O maior desejo do menino Samuel Messiades, de 11 anos, morador da Cidade de Deus, Zona Oeste do Rio de Janeiro, nesse momento é que a pandemia de COVID-19 termine logo. E seu desejo é justificado. Afinal, desde que começou a quarentena, o menino, que vive com a mãe, Samanta, e a irmã Laura, de 7 anos, viu sua rotina se transformar abruptamente.
O sonho de Samuel é poder voltar a frequentar a escola, onde cursa a 6ª série do ensino fundamental II, para encontrar os amigos e a professora. Mas sua lista de sonhos inclui, ainda, voltar a correr livremente pelo gramado perto de sua casa com os amigos da comunidade e jogar bola como sempre fez antes da pandemia tirar muito da sua alegria.
“Fiquei triste, com muito medo, morreram muitas pessoas, a gente não pode sair de casa. Às vezes nem tenho vontade de fazer o dever, o jeito é ficar jogando online com meus amigos virtuais”, conta o menino, sem esconder a tristeza que está sentindo por ter perdido temporariamente a liberdade de brincar, se divertir e estudar como sempre fez.
Aluno de uma escola da Rede Municipal, Samuel não teve aulas online como as crianças da rede privada de ensino. Nos últimos meses, a escola passou a enviar links de workshops para o menino acompanhar em casa, assim como orientações de vídeos do Youtube. A matéria, até agora, tem sido de revisão da série anterior, através de exercícios. A mãe, Samanta, recebe as apostilas com o material, mas nem sempre tem condições financeiras para imprimir e devolver ao colégio com as tarefas feitas por Samuel.
Mãe solteira, Samanta, de 31 anos, luta com dificuldade para sustentar e educar os filhos. Produtora Cultural na Cidade de Deus, ela admite que, infelizmente, não pôde ajudar o primogênito como gostaria com as tarefas escolares. No início da pandemia, passava o dia distribuindo cestas básicas aos moradores, o que lhe garantia uma pequena quantia para levar alimento para casa. Mas o trabalho acabou e agora ela só conta com a ajuda emergencial que vem recebendo do governo. Samanta teme que o filho seja reprovado por não conseguir acompanhar as tarefas escolares.
Indagado se gosta de estudar, Samuel responde rapidamente.
“Sou bom aluno, gosto muito de estudar matemática e ciência. Ter aula é bom”, diz ele, para depois reclamar que está ficando “gordinho e barrigudinho” porque não está mais frequentando a escola, onde faz exercícios e corre com os amigos.
“Tenho que ficar dentro de casa, então fico vendo desenho na televisão e jogando virtualmente. Gosto de estudar, mas desse jeito não tenho vontade”. Samuel frequenta a escola em horário integral para que a mãe, que cursa a faculdade de jornalismo, graças a uma bolsa do PROUNI, possa estudar e trabalhar para garantir um futuro melhor para os dois filhos.
Samuel também gosta de médicos e faz um pedido aos pediatras, como os que já cuidaram dele e da irmã em diversas situações.
“Por favor, cuidem muito bem das crianças!”