Autor:Dra Viviane Lanzelotte
Nos últimos anos experimentamos um grande avanço tecnológico na área da Neonatologia, tendo como resultado a sobrevivência cada vez maior de bebês cada vez mais prematuros. Estes recém-nascidos apresentam peculiaridades clínicas e no seu desenvolvimento neuropsicomotor, estando entre elas as alterações oftalmológicas. Nestas últimas destacamos a alteração específica dos prematuros chamada de RETINOPATIA DA PREMATURIDADE.
A retinopatia do prematuro é uma doença decorrente da proliferação desordenada dos vasos sangüíneos da retina que não se encontram completamente desenvolvidos nestes bebês. Esta vascularização que deveria progressivamente se formar dentro do ambiente uterino pode sofrer comprometimento ao amadurecer em um ambiente diferente – o meio extra- uterino, crescendo então de maneira desordenada e formando o componente de proliferação fibrovascular.
Nem todos os bebês prematuros irão apresentar esta patologia. As causas ainda não são completamente esclarecidas, tendo características multifatoriais. Estudos recentes comprovam que a prematuridade e o baixo peso ao nascer são os fatores que mais influenciam o desenvolvimento da doença. Este risco é inversamente proporcional, ou seja, quanto mais prematuro e menor o peso de nascimento, maiores as chances de aparecimento da doença e maior a gravidade da mesma. Há outros fatores que contribuem para o surgimento da retinopatia, sendo consenso o importante papel do oxigênio.
Estes bebês devem ser avaliados, pela primeira vez, entre a 4ª e 6ª semanas de vida por médico especialista, através do exame chamado de oftalmoscopia indireta. Este exame é realizado regularmente, muitas vezes durante a internação da criança, até que toda a retina esteja vascularizada de maneira adequada. Quando há o desenvolvimento da doença, que é classificada em estágios de 1 a 5, o acompanhamento visa avaliar se haverá regressão espontânea (mais freqüente nos estágios iniciais) ou se haverá indicação de tratamento. O tratamento pode ser realizado através de crioterapia ou laserterapia. O último tem sido mais utilizado por apresentar um maior índice de regressão da doença e, principalmente, melhores resultados visuais a longo prazo. Nos estágios mais avançados, nos quais ocorre descolamento da retina, poderão ser indicados outros tipos de cirurgia.
A Retinopatia da Prematuridade é uma importante causa de baixa visão e cegueira em crianças. A OMS a considera uma das principais causas de cegueira prevenível na infância. A detecção precoce e o tratamento em tempo hábil levam a resultados bastante satisfatórios, na maioria dos casos. Assim, a investigação de rotina, nos pacientes expostos aos fatores de risco, dentro do prazo estabelecido pelos protocolos da doença, se faz imperativo.
É também importante ressaltar que a criança prematura, mesmo que não desenvolva a retinopatia, apresenta maior incidência de comprometimento da visão do que a população em geral, como estrabismo, necessidade de uso de óculos, dificuldade de visão de cores, etc. Portanto, deve ter acompanhamento oftalmológico de rotina nos primeiros anos de vida, mesmo que aparentemente não demonstre dificuldades visuais.