Abuso sexual de Crianças e Adolescentes: um problema de saúde pública

Autor:Kenia Di Marco / Sergio du Bocage

A atenção aos casos de abuso sexual em crianças e adolescentes tem aumentado em todo o mundo. Segundo o psiquiatra Roberto Santoro, as conseqüências nefastas nas vidas de suas vítimas e sua relativa freqüência têm transformado este problema numa importante questão de saúde pública. “Embora seja difícil a quantificação, porque nem todos os casos chegam ao conhecimento das autoridades, algumas estimativas sugerem que anualmente pelo menos 0,1% das crianças e adolescentes sofre alguma forma de abuso sexual”.
Santoro revela que as meninas são as vítimas preferenciais, numa proporção de três para cada menino, iniciando-se o problema por volta dos 10 anos de idade. “Na maior parte dos casos, os abusadores são homens, geralmente conhecidos pela criança (comumente parentes, muitas vezes pais ou padrastos). Nas famílias de crianças violentadas são freqüentes as condições de penúria material, alcoolismo, e pais que também foram vítimas de abuso sexual na infância”.
As crianças e adolescentes vitimados apresentam quase sempre importantes alterações de comportamento. “São comuns condutas sexuais inadequadas e exageradas para a idade, ansiedade, queixas de sintomas físicos, baixa auto-estima, medos, depressão, tentativas de suicídio, problemas de sono, comportamento agressivo, baixo desempenho escolar, problemas alimentares e uso de drogas”, explica o psiquiatra. Santoro acrescenta, ainda, que “são freqüentes também estados de transe, em que a criança ou o adolescente fica desligado do ambiente, com um olhar vazio, sem reagir a qualquer tentativa de contato”.
Quando há suspeita de abuso sexual de criança ou adolescente, torna-se obrigatório denunciar o caso às autoridades (Conselho Tutelar, Juizado de Menores e/ou Polícia). Santoro indica que “a retirada da criança do convívio do abusador seja fundamentalmente feita, com a finalidade de evitar novas agressões. A vítima deve ser submetida a exame médico completo, para que se determine a presença de lesões físicas, e se pesquise a possibilidade de doenças sexualmente transmissíveis. Além disto, é necessário que a criança ou adolescente seja avaliado e acompanhado por profissional de saúde mental”.
Se por um lado existe o risco de não reconhecimento do problema, com as conseqüências danosas acima referidas, há também a possibilidade de um falso diagnóstico de abuso. “É necessário, portanto, que os casos em que há suspeita sejam cuidadosamente avaliados por profissionais experientes, para que a vítima não seja induzida a reconhecer uma violência que na verdade não aconteceu. Conhecem-se situações em que mães ou pais em separação litigiosa, por vingança, pressionam seus filhos para falsamente acusar o cônjuge de abuso sexual”, revela o psiquiatra.
Roberto Santoro alerta para algumas formas indiretas de violência sexual contra crianças e adolescentes. “A exibição de condutas sexuais adultas pela televisão ou pela internet pode distorcer o desenvolvimento normal da sexualidade. Muitas vezes são veiculadas as mais diversas perversões sexuais (pedofilia, zoofilia, coprofilia, etc.), de forma facilmente acessível à juventude informatizada. Compete aos pais restringir o acesso dos filhos a imagens que poderão ter efeito traumático para indivíduos ainda em desenvolvimento”, finaliza Santoro.

Fonte:DB Press