Março/Abril de 2025 | Edição 02/2025 🕘 Tempo de leitura: 20 minutos
Curiosidade 🧐
Mais da metade dos brasileiros que buscam informações sobre vacinas nas redes sociais acessam o Instagram (54%) — e, entre esses, 30% mudaram de opinião após ver conteúdos digitais, sendo que 10% deixaram de vacinar seus filhos. Ou seja: um post pode valer mais que mil bulas — para o bem ou para o mal.
Nesta edição: movimente-se com as novidades
Atualiza Aí 📢 Novas recomendações sobre alergia alimentar: o que mudou?
🥄 Novas recomendações sobre alergia alimentar: o que mudou?
A Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI) e a Sociedade Brasileira de Pediatria se uniram em um novo Posicionamento Conjunto ASBAI/SBP 2025 com recomendações atualizadas para o diagnóstico, prevenção e tratamento da alergia alimentar.
📌 O que você precisa saber?
TEMA
📋 RECOMENDAÇÕES CLÍNICAS
🌎 Fatores para aumento de alergia alimentar
Introdução precoce de alimentos industrializados, disbiose intestinal, poluição, fatores epigenéticos e ruptura da barreira cutânea.
📛 Máximas da alergia alimentar
– Não solicitar IgE específica ou teste de puntura sem história compatível.
– Sensibilização é diferente de alergia.
– Pacientes alérgicos não devem ter outros alimentos retardados.
– Quem já teve anafilaxia deve portar caneta de adrenalina.
👅 Tolerância oral
Depende do contato precoce e regular com a mucosa gastrointestinal. Manter alimentos tolerados na rotina.
🔥 Forma de preparo influencia a reação
Um alimento pode ser tolerado assado, mas não in natura. A dose de tolerância é individual.
🔬 Avaliação da tolerância
– Teste de provocação oral com alimentos assados
– Teste de provocação oral de baixa dose (TPOBD)
🛡️ Vantagens do TPOBD
– Aumenta a segurança frente a acidentes
– Permite imunoterapia oral personalizada
💊 Imunoterapia oral
– Induz dessensibilização clínica
– Deve ser realizada por especialista
– Pacientes em tratamento devem portar caneta de adrenalina
💡 Dica prática:
A decisão quanto à provocação oral ou imunoterapia deve ser individualizada e tomada por alergistas capacitados. E lembre-se: não tratar sensibilização — tratar o paciente com quadro clínico!
✍️ por Maria Fernanda de Andrade Melo Araujo Motta (Pediatra e Alergista/Imunologista – IPPMG/UFRJ)
🚨 ALERTA FAKE NEWS
🧪❓💭 Imunoglobulina humana no tratamento do transtorno do espectro autista (TEA): fato ou fake?
“A imunoglobulina ajuda a tratar crianças com autismo”. ❌ Fake. E perigoso.
💬 Você sabia? Embora pessoas com transtorno do espectro autista (TEA) possam apresentar alterações imunológicas — como autoanticorpos neuronais, disfunção mitocondrial e aumento de citocinas inflamatórias —, não há comprovação de relação causal entre essas alterações e o TEA, tampouco respaldo para o uso clínico de imunoglobulina intravenosa (IGIV) como tratamento.
💉 Uso de IVIG em TEA – Síntese das evidências disponíveis
🔍 Aspecto Avaliado
Evidências encontradas
Justificativa teórica
Presença de alterações imunológicas em alguns pacientes com TEA
Tipo de estudo disponível
Estudos observacionais, amostras pequenas, sem grupo controle
Desenho metodológico
Estudos abertos, sem cegamento adequado, critérios heterogêneos
Padronização do tratamento
Inexistente: doses entre 400 mg/kg e 2 g/kg, esquemas variados
Imunomodulação: púrpura trombocitopênica imune, Guillain-Barré, Kawasaki Reposição: imunodeficiências primárias ou secundárias com indicação formal
📌 Conclusão: O uso de IGIV em TEA não é recomendado, exceto em casos com comorbidades imunológicas definidas. A prática ainda é experimental e deve se restringir a protocolos de pesquisa clínica aprovados por comitês de ética.
✍️ por Ekaterini Simões Goudouris (Profª. do Depto. de Pediatria da FM da UFRJ)
👁️ DE OLHO NO RJ
⚠️🦟 Dengue e desinformação: a epidemia que começa na tela do celular
💬 Você sabia? Segundo pesquisa da IPSOS (out/nov 2024), 67% da população se informa sobre vacinas pelo WhatsApp. No entanto, apenas14% confiam nas redes sociaiscomo fonte. Isso escancara uma crise de desinformação — e uma oportunidade estratégica para a atuação dos profissionais de saúde.
🏛 Destaque: Em fevereiro de 2025, representantes da SOPERJ participaram do evento “O papel da informação no combate à dengue”, promovido pela Takeda e Estúdio Folha. Foram apresentados dados inéditos de um levantamento nacional com 2.000 pessoas sobre percepção de risco e vacinação.
Adriane Silva Cruz (SOPERJ – Pediatria Ambulatorial) e Charbell Miguel Haddad Kury (SOPERJ – Infectologia)
📌 Principais achados da pesquisa IPSOS:
❓ TEMA INVESTIGADO
📊 RESULTADOS
Busca por notícias sobre vacinas
23% diariamente; 30% semanalmente. Entre pais/mães: 31% e 33%, respectivamente.
Canais mais usados para se informar
Postos de saúde (57%), sites de notícias (34%), portais oficiais (33%), redes sociais (31%), médicos (30%).
30% decidiram vacinar; 17% mudaram de opinião, mas permanecem inseguros; 10% optaram por não vacinar.
Fake News mais frequentes
“Vacinas contra a dengue não são eficazes; a gravidade da doença é subestimada; há superestimação do número de casos.”
Percepção de gravidade da dengue
91% consideram a doença grave, 39% já tiveram e 23% conhecem alguém que morreu.
Confiança nas fontes de informação
Médicos (50%), agentes comunitários (44%), TV aberta (41%). Redes sociais: apenas 14%.
💡 Dica prática: Mesmo entre os chamados “céticos”, 71% afirmam que pretendem continuar se vacinando. O medo de eventos adversos ainda é o maior entrave. Profissionais de saúde devem se posicionar como fontes confiáveis e empáticas.
💬 “É nossa missão comunicar com clareza, transparência e empatia. Informação confiável é vacina contra a hesitação.”
✍️por Adriane Silva Cruz (Secretária do DC de Pediatria Ambulatorial da SOPERJ), Charbell Miguel Haddad Kury (Presidente do DC de Infectologia da SOPERJ) e Isabella Ballalai (Presidente do DC de Imunizações da SOPERJ)
👁️ DE OLHO NO RJ
🚩 Alerta de Sarampo: notificou, protegeu. A vigilância começa com você!
🦠 O sarampo é uma doença altamente contagiosa que voltou a circular no Brasil. Para conter surtos e proteger a população, é essencial que todo caso suspeito seja notificado imediatamente, tanto na rede pública quanto privada.
📞 Plantão CIEVS-RJ (Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde): (21) 3971-1708 / (21) 98000-7575 (WhatsApp, 24 horas por dia)
📋 Notificação imediata é obrigatória!
A suspeita clínica deve ser registrada e comunicada ao CIEVS-RJ para investigação do caso. Os profissionais de saúde são peças-chave nesse processo.
📊 Veja abaixo o infográfico com tudo que você precisa saber sobre a vigilância do sarampo
🎥 Ficou com dúvidas? Assista à live imperdível promovida pela SOPERJ no dia19 de março de 2025 – Tema: “Alerta de casos confirmados de Sarampo no Estado do Rio de Janeiro. O que devemos saber? O que podemos fazer?”
👩⚕️ Organização: Dra. Nathalia Moliterno (Diretora de Cursos e Eventos da SOPERJ)
👥 Convidados:
Dra. Monica Stavola (Sanitarista da SES-RJ)
Dra. Patricia Guttman (Pediatra e Infectologista, Membro do DC de Imunizações da SOPERJ)
Dr. Roberto Cooper (Pediatra e Redator do PediNews)
Dra. Beatriz Cordeiro de Souza (Pediatra, Membro do DC de Pediatria Ambulatorial)
Dr. Marcio Nehab (Pediatra e Infectologista Pediátrico, Membro do DC de Ensino)
📺 Assista agora no canal da SOPERJ no YouTube:
✍️ por Bárbara Neffá Lapa e Silva (Redatora do PediNews)
🧠 DE VOLTA AO BÁSICO
Imaturidade x Erros Inatos da Imunidade (EII): quando o sistema imunológico precisa de ajuda
💡 Dica prática:
Nem toda infecção recorrente é sinal de imunodeficiência. Entender o que é imaturidade imunológica ajuda — e muito — na diferenciação clínica!📌 O que você precisa saber:1. 🧬 O amadurecimento do sistema imunológico (SI)Começa ainda na vida intrauterina e continua após o nascimento. Fatores como vacinação, contato com microbiota e exposição a patógenos são essenciais para esse processo. Cada componente amadurece em seu próprio ritmo.2. 🧒 Recém-nascidos e lactentes são mais vulneráveis, especialmente se:
Prematuros
Frequentam creche (ou convivem com irmãos que frequentam)
Expostos a tabagismo passivo
Com vacinação incompleta
📊 Características do sistema imunológico do recém-nascido:
Componente
Alterações
Imunidade inata
A imunidade inata é predominante, com células NK imaturas e pouco citotóxicas
Neutrófilos e monócitos
Migração e resposta inflamatória reduzidas
Sistema complemento
Níveis baixos, especialmente C3
Receptores TLR
Reconhecimento prejudicado
Células T
Predomínio de T naive e T regulatórias. Resposta Th2 prevalente
Anticorpos antipolissacarídeos
Produção inadequada até 2–3 anos
Imunoglobulinas
IgG materna até 6 meses. IgA pode estar baixa até 4 anos. Prematuros recebem menos IgG
3. 🔎 Quando suspeitar de Erros Inatos da Imunidade (EII)? Fique atento aos 10 sinais de alerta atualizados:
📌 Imaturidade ou EII? Casos clínicos frequentes na prática pediátrica:
1. 🍼 Hipogamaglobulinemia fisiológica
Idade: 3 a 6 meses
Causa: Queda de IgG materna + produção endógena imatura
2. 🧪 Deficiência seletiva de IgA
Diagnóstico apenas após os 4 anos
Critérios: IgA < 7 mg/dL + IgG, IgM e linfócitos normais
3. 🛡️ Defeito de anticorpos específicos
Avaliação apenas após 2–3 anos Etapas do diagnóstico:
Dosar IgG para cada um dos 23 sorotipos do Pneumo 23
Vacinar com Pneumo 23
Reavaliar IgG para cada um dos 23 sorotipos em 4–6 semanas
Interpretar com base nos sorotipos exclusivos da vacina e na idade da criança
✍️ por Fernanda Pinto Mariz (Redatora do PediNews)
🌍 PEDIATRIA AO REDOR DO MUNDO
Antivacinismo em foco: argumentos comuns e como enfrentá-los com ciência
Fake news sobre vacinas circulam globalmente, mas o pediatra segue como a principal fonte de confiança para as famílias. Reconhecer os principais argumentos antivacina e saber refutá-los com base científica é papel estratégico da categoria médica.
🧭 De um lado, estratégias clássicas do discurso antivacina. Do outro, a ciência, a lógica e a escuta qualificada. Confira o documento da SBP sobre o tema. Conheça os principais embates e como combatê-los com informação clara e ética.
✍️ por Isabella Loiola Lima e Izabella dos Santos Gomes (Redatoras do PediNews)
📑 SAINDO DO FORNO
Separamos algumas publicações recentes que valem seu clique (e leitura com ☕ na mão):
📌 💤 Melatonina no TEA: cuidado com o modismo!
Novo guideline internacional alerta: melatonina só com avaliação clínica e por tempo limitado. Leia mais
📌 🧠 Influenza e morte neurológica: fique atento!
CDC aponta encefalopatia por gripe em até 13% das mortes pediátricas recentes. Leia mais
📌 🦴 Fraturas em crianças pequenas: violência ou acidente?
A Academia Americana de Pediatria (AAP) atualiza recomendações e reforça importância do inventário ósseo em menores de 2 anos. Leia mais
📌 🧬 Paralisia cerebral (PC): sequenciar ou não, eis a questão!
Genética alterou a conduta em 8% dos casos de PC analisados por exoma. Leia mais
📌 👂 Otite Média Aguda: o que há de novo no manejo de uma velha conhecida? 🔍👶👂
O New England Journal of Medicine (NEJM) destaca o diagnóstico baseado no abaulamento da membrana timpânica e reforça o uso racional de antibióticos. Alta-dose de amoxicilina segue sendo a primeira linha; tratamento de 10 dias ainda é o mais eficaz. Leia mais
📌 🦟 Temos vacina contra chikungunya!
Foi liberada pela Anvisa, no Brasil, a vacina contra chikungunya, fabricada pelo Instituto Butantan em parceria com a Valneva. A proposta, no momento, é utilizá-la em locais específicos com grande número de casos. A vacina pode ser aplicada a partir dos 12 anos de idade. Ela está aprovada pelo FDA desde 2023. Leia mais em: G1 | Pubmed
📌 📲 Caderneta de vacinação vai para o celular!
Nova versão digital já está disponível pelo Gov.br – acesse com sua conta ativa. Leia mais
📌 ⚠️ Desafios virais: 56 mortes em 12 anos
Nova tragédia reacende alerta: menina de 8 anos morre após inalar desodorante em desafio online. Ministério da Justiça anuncia criação de app para restringir acesso a conteúdos perigosos. Leia mais
📌 🦴 FOP e vacinação: novas diretrizes para evitar ossificação heterotópica
A Fibrodisplasia Ossificante Progressiva (FOP) é uma doença genética rara, autossômica dominante, causada por mutações no gene ACVR1, caracterizada por ossificação ectópica progressiva de tecidos moles. A Nota Técnica nº 43/2025 do Ministério da Saúde contraindica vacinas por via intramuscular nesses pacientes, devido ao risco de surtos inflamatórios agudos (flare-ups) e formação de osso heterotópico no local da aplicação. Leia mais
📌 🧫 Tuberculose no Brasil: incidência estabiliza, mas mortalidade ainda preocupa
O Brasil registrou 84.308 casos novos de TB em 2024 (39,7/100 mil hab.) — queda de 0,8% em relação a 2023. No entanto, a mortalidade aumentou 3%, com 6.025 óbitos, e preocupa especialistas. Houve avanço no uso do teste rápido molecular (TRM-TB), que cresceu 60% desde 2021. Crianças até 15 anos representaram 4,1% dos casos, com destaque para a faixa de 0 a 4 anos (33% desse total). A TB permanece concentrada em populações vulneráveis: 8,1% dos casos em privados de liberdade, 3,6% em situação de rua, e 1% em indígenas. Leia mais
📌 🔐 Meta amplia restrições para adolescentes nas redes
Instagram, Facebook e Messenger passam a contar com a Conta de Adolescente, com restrições automáticas para menores de 16 anos. Proibido entrar ao vivo e desativar filtros de nudez em mensagens diretas sem autorização parental. Medida visa prevenir exposição a conteúdos inapropriados e contato com desconhecidos. Expansão para novas plataformas deve reforçar o papel dos pediatras na orientação sobre uso seguro de redes sociais. Leia mais
✍️ por Leonardo Campos (Redator do PediNews)
🏅 PRATA DA CASA
✨ Nossa comunidade é feita de gente que inspira. Confira algumas novidades de quem está por aqui, pertinho da gente:
Vamos celebrar as conquistas, publicações e projetos dos nossos colegas! 📢✨🚀
📌 Tem uma pesquisa publicada? Um prêmio recebido? Um projeto inovador? Este pode ser o seu momento de destaque! Clique aqui e envie sua pesquisa para o Prata da Casa🏆
🏆 Expansão de escolas médicas: qualidade sob risco? 🎓📉
A Dra. Anna Tereza Miranda Soares de Moura, atual presidente da SOPERJ (2025–2027), publicou uma reflexão importante na Revista Brasileira de Educação Médica sobre a abertura de novas escolas médicas no Brasil. No contexto do Programa Mais Médicos, o artigo chama atenção para a necessidade de alinhar a expansão dos cursos às demandas regionais, sem perder de vista a qualidade da formação. O alerta é claro: mais médicos, sim — mas com formação sólida e responsabilidade social. Leia mais
🏆 Cuidando de quem cuida: impacto da deficiência na vida dos irmãos e famílias 👨👩👧🧠
O Dr. Bruno Leonardo Scofano Dias, em coautoria com a Dra. Maura Cecherelli e o Dr. José Luiz Bandeira Duarte, publicou dois estudos relevantes que abordam a qualidade de vida (QV) de famílias e irmãos de crianças com paralisia cerebral (PC) e mielomeningocele (MMC). Os resultados mostram que a sobrecarga dos cuidadores está intimamente ligada à pior QV da família como um todo, especialmente dos irmãos — um aspecto frequentemente negligenciado. A pesquisa destaca a urgência de apoio multiprofissional contínuo. Leia mais:Jornal de Pediatria | Child: Care, Health and Development
✍️ por Leonardo Campos (Redator do PediNews)
🗨️DO OUTRO LADO DA MESA
“Se parar de fumar, o bichinho morre?” – O cigarro eletrônico que seduz e vicia com cara de brinquedo
🎮📱🍓 Você sabia? Já existem vapes que imitam bichinhos virtuais no estilo Tamagotchi — e “morrem” se o adolescente parar de tragar.
Em pleno 2025, o cigarro eletrônico virou um produto com interface de celular, app de música, luzes de LED e sabores coloridos. Parece inofensivo? Pois é exatamente aí que mora o perigo.
🚨 Apesar de proibidos pela Anvisa desde 2009, 1 em cada 5 adolescentes brasileiros já experimentou o cigarro eletrônico. Em 6 anos, o número de usuários saltou de 500 mil para 3 milhões — um crescimento de 500%.
Enquanto isso, o mercado ilegal movimenta bilhões por ano, embalando o vício em formato de brinquedo inteligente. E quando os pais descobrem… muitas vezes já é tarde.
A seguir, você confere o relato emocionante de uma mãe que viveu esse desafio de perto — e ainda tenta resgatar a confiança perdida.
🗣️ Depoimento
“Sempre orientei minhas filhas a nunca experimentarem nenhum tipo de cigarro, drogas ou vícios. E, infelizmente, aconteceu com a minha segunda filha, debaixo do meu nariz. Confiava plenamente nelas, e a primeira filha sempre foi aberta e muito consciente. A segunda, mais fechada e desafiadora. Uma foto que ela colocou no grupo da família, segurando um estojo colorido na mão, chamou a atenção da minha filha mais velha, que me sinalizou. Fui olhar a mochila dela e dei de cara com o cigarro eletrônico. Fiquei em choque e fui abordar já brigando e acusando. Ela, a princípio, falou que era do namorado, mas depois abriu o jogo. Ainda disse que não ia parar, porque não fazia mal e não viciava. De primeira, não dei mais dinheiro, revistava tudo e perdi a confiança que tinha. Meu marido, mais calmo que eu, falou que teríamos que chegar junto e tentar ajudar. Agendei um pneumologista, que explicou o mal que fazia. Eu mandava tudo que aparecia de ruim no Instagram para ela ver. Tentei mostrar que podíamos ajudar a parar — senti que houve melhora. Mas foi bem difícil para mim, enquanto mãe, ainda mais que sou profissional de saúde. Muito desafiador ter que ajudar, educar e tentar conscientizar uma adolescente. Me senti fracassada, pois sempre fui bem atenta, protetora. Levava e buscava das festinhas… mas aconteceu! E eu nem percebi. Não posso culpar as amizades, mas que o meio influencia, não tenho dúvidas. Hoje ela está com 19 anos, já na universidade, e me garante que não usa mais. Espero que continue assim.”
📍 E agora? Como ajudar quando o vape entra em casa — e na vida do adolescente?
O relato que você acabou de ler poderia ser de qualquer família. Não importa o quanto os pais orientem, monitorem ou estejam presentes: a influência dos pares, o marketing disfarçado de tecnologia e os sabores atrativos fazem do cigarro eletrônico uma armadilha sedutora — e silenciosa.
💨 Segundo a Anvisa, que proíbe a comercialização dos dispositivos desde 2009, os cigarros eletrônicos não são inofensivos: contêm nicotina em alta concentração, substâncias tóxicas, metais pesados e solventes que causam dependência, inflamação pulmonar e risco cardiovascular elevado.
📍 Quer ir à fonte? O documento completo da Anvisa pode ser acessado neste link — vale a leitura e o compartilhamento com famílias e colegas.
🩺 Como pediatras, nosso papel vai além da advertência clínica. Precisamos:
Identificar precocemente os sinais de uso ou experimentação;
Criar um espaço seguro para o adolescente se expressar;
Incluir esse tema nas rotinas de puericultura e consulta de seguimento;
E, principalmente, acolher os pais, que muitas vezes se sentem culpados ou perdidos, como no relato acima.
✍️ por Leonardo Campos (Redator do PediNews)
💭 PAUSA PARA REFLETIR…
O MMWR: confiar ou não confiar? Eis a questão.
Autoridades de saúde e especialistas há muito consideram o MMWR (Morbidity and Mortality Weekly Report) como a “voz do CDC” e uma fonte respeitada, onde cientistas de renome divulgam pesquisas de importância para a saúde pública mundial. O MMWR está entre os periódicos de saúde mais citados do mundo.
Entretanto, desde fevereiro, o MMWR encontra-se sujeito a censura e interferência do novo governo americano. A intervenção pode incluir omissões de dados sobre importantes surtos virais recentes nos Estados Unidos, bem como a alteração de abordagens consideradas mais adequadas para questões relevantes da saúde pública.
Temos lido o MMWR como sempre, mas resta o medo de não estarmos tendo acesso a notícias científicas com a mesma transparência de antes. O MMWR sempre foi um canal de informação autônomo — e agora está sob risco de perder essa autonomia.
👉 Vamos esperar para ver… e, infelizmente, começar a ler com espírito crítico o tão tradicional MMWR. Leia mais em:NEJM |CBS News
✍️ por Maria Elisabeth Lopes Moreira (Redatora do PediNews)
👓CALEIDOSCÓPIO
“Se eu tivesse mais tempo”
Se eu tivesse mais tempo…
Se eu tivesse mais tempo, com certeza me manteria mais atualizado. Poderia ler mais, participar de cursos e congressos.
Não só isso, mas se eu tivesse mais tempo, poderia cuidar melhor de mim. Iria à academia, faria mais exercícios aeróbicos, me alimentaria melhor e dormiria as horas que eu preciso.
Pensando bem, se eu tivesse mais tempo, poderia estar mais com as pessoas que eu gosto e que importam na minha vida. Poderia simplesmente estar com elas, sem ser com um objetivo ou motivo definido.
Ah, se eu tivesse mais tempo, poderia fazer coisas que eu gosto e que ficaram para trás. Poderia até pensar em viajar, conhecer novos lugares. Essas viagens, se eu tivesse mais tempo, poderiam ser através dos livros, um prazer que há muito não sei o que é.
Todos nós teríamos uma lista (interminável) de realizações que alcançaríamos, se tivéssemos mais tempo!
A ideia de ter mais tempo é a assassina de qualquer iniciativa por um motivo muito simples e objetivo: não temos mais tempo!
O tempo, junto com a morte, são as únicas coisas democraticamente distribuídas por todos os seres humanos.
Todos os seres humanos têm 24 horas por dia à sua disposição. Não há a menor possibilidade de alguém comprar uma hora adicional de tempo.
Dado que esse fato é inquestionável, o foco não deveria ser na expectativa ilusória e paralisante de termos mais tempo, mas no que farei com o tempo que eu tenho.
Como o volume de coisas que desejo fazer é gigantesco e só disponho de 24h, terei que fazer opções. Opção significa perder — e ninguém gosta de perder. Por isso é tão difícil fazermos opções e muito mais fácil nos lamentarmos pela “falta” de tempo.
Opção significa avaliar o que de fato me importa na vida. O que é realmente importante para mim. E viver coerentemente.
Não é fácil, porque essas escolhas não são totalmente livres. Temos nossos compromissos e obrigações (contas, boletos, aluguel, plano de saúde, comida na mesa) e estes, em parte, são atravessados pela cultura.
Neste momento, a cultura do consumismo nos diz que nossa identidade e sentimento de pertencimento são definidos pelo que temos e não pelo que somos.
Gostemos ou não, é assim — e um pouco mais, um pouco menos, ninguém está livre da cultura.
Isso significa que aquelas obrigações citadas acima podem se tornar mais caras e exigir mais tempo produtivo para obter os recursos que saciem esses nossos apetites.
Uma pergunta então seria: preciso realmente disso tudo?
Consigo viver com um pouco menos e “liberar” tempo?
Talvez esse questionamento seja o mais difícil de respondermos — e de implementarmos.
Existem outros “ladrões” de tempo que precisamos visitar.
Quanto tempo no celular, em mídias, passeando pela internet sem objetivo definido, pulando de canal em canal na TV em busca de “algo”?
Claro que todas essas atividades podem ser escolhas conscientes. E, nesse caso, o que não poderá ser feito por “falta” de tempo é, obrigatoriamente, menos importante.
Toda vez que eu pensar: “ah, como seria bom que eu tivesse mais tempo”, vou tentar me dizer:
👉 Se você não tem tempo para o que realmente deseja, é porque não está sabendo fazer opções.
👉 Não sabe escolher o que não vai fazer e fica com a ilusão de que conseguirá fazer tudo.
✍️ por Roberto Cooper (Redator do PediNews)
❓ E AÍ, DOUTOR(A)?
Febre, dor no joelho e… nódulos pulmonares.
✍️ por Maria Clara Vieira Coelho Ramos (R2 de Pediatria do Hospital Universitário Antônio Pedro – HUAP/UFF) e Bárbara Neffá Lapa e Silva (Redatora do PediNews)
Caso clínico:
Menino de 11 anos, previamente hígido, deu entrada no pronto atendimento após queda de uma laje, com queixa de dor no joelho esquerdo e febre. Foi realizada radiografia, sem alterações, e o paciente recebeu alta com sintomáticos. Evoluiu com piora da dor, febre persistente e prostração, sendo internado com hipótese de artrite séptica e iniciado tratamento empírico com antibióticos.
A hemocultura identificou Staphylococcus aureus sensível à oxacilina, e o esquema foi ajustado. Apesar disso, manteve dor e edema no joelho esquerdo. Exame Doppler mostrou trombose venosa profunda em veia poplítea e tibiais posteriores.
Durante a internação, apresentou dispneia e dor torácica. A tomografia computadorizada evidenciou múltiplos nódulos pulmonares periféricos com cavitação, achados confirmados por angiotomografia. Foi iniciada anticoagulação com enoxaparina em dose terapêutica. Os exames laboratoriais mostraram leucocitose, anemia e elevação de marcadores inflamatórios. O ecocardiograma transtorácico não evidenciou sinais de endocardite.
🗓️ CONSOPERJ 2025 – Prepare seu caso!
📌 Submissão de trabalhos até 28 de maio
🎯 Chegou a hora de transformar aquele plantão inesquecível em ciência! O prazo final para envio de resumos ao XVI CONSOPERJ está chegando. E a grande novidade desta edição é a sessão de Casos Clínicos interativos!
✨ 16 casos serão apresentados oralmente, com especialistas debatendo ao vivo. Diagnóstico fechado? Não é obrigatório. O importante é o raciocínio clínico.
🖼️ Casos não selecionados vão para pôster eletrônico, com 16 comentados ao vivo.
💡 Dica prática: Residentes podem (e devem!) trazer seus preceptores para a apresentação. O palco é colaborativo! 🔗 Saiba mais: www.consoperj.com.br