No decorrer da pandemia de Covid-19 surgiu nos EUA, e se espalhou pelo mundo, uma ampla discussão sobre racismo e antirracismo. O movimento ganhou força após o assassinato do cidadão negro George Floyd. Existe no mundo uma nova ordem discutindo esses assuntos, uma nova visão na qual os jovens têm um papel fundamental. E no Brasil os casos são diários. Os mais recentes e emblemáticos foram as mortes do adolescente João Pedro, morto numa ação policial em São Gonçalo, no Rio de Janeiro, e do menino Miguel que caiu de um prédio em Pernambuco.
Vários estudos indicam que a saúde mental da população negra é diretamente afetada pelo racismo estrutural que orienta as relações políticas, econômicas, jurídicas e familiares. O racismo estrutural é a naturalização de pensamentos e situações que promovem a discriminação racial. Nosso país foi o último a libertar os escravos, e isso se reflete até hoje na distribuição desigual de recursos e pior acesso à educação, saúde, habitação, justiça e trabalho.
Existe uma discriminação percebida nas relações cotidianas, o número assustador de mortes na juventude e o encarceramento em massa promovem experiências de exposição contínua a situações perigosas, violentas, humilhantes e constrangedoras desde a mais tenra infância e se associam ao adoecimento físico e psíquico entre negros. Os jovens negros são mais vulneráveis a mortes por causas externas. Em estudo realizado pela USP, a maioria da população estudada não se achava racista, mas essa mesma maioria diz conhecer alguém racista.
Recentemente fizemos na SOPERJ uma Live com o tema “Racismo como causa de adoecimento”. Foi um sucesso já que essa pauta, para muitos colegas da área médica, ainda é um tabu. Precisamos discutir o assunto e orientar profissionais da área da saúde que a questão está presente e que pode causar sofrimento nas nossas crianças e adolescentes.
Aquelas queixas pouco definidas, aquelas investigações sem resultado podem indicar um sofrimento psíquico. O confinamento domiciliar deixou as crianças e adolescentes mais vulneráveis à violência domiciliar de uma maneira geral. Porém, as agressões podem acontecer via internet. Precisamos ficar mais atentos, pois também existe uma onda de ódio racista pela internet, vide ataques de figuras negras de destaque. Tivemos um caso amplamente divulgado na mídia em que uma adolescente de uma escola particular da zona sul do rio sofreu ataques dos seus colegas devido ao tom de pele. É importante repensar o racismo em nossas instituições com ações afirmativas em relação aos nossos pacientes. Aumentar o debate em relação ao assunto.