*DISPOSITIVOS ELETRÔNICOS PARA LIBERAÇÃO DE NICOTINA (VAPING): IMPACTO NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA

Dispositivos Eletrônicos para Liberação de Nicotina (Vaping): Impacto na Infância e Adolescência

Comercializados desde 2007, os sistemas eletrônicos de entrega de nicotina, conhecidos como cigarros eletrônicos (e-cigs, e-cigarettes ou vaping) vem ganhando mercado em todo mundo e recentemente seu uso foi relacionado a formas graves e difusas de doença pulmonar. (1,2,3)

Normalmente estes dispositivos são compostos de uma estrutura contendo uma bateria, um atomizador e um recipiente liquido com quantidades variadas de nicotina, aromatizantes, água, glicerina e propilenoglicol (1). Contaminantes identificados incluem hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, aminas, produtos químicos orgânicos voláteis e químicos orgânicos, como metais tóxicos, cujos riscos para a saúde permanecem mal caracterizados. Além da nicotina, os cigarros eletrônicos podem ser usados para fornecer uma variedade de outros drogas recreativas, incluindo óleos à base de THC. (2,3)

Na pediatria o impacto é alarmante, atingindo crianças e adolescentes. As crianças são expostas na maioria das vezes em casa e possuem riscos maiores de hospitalização e evolução grave em relação as que foram expostas a cigarros comuns. Segundo Forrester e col. a intoxicação pode ocorrer por via digestiva (mais comum), dérmica ou inalação. Sabores agradáveis e embalagens coloridas atraem crianças pequenas que acabam por ingerir o conteúdo ou inalar as substâncias.(4)

Entretanto é a adolescência a faixa etária mais vulnerável. A divulgação maciça em mídia eletrônica, o design moderno do dispositivo, a aromatização e a ausência de produção dos odores gerados pelos cigarros comuns rapidamente tornaram o consumo absurdamente elevado entre adolescentes em vários países do mundo. (4) Nos EUA, estudos mostram aumento de 900% no uso destes dispositivos nesta faixa etária, superando inclusive os cigarros comuns, no período entre 2011 e 2015. (5)

A intoxicação aguda nas crianças pode levar ao aumento da frequência cardíaca, arritmias, hipertensão arterial, convulsões, coma e insuficiência respiratória. Já as repercussões conhecidas do consumo da nicotina nos adolescentes e adultos vão desde dependência, redução dos reflexos, transtornos do humor, déficits de atenção até aumento significativo do risco de iniciação ao tabagismo e dependência a drogas. (6)

Não obstante todas as consequências já conhecidas, este mês, Serviços de Pneumologia americanos descrevem casos de doença pulmonar difusa grave inclusive com óbitos entre usuários de dispositivos eletrônicos, havendo fortes indícios de que haja relação causal direta. A maioria dos casos ocorreu em jovens (média de idade de 19 anos) e os exames de tomografia de tórax mostram doença pulmonar difusa. Os pesquisadores observaram alguns padrões radiológicos e na microscopia que podem sugerir relação da doença com as substâncias oleosas utilizadas nestes dispositivos. (2,3,4,)

Sociedades Médicas Pediátricas, inclusive a SBP e suas filiadas, já se pronunciaram alertando sobre os riscos para nossas crianças e adolescentes. Nos países em que o Vaping tem usa comercialização autorizada, inúmeras iniciativas já foram tomadas como a obrigatoriedade de embalagens resistentes a crianças, proibição de uso de flavorizantes e embalagens com imagens de brinquedos ou personagens infantis. No Brasil, os cigarros eletrônicos têm sua importação e comercialização proibidas. (6)

O tabagismo é uma doença pediátrica e inúmeras conquistas, nós pediatras, já tivemos no sentido de mobilizar a sociedade em lutar pelas nossas futuras gerações. Este momentopede a nossa atenção e mobilização.

Referências

1/. National Academies of Sciences, Engineering, and Medicine. 2018. Public health consequences of e-cigarettes. Washington, DC: The National Academies Press.

2. Christiani, D. Vaping- induced lung injury.  New England Journal of Medicine, september 6, 2019, at NEJM.org

3. Henry, Travise col. Imaging of Vaping- Associated Lung Disease. New England Journal of Medicine, september 6, 2019, at NEJM.org

4. Forrester MB. Pediatric exposures to eletronic cigarettes reported to Texas Poison Centers. J Emerg Med 2015 Aug;49(2):136-42.

5. Dutra LM, Glantz SA. Electronic cigarettes and conventional cigarette use among US adolescents: a cross-sectional study, JAMA Pediatr. 2014;168 (7):610–617.

6. Brasil. Ministério da Saúde (MS). RDC N° 46 de 28 de Agosto de 2009. [Internet] 2017. Disponível http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2009/res0046_28_08_2009.html

7. Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamentos científicos de Pneumologia, Toxicologia e Otorrinolaringologia. Dispositivos eletrônicos de liberação de nicotina (cigarros eletrônicos e similares): “Lobos em pele de cordeiro”. 2018. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/20531e-DocCient_-_DispEletr_entrega_nicotina_e-cigs.pdf;  acesso em: 28 jan 2022.

Acesso em 09/09/2019.