Erradicação da Sífilis Congênita : um desafio longe de ser superado.

A Sífilis Materna e a Sífilis Congênita ainda permanecem como um obstáculo à saúde da mulher e da criança. Doença prevenível e de tratamento simples, depende, para sua eliminação, de fatores que envolvem conhecimento, responsabilidade, compromisso e capacidade de profissionais e gestores da saúde.
Apesar de existirem normas e diretrizes nacionais que orientam para a obrigatoriedade dos exames de triagem maternos na primeira consulta, terceiro trimestre e na alta (mesmo que realizado no último trimestre) e da disponibilidade de manuais para manejo correto da sífilis materna e da criança, esbarramos em inúmeras falhas graves. Conseqüentemente, a prevalência desta infecção permanece em níveis alarmantes.
Em nossa prática, detectamos como principais problemas para o controle da doença o descumprimento das orientações obrigatórias como: aconselhamento sobre a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis mesmo durante a gestação, a falta de realização do exame materno no pré-natal (1a consulta, 3o trimestre) e no parto (condição para alta da maternidade), interpretação incorreta dos resultados sorológicos, tratamento inadequado para o estágio da a sífilis materna, ausência de tratamento do parceiro (o qual, mesmo com VDRL negativo, deve receber 2,4 milhões de U de penicilina benzatina como profilaxia de contactante) e o acompanhamento inadequado da criança, principalmente quanto ao acometimento neurológico, auditivo e oftalmológico.
O estímulo através de campanhas educativas sobre a prevenção de DST, realização de pré-natal, oferta de serviços de assistência de qualidade e realização de testes de triagem, independentemente de situações de risco, permitirão o conhecimento do estado infeccioso destas gestantes e a adoção de medidas terapêuticas, no caso da sífilis.
O treinamento dos profissionais de saúde quanto à interpretação simplificada dos resultados sorológicos para sífilis nas gestantes, a monitorização do tratamento destas e de seus parceiros, além da utilização dos critérios diagnósticos preconizados para sífilis congênita, contribuirão na redução desta doença.
Devemos lembrar que a qualidade do atendimento à gestante e ao seu bebê deve ser seguida em todos os locais, independentemente de serem hospitais públicos, conveniados ou privados, seguindo as normas do Ministério da Saúde para prevenção da Sífilis Congênita. Nós, pediatras, temos o dever de superar este desafio, não só adotando as condutas corretas, mas cobrando a mesma postura dos demais profissionais.
Conduta nas gestantes com sífilis
Sífilis primária: Penicilina G Benzatina 2,4 milhões UI – IM,
Sífilis secundária e latente recente(menos de 1 ano de evolução): Penicilina G Benzatina 2,4 milhões UI – IM, duas doses com intervalo de sete dias, dose total 4,8 milhões UI.
Sífilis latente tardia, terciária ou duração indeterminada: Penicilina G Benzatina 2,4 milhões UI – IM, três doses com intervalo de sete dias entre as doses, dose total 7,2 milhões UI.
Tratamento do parceiro: mesmo na impossibilidade da realização do seu diagnóstico laboratorial.
VDRL Negativo: Penicilina Benzatina 2,4 milhões UI, IM, dose única Profilaxia para contactante de sexual de sífilis.
VDRL Positivo (qualquer titulação): Penicilina Benzatina 2,4 milhões UI – IM, três doses com intervalo de sete dias entre as doses, dose total 7,2 milhões UI Na homepage da Soperj (www.soperj.org.br) você poderá encontrar o fluxograma de tratamento da criança, da gestante e do parceiro.
Denise Cardoso das Neves Sztajnbok, pelo Comitê de Infectologia da Soperj.