- O que é?
A obstrução do ducto nasolacrimal é o distúrbio mais comum da via lacrimal na infância. Ocorre quando as lágrimas não conseguem drenar adequadamente do olho para o nariz, levando a epífora (lacrimejamento constante) e secreção recorrente.
O sistema de drenagem lacrimal consiste em: pontos lacrimais → canalículos → saco lacrimal → ducto ducto nasolacrimal→ cavidade nasal.
A obstrução pode ocorrer em diferentes níveis, mas, em lactentes, a causa mais frequente é no final do ducto (válvula de Hasner).
- Epidemiologia
- Ocorre em 5% a 20% dos recém-nascidos, dependendo da série estudada.
(AAPOS – Associação Americana de Oftalmologia Pediátrica e Estrabismo; Paul et al., Ophthalmology, 2011) - Cerca de 90% resolvem espontaneamente até 12 meses.
(Roberts et al., Arch Ophthalmol, 2010) - Bilateral em aproximadamente 20–30% dos casos.
- Principais causas
1- Membrana persistente na válvula de Hasner
→ Cerca de 70–90% dos casos (AAPOS).
- Outras causas menos comuns
- Agenesia ou estenose dos pontos lacrimais
- Estreitamento congênito dos canalículos
- Dacriocistocele
- Infecção neonatal
- Anomalias craniofaciais (ex.: fendas, hipoplasias nasais)
- Como se apresenta? (O que o pediatra deve observar)
Sinais/sintomas típicos (aparecem em dias a semanas após o nascimento):
- Lacrimejamento persistente
- Secreção mucosa ou mucopurulenta
- Pálpebras coladas ao despertar
- Acúmulo de lágrima no canto medial (“olho sempre molhado”)
Achados físicos:
- Refluxo de secreção ao pressionar o saco lacrimal
- Pele periorbitária irritada
- Em casos graves: dacriocistite (edema, hiperemia, febre = urgência)
Diagnóstico diferencial importante:
- Glaucoma congênito → essencial descartar. Este cursa com fotofobia, blefaroespasmo e olhos aumentados (buftalmo)
- Conjuntivites recorrentes
- Dacriocistocele
- Alergias oculares (menos comuns no lactente).
- Conduta inicial (primeiro ano de vida)
- Massagem do saco lacrimal (manobra de Crigler)
- Recomendação de 2–4x/dia
- Ajuda a romper a válvula de Hasner
- Existe evidência de resolução acelerada em múltiplos estudos (Kushner et al., Arch Ophthalmol, 1984)
- Técnica passo a passo
- Lave as mãos antes de iniciar a massagem
- Coloque o dedo indicador na região do saco lacrimal (canto interno no olho, sobre o osso nasal e nunca apertando o globo ocular).
- Faça um movimento firme e contínuo para baixo, em direção ao nariz. Não se deve escorregar o dedo sobre a pele, somente realizar a pressão para baixo.
- A pressão deve ser suficiente para empurrar o conteúdo do saco lacrimal, não é um toque suave.
- Repetir o movimento de 5 a 10 vezes por sessão.
- Realizar 2 a 4 sessões por dia.
- Higiene palpebral
- Uso de gaze e solução fisiológica para remover secreção
- Colírios antibióticos
- Indicados somente em períodos de secreção purulenta abundante
- Não tratam a causa, apenas a colonização bacteriana
- Acompanhamento
- Expectativa é de resolução espontânea em 95% dos casos até os 12 meses
- Revisões cada 2–3 meses quando sintomático
- Quando indicar intervenção?
Sondagem lacrimal (procedimento indicado pelo oftalmologista)
- Recomendada após 12 meses se não houver resolução
- Taxa de sucesso: 85–95% na primeira sondagem (Paul et al., Ophthalmology, 2011)
Entubação ou dilatação com balão
- Indicadas quando a sondagem falha ou quando há estenoses mais complexas
- Sucedem em 70–90% dos casos
Cirurgia (DCR – dacriocistorrinostomia)
- Rara na infância
- Indicada apenas em casos refratários
- Dacriocistite: alerta vermelho
Infecção grave do saco lacrimal → urgência médica.
Sinais:
- Hiperemia intensa
- Inchaço duro no canto medial
- Febre
- Prostração
Conduta imediata:
- Encaminhar ao oftalmologista ou emergência
- Antibiótico sistêmico
- Possível drenagem cirúrgica
- O papel do pediatra
O pediatra tem papel fundamental na detecção precoce, orientação da família e triagem para encaminhamento:
- Suspeitar de obstrução da via lacrimal diante de epífora desde o nascimento
- Ensinar a técnica correta da massagem de Crigler
- Avaliar sinais de infecção
- Encaminhar para oftalmologia em:
- dúvida diagnóstica
- sinais de glaucoma congênito
- ausência de melhora após os 12 meses de idade
- infecções recorrentes
- dacriocistite

