Alimentação no primeiro ano de vida.

O crescimento no primeiro ano é o maior experimentado durante toda a vida. Desde Lavoisier se sabe que não se obtém matéria do nada, é necessário que haja nutrientes para este crescimento. O crescimento e o desenvolvimento são programados por surtos entre células especializadas que dão origem a todos os tecidos e sistemas de nosso corpo. No primeiro ano é quando os sistemas amadurecem ao ponto de permitir que várias habilidades sejam adquiridas pelo futuro adulto, mas também é o período no qual varias conseqüências nocivas tardias poderão se programar. É, portanto, fundamental para um bom prognóstico de vida que os nutrientes adequados a cada fase do crescimento estejam disponíveis e que o Pediatra tenha conhecimentos básicos que o norteiem na busca da melhor nutrição de seus pacientes.
Para começo de conversa uma boa alimentação contém uma boa nutrição, o inverso não é verdadeiro. A alimentação é dependente da cultura, posição social, meios econômicos, estabilidade política, grandes catástrofes e da NUTRIÇÂO. A Nutrição tem como meta ofertar quantidades adequadas de água, energia, aminoácidos, minerais, ácidos graxos, vitaminas e micro minerais. O leite materno é especialmente adequado a atender a alimentação de bebes exclusivamente até os seis meses e deve ser mantido até os dois anos. Quando ele não for utilizado é essencial que a substituição recaia sobre fórmulas infantis que atendam as mesmas especificações nutricionais. Estas atendem muito bem a Nutrição, mas se as condições da alimentação não forem atendidas a criança poderá não ser nutrida adequadamente. Na alimentação complementar, após o sexto mês de vida, algumas palavrinhas mágicas precisam ser lembradas.
Total energético diário; tolerância digestiva; carga de soluto renal; proteínas de alto valor biológico (as melhores são de fontes animais), biodisponibilidade (em especial do cálcio e ferro); ácidos graxos essenciais (Omega 3 e 6); harmonia alimentar; pirâmide alimentar pediátrica. Cada uma destas palavras abre um código a ser explorado pelo Pediatra interessado e as referências são bastante disponíveis (Manual de Orientação do Departamento de Nutrologia, no site da SBP). Um aspecto pouco explorado, mas que é tão importante quanto os conhecimentos técnicos dos nutrientes, é como preparar e dar as refeições à criança que ainda não experimentou deglutir sem sugar. Ela precisa ter o desenvolvimento neuromotor para se sentar firme mantendo a mandíbula horizontalizada e estática. O reflexo de extrusão e a sensibilidade vagal (produz vômitos) precisa ter migrado para a porção posterior da língua. Um alimento de cada vez, um prato bonito quando houver misturas (individualizar os alimentos), consistência de papa, uma colher sem exposição de metal (metal pode dar choques na língua) muito boa vontade e paciência são fundamentais. A repetição de treze vezes (em momentos diferentes) é necessária para se saber se um bebe não aceita determinado sabor. Não adicione sal de cozinha, mas temperinhos com alho, cebola, e “verdinhos”, azeite e carinho são muito bem vindos.
A obesidade é hoje uma das maiores ameaças a saúde em nosso país e respeitar a saciedade, sem estabelecer que cada prato tem que estar limpo ao final de cada refeição, além de óbvio, é medida de saúde pública. O ambiente tem que ser calmo, sem possibilidades de despertar outros interesses (a TV deve estar desligada) e se possível alguém mais estar comendo perto do bebê, o que servirá para que ele estabeleça a correlação e a importância do que está lhe sendo oferecido. Quando for notificar a vovó diga sempre que o neném comeu tudo (o que ele queria e precisava) e que a mamãe e o Pediatra estão satisfeitos.