartilhar seus conhecimentos com outras crianças. Por isso, durante a pandemia, a menina criou o Nicolinha & Kids, um clube de ciência infantil, onde ela e outras crianças do clube digital compartilham seus aprendizados. O clube reúne pequenas (os) de diferentes regiões do país. Nicolinha também tem um canal no YouTube e um perfil no Instagram que juntos reúnem mais de 20 mil seguidores.
Ao ser indagada sobre qual é o seu maior sonho, a menina não pensa duas vezes antes de responder, mesmo cansada após um dia intenso de atividades em sua movimentada agenda.
“Eu me sinto muito feliz, quero ser engenheira espacial”, diz, com jeitinho de criança, mas com a certeza de quem sabe que vai conseguir chegar lá.
E é com essa incrível inteligência que Nicole Oliveira envia a sua mensagem para todas as crianças do Brasil neste 12 de outubro, quando comemoramos mais um Dia das Crianças.
“Se todos trabalharem, sempre poderão alcançar seus sonhos. Nunca desistam dos seus sonhos”.