Desde a descoberta da doença causada pelo novo Coronavírus (COVID-19) na China, médicos e pesquisadores seguem estudando sua evolução natural. Com a disseminação da doença pelo mundo, tornando-se uma pandemia, as informações e estudos chegam de toda parte, muitas confirmando achados iniciais e outras evidenciando novidades acerca do problema.
Desde o início, vimos que as principais manifestações clínicas da COVID-19 são febre, tosse e fadiga (em frequência menor, congestão nasal e dor na garganta). Porém, muitas outras manifestações foram documentadas nos últimos meses em todo o mundo e este é o caso da perda ou redução do olfato (anosmia ou hiposmia) e alterações do paladar (disgeusia).
É importante ressaltar que quaisquer doenças que levem à congestão nasal podem causar redução do olfato, sendo, portanto, pouco específico quando temos a hiposmia relacionada à obstrução nasal. Porém, nos casos da infecção pelo novo Coronavírus o sintoma normalmente ocorre isolado e de forma abrupta, ou seja, se instala rapidamente e sem a presença de congestão nasal na maioria das vezes. Evidências apontam que este sintoma ocorreu em 30% dos casos em um estudo publicado na Coreá do Sul e em 2/3 dos casos em um estudo realizado na Alemanha.
No Brasil, em nossa prática diária durante o enfrentamento da epidemia, temos identificado casos de anosmia (isoladamente) com muita frequência, corroborando os achados internacionais. Deste modo, a Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial, por meio da Academia Brasileira de Rinologia, sugere que pacientes com perda súbita do olfato durante a pandemia (sem congestão nasal associada) devam ser considerados portadores do novo Coronavírus e isolados em domicílio por período de 14 dias a fim de se evitar a propagação do mesmo.
Neste momento, como ainda estamos estudando de forma geral o comportamento do vírus, não recomendamos tratamentos específicos da anosmia, não sendo indicados corticosteroides orais ou tópicos para este fim. A lavagem nasal com solução fisiológica tende a não contribuir com a melhora já que não há secreção nem obstrução nasais nestes casos, portanto, a fim de se evitar maior disseminação do vírus, também não está indicada no tratamento da anosmia isolada. A boa notícia é que as alterações do olfato e paladar relacionadas à COVID-19 parecem ser transitórias na maioria dos casos.
Édio Cavallaro
Presidente do Grupo de Trabalho de Otorrinolaringologia da SOPERJ
Triênio 2019-2021