Alergia e a Infecção Pelo Coronavírus

Departamento de Alergia e Imunologia

Neste momento da pandemia pelo coronavírus no Brasil, precisamos lembrar que também estamos entrando nas estações do outono e inverno, em que observamos aumento de aproximadamente  40% de infecções respiratórias  e das doenças alérgicas. Isto ocorre por vários motivos como: acúmulo maior de poluentes na atmosfera, redução da umidade relativa do ar, irritação das vias aéreas pelo frio, uso de roupa guardada acumulando poeira, além de haver aumento da concentração e permanência das pessoas em seus domicílios, favorecendo a exposição aos alérgenos domiciliares e agentes infecciosos.

A asma, rinite, rinofaringite e rinossinusite alérgicas são doenças respiratórias alérgicas que acometem pessoas sensíveis, desencadeando sintomas quando entram em contato com alérgenos, como poeira domiciliar, ácaros, pêlos de animais, baratas, fungos, polens, ou agentes irritativos, como frio, fumo e poluentes. Essas doenças, muitas vezes são confundidas com infecções respiratórias, particularmente, neste momento de aumento da frequência de agentes infecciosos respiratórios virais, sendo estimados em mais de 200 tipos como: Rinovírus, vírus sincicial respiratório, Influenza, Parainfluenza, Pneumovírus, entre outros. Estes agentes infecciosos causam sintomas leves em adultos, porém podem causar sintomas graves em crianças pequenas.

De acordo com a  Organização Mundial de Saúde (OMS), aproximadamente 90% das infecções respiratórias que acometem crianças são de causa viral. Adiciona-se a isso, o fato das doenças alérgicas como rinite e asma serem mais prevalentes na infância.

E por quê isso ocorre? A  criança quando nasce recebe anticorpos da sua mãe durante a gestação,  e após o nascimento os anticorpos diminuem progressivamente.  Porém, também progressivamente, a criança após contato com diferentes agentes infecciosos presentes no meio ambiente, passa a formar seus próprios anticorpos. Portanto, durante a fase do amadurecimento do sistema imune, as crianças poderão desenvolver infecções recorrentes, principalmente as viroses que comprometem o sistema respiratório. Mas, com o crescimento e desenvolvimento do sistema imunológico, essas infecções diminuem sua frequência.

Muitas pessoas confundem sintomas respiratórios, dizendo que apresentam diminuição da imunidade, dizem “ tenho baixa imunidade”, e que seus sintomas respiratórios frequentes como espirros, nariz entupido, secreção nasal, dor de cabeça e tosse são de causa infecciosa, quando na realidade, na maioria dos casos são de causa alérgica. Além disso, esses sintomas também podem estar associados a fraqueza, mal estar, porém não desencadeia febre como na gripe ou complica com pneumonia.

No resfriado, diferente da gripe, não teremos febre, dor no corpo ou fraqueza, predominando espirros, nariz entupido e secreção nasal clara, além de iniciar na maioria das vezes com dor e irritação na garganta.

Já a Asma alérgica é caracterizada por obstrução reversível das vias aéreas inferiores, cujas principais  manifestações clínicas são tosse, falta de ar, chiado (miado) no peito ou aperto no peito. Esses sintomas, como na rinite alérgica, são desencadeados por alérgenos ou agentes irritativos.  Porém,  frequentemente, as crises de asma podem ser desencadeadas por infecções virais tanto nas crianças quanto nos adultos.

Até o momento, não sabemos porquê as crianças são afetadas de maneira diferente pelo coronavírus.  

Assim como os adultos, crianças expostas ao vírus podem apresentar os sintomas da covid-19, e têm sido infectadas na mesma proporção que os adultos. Porém, o que sabemos é que a maioria dos casos parece não ter gravidade.

Deve-se manter os medicamentos preventivos prescritos pelos médicos para as doenças alérgicas, como asma e rinite, prevenindo-se os sintomas, a  necessidade de atendimentos de emergência e contribuindo para o diagnóstico correto das infecções respiratórias.

Além de manter os medicamentos preventivos e para controle dos episódios alérgicos, os pacientes deverão seguir as recomendações de medidas de controle ambiental como: forrar colchão e travesseiro com capa impermeável; retirar tapetes e carpetes da casa, limpeza dos móveis e chão com pano úmido, evitar cortinas, manter a casa arejada e ensolarada; evitar ter animais de pêlo como cão e gato, ou em caso de tê-los evitar que entrem em casa e principalmente no quarto e não permitir que fumem dentro de casa.

Mas, será que podemos fortalecer a imunidade das crianças? Não existem medicamentos para aumento da imunidade. Deve-se ter cuidado com a propaganda de medicamentos  e seguir rigorosamente as indicações de seu médico. Além do aleitamento materno, alimentação saudável, medidas de higiene, as vacinas propiciam proteção imprescindível, desencadeando produção de anticorpos específicos, e devem ser administradas regularmente conforme a recomendação do calendário vacinal para a idade ou durante epidemias.

E, quando falamos da infecção pelo coronavírus, devemos reforçar as medidas de isolamento, higiene, alimentação saudável, além das atividades lúdicas e educativas com as crianças. Os pais e cuidadores devem explicar às crianças que “na maioria das circunstâncias, elas estão protegidas das complicações mais graves e que estas são circunstâncias excepcionais, exigindo mudanças de hábitos, e que devemos cuidar de nós mesmos e de nossas famílias”.

 

Abril / 2020