Junho Violeta e a Prevenção do Ceratocone

O mês de junho também é marcado pela conscientização do ceratocone (Junho Violeta), doença ocular que se caracteriza pelo afinamento central da córnea. A SOPERJ, através do Grupo de Trabalho de Oftalmologia Pediátrica, chama a atenção para a questão. Por isso, elaborou um artigo com esclarecimentos sobre a doença e sua prevenção. O texto é assinado pelo Dr. José Eduardo da Silva, membro do Grupo de Trabalho.

Junho Violeta e a Prevenção do Ceratocone

Ceratocone é uma doença caracterizada pelo afinamento central da córnea, geralmente progressivo e de origem não inflamatória. Com frequência o acometimento é bilateral e assimétrico.

A incidência na população geral é estimada em 1:2.000/ano. Inicia-se na puberdade e pode evoluir até a 3º e 4° década de vida. História familiar está presente em 6-8% dos casos, o que sugere uma herança familiar autossômica dominante, com penetrância incompleta.

A baixa de acuidade visual é o primeiro sintoma da doença, sendo ocasionado pelo astigmatismo irregular provocado pelo afinamento corneano. Pode também cursar com alta miopia. Em estágios avançados, a protusão apical corneana projeta a pálpebra inferior para baixo e para frente, quando o paciente olha para baixo (sinal de Munson).

Entre as causas de ceratocone destaca-se a atopia e o ato de coçar os olhos com frequência. Pode estar associado também a outras condições como a síndrome da pálpebra superior flácida, síndrome de Down, distrofias corneanas e doenças do tecido conectivo como a Síndrome de Marfan, Síndrome de Ehlers- Danlos, Doença de Lobstein e prolapso da válvula mitral.

Considerando que o ato de coçar os olhos é forte componente no desenvolvimento do ceratocone este comportamento deve ser desencorajado através da educação do paciente e rígido controle da alergia ocular quando presente, principalmente em indivíduos atópicos.

As crianças devem ser orientadas desde cedo a não esfregar os olhos repetidamente e, consulta com especialista é indicada, sempre que houver sinais de conjuntivite alérgica ou quadros de conjuntivites de repetição, para que o tratamento adequado seja instituído. Muitas vezes os casos refratários devem ser seguidos por equipe multidisciplinar, com atuação do pediatra, oftalmologista e alergista.

O tratamento inicial do ceratocone é realizado com a prescrição de óculos. Com a progressão da doença utiliza-se adaptação de lentes de contato rígidas de material gás permeável. Mais recentemente foi introduzido o Cross Linking (CXL) que consiste na aplicação de riboflavina na córnea, seguido de radiação com luz ultravioleta. O objetivo desse tratamento é aumentar a rigidez corneana inibindo a progressão do ceratocone. Outro tratamento bastante promissor é o implante de anel no estroma corneano estabilizando o astigmatismo irregular e melhorando a acuidade visual. Em casos extremos opta-se pelo transplante de córnea.

José Eduardo da Silva

GT de Oftalmologia da SOPERJ