O Pneumococo e as Pneumonias na Infância

O Streptococos pneumoniae ainda representa um agente importante de mortalidade na infância. Calcula-se que a cada hora morrem duas crianças por doença pneumocócica na América Latina. Continua sendo uma preocupação atual a questão da vacinação anti-pneumocócica em crianças e em idosos. Nesse sentido, o Brasil tem papel destacado na América do Sul pelas campanhas de vacinação de grupos vulneráveis desta última década.
O pneumococo como causador de pneumonia foi e continua sendo muito estudado em vários ramos das ciências da saúde. As descrições microbiológicas do século passado, os aspectos anátomo-patológicos clássicos e a partir da descoberta da penicilina, a sua resposta à terapêutica, tornam esta infecção do parênquima pulmonar, o exemplo da pneumonia típica. Mais de um milhão de crianças morrem por ano no mundo de pneumonia pneumocócica, muito embora já se disponha há mais de 50 anos, de antimicrobianos capazes de tratar a doença. Cabe lembrar que a maioria destas mortes ocorre em paises em desenvolvimento, por várias razões: falta de medicamentos, falta de leitos para os casos graves, dificuldade de acesso da população aos serviços de saúde, percepção tardia da gravidade dos casos pelos familiares e pela equipe de saúde e falta de padronização de condutas. Esta realidade que começou a ser desvendada no início da década de 1980 pela Organização Mundial da Saúde, ainda hoje preocupa. No Brasil, desde então programas e ações de saúde ocupam-se de padronizar condutas para o enfrentamento do desafio da pneumonia na infância.
Do ponto de vista do pediatra, deve-se reconhecer que houve avanços no conhecimento de práticas clinicas adequadas em relação às pneumonias. Ainda assim, o pediatra se vê a braços com incertezas quanto ao reconhecimento de casos graves que necessitem hospitalização e à escolha de antibióticos, a julgar por dados recentes obtidos do concurso para obtenção do Titulo de Especialista em Pediatria (TEP) (Santos et al. 2006).
Durante as décadas de 1980 e 1990 dados mundiais levaram a preocupação crescente quanto a emergência em vários paises, da resistência do pneumococo aos antibióticos. Em 1998 a Organização Panamericana da Saúde iniciou pesquisa em cinco paises da América Latina visando saber se a resistência do pneumococo à penicilina poderia influir na evolução clínica de crianças internadas com pneumonia comunitária. No Brasil participaram centros de Belo Horizonte, Recife, S. Paulo e Rio de Janeiro. O resultado final mostrou que não houve significância estatística entre a resistência bacteriana e a falência terapêutica. Assim, o estudo mostrou que a penicilina e a ampicilina são antimicrobianos que continuam indicados no tratamento de pneumonias na infância no nível hospitalar (Cardoso et al, 2008).
O estudo de Palmeira e cols. publicado neste numero dá idéia da evolução da resistência ao pneumococo no mundo e mostra o importante desafio desse problema, cuja eclosão é muito dependente do uso abusivo de antibióticos na prática diária.
Clemax Couto Sant´Anna
Professor Associado de Faculdade de Medicina da UFRJ
clemax@vetor.com.br
Referências
Cardoso MRA, Nascimento-Carvalho C, Ferrero F et al. Penicillin resistant pneumococcus and risk of treatment failure in pneumonia. Arch Dis Child 2008; 93:221-225.
Santos MARC, Sant’Anna CC, Pinto LAM, March MFP, Marques M,+ Barros RR, Ferreira S. Brazilian paediatricians’ awareness of national guidelines for community-acquired pneumonia. Int J Tuberc Lung Dis. 2008; 12:576-578

Fonte:Revista de Pediatria SOPERJ – Ano 9 – nº 2 – Novembro de 2008