Hoje, dia 03/08/2021, assistimos um momento histórico protagonizado pelo Rio de Janeiro no tratamento de alta complexidade das doenças respiratórias. Após um período de mais de uma década sem termos transplantes pulmonares no Estado, o Instituto Nacional de Cardiologia (INC), em Laranjeiras, realizou o primeiro Transplante Pulmonar da Instituição. O Centro de Transplante Pulmonar do INC está inserido dentro de um Instituto Nacional já com experiência em Transplante cardíaco e conta com equipe altamente capacitada.
O transplante pulmonar é um recurso terapêutico bem estabelecido como estratégia de tratamento da insuficiência respiratória avançada e grave, sendo um dos transplantes com maior custo para realização. O primeiro transplante de pulmão da América latina foi realizado em 16 de maio de 1989 na Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre pela equipe do Doutor José Camargo que até 2020 já havia realizado mais de 600 procedimentos. Este mesmo Centro realizou em 1999 o primeiro transplante pulmonar com doadores vivos realizado fora dos Estados Unidos. Atualmente o transplante é predominantemente realizado a partir do doador cadáver.
Com o Rio de Janeiro, o Brasil passa a ter 4 Estados com centros habilitados para o procedimento. São Paulo, que possui dois centros na Capital (INCOR e Hospital Albert Einstein) foi responsável por oito dos 11 transplantes realizados até o primeiro trimestre de 2021, segundo dados do registro da Associação Brasileira de transplantes de órgãos (ABTO). https://site.abto.org.br/publicacao/xxvii-no-1/. O Rio Grande do Sul, que até o momento foi responsável pelos outros 3 procedimentos no Brasil, concentra centros transplantadores que historicamente foram determinantes para o avanço do transplante pulmonar no Brasil. O Instituto Nacional do Coração (INCOR), que também conta com longa trajetória no procedimento, já realizou até 2018 mais de 350 transplantes pulmonares em pacientes com diversas doenças, incluindo crianças e adolescentes e, em 2018 foi escolhido para sediar o primeiro Programa de Capacitação em Transplante Pulmonar para o Mercosul. https://referenciaincor.com.br/cirurgia-toracica/perspectivas-do-transplante-pulmonar/ O Ceará abriga o único Centro de Transplante Pulmonar da região Nordeste e este ano completou 10 anos de existência.
Ainda segundo registro da ABTO, a Pandemia pela COVID-19 trouxe grande impacto sobre a doação e transplante de órgãos no país. Comparado com o primeiro trimestre do ano passado, houve queda na taxa de doadores (26%) e de transplantes em geral, sendo a maior queda no transplante pulmonar (62%). A taxa de notificação de potenciais doadores apresentou leve aumento (2%), entretanto, a taxa de efetivação da doação caiu 25%, devido ao aumento dos casos de contraindicação (50%), não autorização familiar (14%) e parada cardíaca durante o processo de doação (25%). Um dos fatores considerados determinantes para estes números foi o colapso do sistema de saúde, com falta de leitos de UTI, o que ocasionou a suspensão das atividades de transplante em muitos centros.
Em contrapartida são crescentes as pesquisas e relatos que envolvem este procedimento como estratégia para tratamento da insuficiência respiratória terminal na COVID-19. Em abril passado médicos japoneses descreveram com sucesso o primeiro transplante pulmonar em paciente com COVID-19.
Em relação a pediatria, este procedimento foi realizado pela primeira vez no Mundo em 1987, em um paciente de 16 anos com fibrose pulmonar familiar. Apesar de crescente o número anual de transplantes pulmonares na população pediátrica, este ainda é significativamente menor em relação aos adultos, sendo a principal indicação até os 18 anos, a Fibrose Cística (FC) doença genética cujo acometimento respiratório é responsável pela maior parte da morbidade e mortalidade durante o curso de vida destes pacientes.
Ter um centro transplantador em nosso Estado nos dignifica e dá esperança a muitos que aguardam na lista por este procedimento. Sabemos que o foco do país e do mundo ainda é a pandemia de covid-19, porém não podemos esquecer de iniciativas como essa que colocam mais uma vez o nosso estado em destaque na pesquisa e realizações inovadoras no Brasil. Parabenizamos o Instituto Nacional de Cardiologia e desejamos sucesso ao projeto inspirador e que seja uma esperança para todas as famílias que estão aguardando um transplante.
Patrícia Fernandes Barreto Machado Costa– Presidente do Departamento Científico de Pneumologia
Katia Telles Nogueira – Presidente da Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro