Embora a filosofia e a teoria política se esforcem desde a aurora dos tempos a unir os homens, considerando-os inicialmente separados, podemos entender que, ao contrário, a grande questão para os seres humanos, mais do que unir o que é desunido, consiste em separar bem o que inicia unido. Religiões que começaram juntas e bifurcaram, línguas e, sobretudo, para todos, o fato de que nascemos juntos de nossa mãe, unidos a ela, fazendo um com elas.
Winnicott, neste sentido, afirma que não existe o bebê, mas somente a unidade mãebebê.
Aprende-se a se separar bem das coisas tanto mais se consegue separar bem da mãe.
Daí, paradoxalmente, a importância da maternagem: tanto mais suficientemente boa for, mais essa separação se dará sem contradições, sem ambivalências, sem traumas.
A moral e a educação pouco conseguem se este vínculo não preparar tanto o filho quanto a mãe para saberem se separar, sem afetos ruins, esperando que o outro, nesta relação de extremo e especial amor, seja feliz enquanto independente, autônomo, separado. Enquanto que a moral quer dar lições, o que se exige neste sentido é um vínculo de uma qualidade tal que a separação entre os dois se dê pelo modo da univocidade, que fortalece a independência e se fortalece por ela.
Daí a importância, em termos de Saúde Pública inclusive, de a mãe estar bem – condi- Vínculos Fortes: Independência sem Ruptura ção fundamental para que o bebê cresça sem carências afetivas maiores. Vínculos fortes e saudáveis propiciam condições para a independência, sem a necessidade de rupturas ou abandonos, necessários quando os vínculos são frágeis ou patologicamente estreitos, quando o sentimento de culpa toma o lugar da confiança no outro e na vida. Analisaremos no Consoperj como esta confiança se constrói, até mesmo para a surpresa de mães e filhos que a vivenciam.
*Filósofo e psicanalista; Professor adjunto do NESC, da Faculdade de Medicina e do IFCS – UFRJ; Doutorado em Teoria Psicanalítica, Doutorado em Filosofia e Pós-Doutorado em Filosofia
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