As famílias estão passando por um momento de ansiedade, insegurança e medo, que só podíamos imaginar em filmes, uma realidade inimaginável.
Devemos, nesse momento, criar e oferecer instrumentos para que diante de tantas incertezas algo possa trazer algum alento. Sabemos que ansiedade e depressão, que já se faziam presentes em nossa sociedade, tiveram grande aumento. O isolamento social, aliado ao medo do desconhecido, tem agravado esses transtornos.
Conheci recentemente um conceito chamado antifragilidade, que se diferencia da resiliência por promover um ser humano que, flexível às intempéries, não só supera o desafio, como se torna melhor. Devemos todos encarar esse momento como um grande desafio para toda a humanidade.
A Homeopatia tem como princípio fundamental a cura pelo semelhante. Com o isolamento que a nossa sociedade atravessava, pelo individualismo crescente, egoísmo, excesso desgovernado de mídias digitais, tornou-se comum assistirmos a famílias reunidas em almoços de domingo sem conversar, cada qual com seu celular. Observamos, no entanto, que o isolamento social agora faz renascer uma conexão emocional que parecia perdida entre as famílias.
É preciso modificar o nosso olhar e compreender que também podemos ser colaboradores e não apenas reféns do medo. Uma bela forma é focar no momento presente. O foco no momento presente ajuda a sermos mais proativos e uma excelente ferramenta é o mindfulness.
Proponho descrever algumas atividades que podem ajudar pais e filhos a atravessar esse desconhecido com um pouco mais de serenidade. Também é importante reduzir a exigência consigo mesmo e substituir pela autocompaixão.
Podemos, sim, juntos, colaborando e contando com os talentos e habilidades de cada um ser um raio de luz na vida do nosso semelhante e essa luz certamente se refletirá também sobre nós.
O mindfulness é conhecido como meditação de atenção plena. E o que é isso? É exatamente o que o nome diz: estar plenamente atento ao que se faz. É trazer toda a nossa atenção para o momento presente.
Parece estranho em um primeiro momento, mas se pararmos para pensar quantas vezes nossa mente dispersa para o passado ou, nesse momento, para a incerteza do futuro, começa a fazer sentido.
É perceber que temos e precisamos estar focados no momento presente para tentar suavizar a ansiedade que todos, sem exceção, estamos sentindo nesse momento mundial.
Uma frase que muito me tocou é de que estamos todos em um mesmo oceano, mas cada qual em um barco. E como atravessar esse mar turbulento? Sugiro algumas práticas de mindfulness nesse momento.
1) Meditação do escovar os dentes
Hoje, ao escovar seus dentes, preste atenção ao colocar a pasta na escova, como são as cores da escova, a cor da pasta de dentes, o movimento feito por seu braço, a água tocando sua mão e perceba quantas vezes, não precisa contar, só perceba, como o seu pensamento vagou, durante essa simples atividade. Perceba como não ficamos inteiramente presentes em uma pequena atividade do nosso cotidiano.
Vamos agora chamar nossos pensamentos de macaquinhos saltitantes. Procure praticar diariamente.
2) Meditação dos personagens
Você sozinho ou acompanhado, excelente para a família:
Ande pela sala ou por um espaço amplo.
Você agora caminha como se fosse seu herói ou heroína preferidos.
Observe sua postura corporal, observe como se sente.
Agora caminhe como se tivesse tirado a nota máxima em um trabalho importante para você.
Agora caminhe como se a nota não tivesse sido de acordo com seu empenho e dedicação.
Observe como a imagem mental influi na sua postura corporal, no seu estado emocional.
Agora caminhe como um astronauta que pisou na lua!!! Sinta a emoção!
Lembre- se: você flutua! Gravidade baixa na lua!
Opa!!! Agora corra!!! O chão é lava.
Agora, você escolhe:
Caminhe na grama ou na areia da praia e sinta o sol no seu rosto, sinta a brisa refrescante.
Respire profundamente e exale o ar sem pressa.
Perceba como, apesar de isolados, nossa imaginação é livre, e podemos estar onde quisermos.
Observe como nossos pensamentos podem ser nossos grandes aliados ou nossos sabotadores.
Observe como as sensações corporais e sentimentos andam de mãos dadas.
3) Meditação pula pula
Agora vamos pular.
Vamos pular, vamos pular, vamos pular.
Brincando de pular.
Pulamos e colocamos a mão no peito.
Sinta como o coração bate rápido enquanto pulamos, e continua acelerado logo que paramos de pular.
Aos pouquinhos, vai recuperando o seu ritmo de repouso.
Nossos pensamentos também são desse jeito.
Às vezes, muito acelerados, nos deixando ansiosos, aqueles macaquinhos saltitantes, lembra?
4) Meditação do detetive
Agora escolha um local confortável. Olhe ao seu redor e feche seus olhos.
De olhos fechados tente lembrar o que você viu no ambiente em que se encontra.
Agora, abra os olhos e olhe novamente!
Está tudo aí!
Tem algo em que você não tinha reparado antes?
Essa atividade é muito boa para fazer em dupla ou em grupo.
Podemos comparar o que percebemos do ambiente e como está nossa atenção.
5) Praticando nossa atenção
Escolha um objeto, pode ser qualquer coisa, pode ser um jarro, uma planta, uma paisagem de sua janela e apenas observe atentamente.
Observe cores, relevo, tudo com muita atenção e cuidado.
Depois, pegue uma folha de papel e desenhe o que percebeu.
Importante colorir com lápis de cor.
Faça e observe como estão os macaquinhos saltitantes.
Não se preocupe, toda vez que o macaquinho saltar, traga gentilmente para o que está fazendo.
Importante: seja gentil com você mesmo!
Bibliografia consultada:
- Christopher Willard. Raising resilience: The wisdom and science of happy families and thriving children, 2017.
- Vitor Friary. Mindfulness para crianças:estratégias de terapia cognitiva baseada em mindfulness, 2018.
- Andy Puddicombe. O guia Headspace para meditação e mindfulness, 2019.
- Mark Willians e Danny Penman. Atenção Plena: Mindfulness. Como encontrar a paz em um mundo frenético, 2015.
- Samuel Hahnemann. Exposição da Doutrina Homeopática ou Organon da Arte de Curar, 1995.
Departamentos de Homeopatia e de Saúde Escolar/ SOPERJ
Denise Silva Martins Medrado da Costa
Maio / 2020