Com o surto da nova doença COVID-19 que causa infecções respiratórias com rápida evolução para síndrome respiratória aguda grave coronavírus 2 (SARS-CoV-2/2019-nCoV) [1][2],os pais de crianças portadores de cardiopatias congênitas (CC) perguntam-se: qual é o risco real de meu filho portador de CC nesta pandemia? Trata-se de uma dúvida bastante coerente, uma vez que muitas CC cursam com instabilidade hemodinâmica e hipoxemia, além disso, muitas se associam com síndromes genéticas que cursam com comprometimento imunológico, como é o caso de inúmeras crianças portadoras de síndrome de Down.
Apesar de não haver dados suficientes para se calcular o risco do COVID-19 para crianças com cardiopatia congênita, leva-se em consideração, nestes casos, a experiência adquirida com outras viroses que acometem os cardiopatas como, por exemplo, as infecções pelo vírus Influenza e vírus sincicial respiratório. [3] Assim, o posicionamento oficial conjunto do Departamento Científico de Cardiologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, Departamento de Cardiopatias Congênitas e Cardiologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Cardiologia e Departamento de Cirurgia Cardiovascular Pediátrica da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular, para estimar os pacientes com risco potencial aumentado quanto à infecção pelo COVID-19 orienta que seja avaliado o estado hemodinâmico (insuficiência cardíaca), imunológico (ex. imunossuprimidos e/ou imunocomprometidos) e as co-morbidades associadas ( ex.hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, câncer, doença cardiovascular crônica, doença pulmonar crônica , asma,hipertensão arterial pulmonar ,doença renal crônica etc.). Cardiopatias congênitas ou adquiridas sem repercussão hemodinâmica, incluindo as que já foram corrigidas tanto por cirurgia ou por cateterismo, têm o risco semelhante ao da população pediátrica geral e a evolução da doença provavelmente será benigna. Mas os casos em que o paciente tem repercussão hemodinâmica (insuficiência cardíaca) e/ou hipoxemia (cianose), trata-se de um grupo de risco para COVID-19, pois diante da infecção pode apresentar pior prognóstico, uma vez que já apresenta co-morbidades associadas e piores condições ventilatórias. As crianças transplantadas podem ter uma evolução muito rápida, por isso são de risco muito elevado.
Posicionamento oficial conjunto proposto recomenda manter a criança com certo grau de isolamento em domicílio, evitando-se frequentar locais de aglomeração. Deve-se estar atento aos cuidadores, evitando-se ao máximo o contato com pessoas com sintomas gripais. O benefício da realização da consulta ou exame cardiológico deve ser considerado superior ao risco de exposição ao COVID-19.
Os sintomas iniciais na maioria dos pacientes COVID-19 incluem febre, mialgia, tosse e dor de garganta [3] que são comuns em outras infecções agudas por vírus respiratórios[4]. A maioria dos casos parece ser leve e a maior proporção dos pacientes hospitalizados tem pneumonia com opacidades de vidro moído mais precocemente diagnosticada em tomografia computadorizada do tórax.
Poucas crianças com infecções por SARS-CoV-2 foram relatadas, e a maioria delas apresentava sintomas clínicos leves. Acredita-se que o SARS-CoV-2 seja transmitido através de grandes gotículas respiratórias e contato próximo. A transmissão indireta por fômites contaminados também pode ser uma fonte de transmissão. [5][6]. Por isso deve-se seguir rigorosamente as recomendações de isolamento social, lavar as mãos com água e sabão, usar álcool em gel, manter os ambientes bem ventilados, manter sempre a distância mínima de 1 metro de outras pessoas, evitar abraços, beijos e apertos de mão, não compartilhar brinquedos ou outros objetos com outras crianças, cobrir o nariz e boca ao espirrar ou tossir e evitar aglomerações.
A realização de consultas de rotina eletivas, aquela que não é considerada de urgência e emergência, deve ser postergada. Os pacientes com comprometimento clínico e hemodinâmico devem manter seus agendamentos. Recomendamos apenas um acompanhante na consulta para evitar aglomeração na sala de espera. Outra orientação é o aumento de intervalos entre os agendamentos. No caso de portadores de cardiopatias que estão estáveis, o adiamento da consulta pelos próximos 3 meses não acarretará agravamento do quadro cardiológico nem da estabilidade clínica. Em relação ao uso de diuréticos, betabloqueadores, inibidores de ECA e BRA, ácido acetil salicílico e anticoagulantes, até o momento, não existem evidências científicas definitivas que justifiquem a [2] suspensão destas medicações. Unidos venceremos essa pandemia!
- Referências
[1] Holshue M, DeBolt C, Lindquist S. Equipe de Investigação de Casos do Estado de Washington 2019-nCoV. Equipe de Investigação de Casos do Estado de Washington 2019-nCoV. Primeiro caso de 2019 novo coronavírus nos Estados Unidos. N Engl J Med. 2020;382:929 – 936.
[2] Rothan H, Byrareddy S. The epidemiology and pathogenesis of coronavirusdisease (COVID19) outbreak. J Autoimmun. 2020 Feb;26(102):433 –. Availablefrom:doi:10.1016/j.jaut.2020.102433.[Epubaheadofprint]Review.PubMedPMID:32113704.
[3] Chen N, Zhou M, Dong X. Características epidemiológicas e clínicas de 99 casos de 2019 nova pneumonia coronavírus em Wuhan, China: um estudo descritivo. Lancet. 2020;395:507 – 513.
[4] Kim J, PG PC, Oh Y. Kim JY, Choe PG, Oh Y, Oh KJ, Kim J, Park SJ, et al. O primeiro caso de 2019 nova pneumonia coronavírus importada para a Coréia de Wuhan, China: implicação para medidas de prevenção e controle de infecções. J Korean Med Sci. 2020;p. 35 – e61. 2
[5]ACC CLINICAL BULLETIN COVID-19 Clinical Guidance For the CV Care Team. March 6, 2020 Disponível em https://www.acc.org/latest-in-cardiology/features/accs-coronavirus- -disease-2019-covid-19-hub#sort=%40fcommonsortdate90022%20descending Acesso em março de 2020
[6]- Protocolo de Manejo Clínico para o novo Coronavírus – Ministério da Saúde. Disponível em https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2020/fevereiro/05/Protocolo-de manejo-clinico-para-o-novo-coronavirus-2019-ncov.pdf.www.saude.gov.br Acesso em março de 2020.