Orientações: Ansiedade em Crianças e Adolescentes

Ansiedade é uma reação natural do corpo, mas em alguns casos precisa de atenção, podendo se transformar em um distúrbio. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é um problema que afeta em torno de 18 milhões de brasileiros, incluindo crianças e adolescentes.

A presidente do Departamento de Saúde Mental da SOPERJ, Dra. Gabriela Crenzel, explicou que, praticamente, qualquer situação da vida pode disparar sintomas de ansiedade. A médica destacou que à medida que a criança vai se desenvolvendo, ela vai adquirindo maturidade, experiências, capacidade de abstração e outros recursos para lidar com as suas experiências da vida. “A ansiedade é mais comum quando se lida com algo desconhecido, que não se pode compreender e que causa um estado desagradável de tensão, apreensão ou medo.”

Dentre as situações mais comuns que levam à ansiedade, podemos destacar, no caso de bebês, a partir dos 8 meses de idade, a separação de seus pais ou outras pessoas que cuidam delas regularmente.

A especialista esclareceu que a partir do 2º ano de vida, medo de animais, de trovão, de escuro e muitos outros estímulos intensos e/ou assustadores podem ser disparadores de estados de ansiedade.

Orientações e Atenção aos Principais Sinais

A Dra. Gabriela informou que quanto mais jovem é a criança, mais provável que a ansiedade se manifeste por agitação psicomotora, alterações de comportamento, choro frequente, alteração do ritmo de sono e apetite, birras, irritabilidade.

Crianças mais velhas apresentam sintomas semelhantes aos dos adultos, com apreensão ou preocupação excessiva, tensão muscular ou inquietação motora, sudorese, taquicardia, tremores, sensações de desmaio, experiência subjetiva de nervosismo, dificuldade à concentração, entre outros.

Uma recomendação simples é observar as reações da criança no dia a dia, explicou a médica. “A intensidade, a duração, a frequência e os prejuízos que possam estar trazendo. Os pais costumam conhecer as reações habituais de seus filhos e o tempo que costumam levar. Um sinal de alerta para os pais é que a criança passe a precisar de cada vez mais tempo, apoio e flexibilidade para se recuperar.”

Essas manifestações não serão, necessariamente, patológicas. Deve-se sempre correlacionar as reações da criança com o que está acontecendo ao seu redor. “Pode-se suspeitar de que uma criança ou adolescente apresenta transtorno de ansiedade quando os sintomas são recorrentes, causando prejuízos e /ou sofrimento prolongado, desproporcional à realidade”, concluiu Dra. Gabriela.

Quando Procurar o Médico

Os pais devem buscar ajuda quando as medidas que habitualmente eram suficientes para ajudar a criança a se restabelecer vêm fracassando. Após noites mal dormidas, momentos de muita angústia e poucas mudanças, os pais podem perceber que seu repertório de recursos não está tendo a mesma eficácia que anteriormente.

Por outro lado, muitas vezes a família está passando por problemas e pode ocorrer, também, em momentos de maior vulnerabilidade dos pais, que venham a precisar de ajuda em função de sua própria fragilidade.

Tratamento

De forma geral, as crianças podem melhorar muito com medidas simples: criar um ambiente tranquilo e acolhedor, com espaço para diálogo; procurar promover contato com a natureza; bons hábitos de sono e alimentação; exercícios físicos e estimular o brincar livre.

Segundo Dra. Gabriela, uma importante medida terapêutica é a orientação aos pais e o apoio da equipe educacional da escola. “A utilização de estratégias para o manejo dos sintomas, como treinamento de respiração e técnicas de relaxamento pode ser muito eficaz. Para situações de sintomas persistentes, com maior repercussão na qualidade de vida diária da criança e de sua família, há indicação de psicoterapia individual e intervenções terapêuticas com a família. Tanto técnicas psicodinâmicas quanto terapia cognitivo-comportamental têm bons resultados.”

Sobre o uso de medicamentos, ela explicou que a eficácia do uso de psicofármacos para o tratamento de estados de ansiedade em crianças e adolescentes não é amplamente documentada.

“Os medicamentos de escolha, quando criteriosamente indicados, são os inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS), como Fluoxetina, Serotonina e Escitalopram. Deve-se prescrever com a menor dose e pelo menor tempo possível. O uso de benzodiazepínicos em crianças muitas vezes resulta em efeitos paradoxais. Seu uso deve ser reservado para casos graves e associado a outras medidas, e com planejamento de retirada gradual da medicação com a melhora do quadro.”

A médica reforçou ainda que, em muitos casos, os pais de crianças e adolescentes com transtornos de ansiedade também apresentam quadros semelhantes. Portanto, é interessante uma atenção especial a esses pais ou cuidadores, que podem se beneficiar de um encaminhamento para que também sejam cuidados.