As férias escolares são um período que não serve apenas para brincar, descansar dormindo até tarde, fazer viagens e programas especiais. Nas férias, crianças e adolescentes têm possibilidades de ampliar seu convívio social e conhecimento cultural, de despertar interesse por aquela atividade física que ficou em segundo plano (como natação ou outro esporte), além de terem vantagens cognitivas. Férias são momentos importantes para os estudantes relaxarem e se prepararem para novos conteúdos, com atenção e disposição renovadas. Afinal de contas, aprender é bom, mas pode cansar!
Nessa perspectiva, algumas questões devem ser consideradas pelos pediatras, pela escola e pelas famílias ao pensar em curtir as férias de forma segura, driblando os possíveis riscos da pandemia de COVID-19. Infelizmente nem todas as famílias podem tirar férias de qualidade. No momento, mesmo para aquelas que têm recursos, os cuidados com a segurança são imperativos.
É possível planejar férias nos moldes tradicionais? A resposta que vem à mente mais prontamente é que não! No entanto, acreditamos que o retorno gradual às aulas presenciais, que vem acontecendo desde o ano passado em escolas brasileiras e pelo mundo, já ensinou bastante sobre os cuidados que devemos adotar para minimizar os riscos de contrair e de transmitir COVID-19. Assim, pode-se afirmar que muitas atividades típicas das férias podem ser adaptadas para aproveitar seus benefícios sem correr riscos desnecessários.
Crianças e adolescentes cada vez mais usam seu tempo livre para games e outras atividades com uso de telas e internet. Nessas férias, recomendamos que essa seja a última opção, especialmente para aqueles estudantes que tiveram grande parte (ou a totalidade) de sua escolaridade por meio de aulas remotas, usando celular, tablet e computador em demasia (com o potencial de causar problemas ortopédicos, visuais, comportamentais e outros). Recomendamos brincadeiras e passeios ao ar livre, no maior contato possível com a natureza (sós ou em pequenos grupos que já tenham contato próximo). Num estado rico em belezas naturais, pontos turísticos e locais de interesse histórico, não faltarão oportunidades para aproveitar.
Num momento ainda delicado da pandemia, mas já contando com expressiva parcela da população vacinada e com queda do número de novos casos da doença, das mortes e da ocupação de leitos hospitalares, é possível pensar em atividades fora de casa nessas férias. Mas certamente levando em conta as restrições das autoridades locais, com relação a frequentar praias, parques e espaços culturais e esportivos. Havendo possibilidade de uso desses locais, os núcleos familiares podem desfrutar deles, verificando se os ambientes estão cuidados e sem aglomeração. Antes de tudo, uma verificação essencial: todos devem estar assintomáticos, antes de frequentar ambientes coletivos. Cuidados adicionais são os que já se tornaram parte de nossa rotina: uso correto de máscaras e higienização frequente das mãos, evitando tocar o rosto. É importante conhecer a segurança e a higiene do transporte que será usado para os deslocamentos.
Visitas a museus de arte, história e ciência e outros espaços culturais e esportivos são bons programas, se estiverem bem preparados para atender o público (observando sempre se os protocolos sinalizados estão sendo seguidos corretamente).
Pequenas viagens podem ser programadas, de preferência para locais com espaços ao ar livre, como hotéis fazenda, por exemplo. Isso incentiva a retomada da recuperação econômica do setor de turismo, hotelaria, restaurantes, desde que cumpram as exigências sanitárias. Prestar muita atenção na higiene e na forma de servir as refeições. Priorizar as brincadeiras e interações dentro do núcleo familiar que viaja junto.
Férias em casa também podem ser prazerosas. Muitas famílias desenvolveram expertise em conviver com crianças e adolescentes durante o período de fechamento total das escolas. Brincadeiras, jogos, dança, música, esportes, culinária e tantas outras atividades, divertidas e com o potencial de fortalecer os vínculos familiares, podem fazer parte da programação dessas férias. É sabido que costuma haver mudanças de hábitos, às vezes bem radicais, principalmente alimentares e no sono, que devem ser evitadas pelos prejuízos à saúde. Recomendamos que tais mudanças sejam suaves, valorizando o descanso e uma alimentação mais livre, mas nutricionalmente correta, sem exageros.
O período de férias escolares pode ser ideal para colocar em dia cuidados que são essenciais para a saúde dos estudantes. A visita ao pediatra pode ser agendada, assim como a realização de exames, quando indicados, como acuidade visual e acuidade auditiva, por exemplo.
Finalizando, talvez esta seja a recomendação mais importante do texto, em função das baixas coberturas vacinais que vêm acontecendo no Brasil há alguns anos e com agravamento na pandemia: é hora de verificar o cartão de vacinas de toda a família: dos recém-nascidos aos idosos. Se houver vacinas em atraso, recomendamos aproveitar o período das férias para colocá-las em dia. Não se deve perder tempo, pelo risco de ressurgirem ou de aumentarem os casos de doenças imunopreveníveis até há pouco tempo controladas.
Esperamos que, com os cuidados orientados, as férias possam cumprir seu papel para o bem-estar dos estudantes, nessa época em que a humanidade passa por momento tão delicado, a exigir comprometimento e atitude empática de todos.
Departamento Científico de Saúde Escolar
Julho / 2021.