HABILITAÇÃO E REABILITAÇÃO VISUAL

A visão é um dos sentidos mais importantes para a criança. Olhando, ela observa suas ações, suas atitudes, as pessoas e os objetos, possibilitando interação com o meio, formando assim significados.

A terapia ocupacional é um processo de tratamento no qual o terapeuta utiliza a atividade como recurso técnico. Esta é considerada, nesse processo, como um instrumento que pode viabilizar a expressão, a espontaneidade, o conhecimento das potencialidades e das limitações do paciente. Através da realização dos diferentes tipos de atividades, sejam elas lúdicas, pedagógicas, psicomotoras ou de automanutenção, as crianças se percebem, percebem o outro e suas relações, levando a uma compreensão de si e do meio.

A abordagem da terapia ocupacional no atendimento com crianças visa a tornar a intervenção mais prazerosa, funcional e terapêutica. Parham e Primeau (2002) citam o texto da terapeuta ocupacional Norma Alessandrini que afirma que a recreação é a forma infantil de aprender, uma válvula de escape para a necessidade inata de atividade. A atividade da criança é o brincar. É através do brinquedo que a criança estabelece contato com o mundo, recria situações de desafio, satisfaz sua curiosidade e desenvolve suas potencialidades. Ao propor as atividades, o terapeuta analisa-as previamente considerando os movimentos, as habilidades, as capacidades cognitivas e visuais requeridas.

A primeira abordagem consiste em realizar uma avaliação funcional da criança, através de um processo de observação informal do comportamento visual, da qualidade da recepção/assimilação/integração e elaboração dos estímulos visuais em termos perceptivos. Avaliamos a maneira com a qual a criança utiliza a visão no brinquedo, na mobilidade, em atividades pedagógicas e nas atividades de vida diária.

As funções visuais básicas, viso-motoras e viso-perceptivas são avaliadas quanto ao nível de consciência, de assimilação, decodificação e atenção visual mediante a reação à luz, adaptação ao contraste, cores e formas. Para isto, são utilizados diferentes tipos de iluminação, luzes coloridas, painéis, desenhos, luvas coloridas, brinquedos com padrões de alto contraste, material com brilho e movimento.

Deve-se conhecer as etapas do desenvolvimento cognitivo e visual para que se possa adaptar as atividades à criança. É de fundamental importância certificar-se da “qualidade e quantidade” de experiências visuais que essa criança possui, do nível de interesse e motivação e dos aspectos psicoafetivos que possam interferir nas funções perceptivas.

A visão é uma função aprendida, e sua qualidade pode ser melhorada com a estimulação visual. O terapeuta ocupacional intervém através da estimulação e integração das funções visuais, fornecendo às crianças experiências sensório-motoras adequadas à exploração funcional e ao desenvolvimento global.

Deve-se ressaltar a importância da participação da família no tratamento. As orientações para que as atividades propostas sejam realizadas em domicílio fazem um diferencial no resultado final do mesmo, levando sempre em consideração que as atividades devem ser selecionadas de acordo com a idade e com o nível de colaboração da criança para que consiga concluí-las.

Sugestões simples de estimulação visual que fazem diferença no cotidiano da criança:

*utilizar fitas isolantes nas grades do berço formando um caracol (estabelecendo o contraste preto da fita com a grade branca)

*capas de mamadeira com contrastes (pode ser de tricô/crochê)

*mobiles com contrastes

*meias com listras (preto/amarelo)

*brinquedos luminosos e sonoros

*tapetes com contrastes ou brilho

*brinquedos com texturas

*bola de isopor com guizo dentro e fita isolante por fora

*fantoches de cores contrastantes

*adesivos na parede que estabeleçam contrastes

Figura 1 – Mamadeiras com adaptação de capa com contraste para estimulação visual

Figura 2 – Cone com contraste: atividade viso-motora, trabalhando fixação e seguimento no olho amblíope

Figura 3 – Aplicativo com contraste para trabalhar fixação e seguimento ocular

Conclui-se que a intervenção lúdica é adequada, favorece a estimulação visual, proporciona a relação terapêutica, a adesão e incorporação ao programa de tratamento com a conscientização não só da criança, mas também de seus familiares.

GT DE OFTALMOLOGIA DA SOPERJ
Karla Mitoso – Terapeuta Ocupacional
Julho / 2020.