O vírus
O Mayaro vírus (MAYV) é um arbovírus RNA, envelopado, pertencente ao gênero Alphavirus e à família Togaviridae.
Faz parte de um complexo a que também pertencem os seguintes vírus: Bebaru, Chikungunya (CHIKV), Getah, Semliki Forest, Ross River (RRV), O’nyong-nyong e Una. Esses vírus compartilham alguns sítios antigênicos semelhantes, que geram reações imunológicas cruzadas.
MAYV possui três genótipos: D (encontrado na América do Sul e Caribe), L (encontrado apenas no Brasil) e, mais recentemente descrito no Peru, o genótipo N.
Epidemiologia
MAYV foi isolado primeiramente em 1954 em Trinidad e Tobago. Em 1955 foi anunciada uma epidemia em Belém, Brasil, assumida como MAYV. Estudos de soroprevalência durante as décadas de 1960 a 2010 apontam o País como o mais afetado pela virose. Em 2016 houve um surto em Goiás com 343 casos suspeitos.
Os vetores implicados na transmissão são o Haemagogus, Culex, Mansonia, Aedes, Psorophora e Sabethes.
A homologia do MAYV com CHKV, que se urbanizou, aliados à ocorrência de MAYV em áreas próximas a cidades e ainda a possibilidade de transmissão por A. aegypti e A. Albopictus, são fatores que corroboram o risco de urbanização do MAYV.
A existência de casos da doença em áreas urbanas, com circulação simultânea de dengue, sugere a possibilidade do Aedes aegypti funcionar como vetor também.
Países de primeiro mundo relataram casos importados da região das Américas.
Não há dados sobre outras formas de transmissão do vírus.
Patogênese
Após inoculação no subcutâneo, a disseminação ocorre por vasos linfáticos e pela microcirculação, através de vírions livres no sangue ou em monócitos infectados, atingindo órgãos alvos, como fígado e baço, onde se replicam. A disseminação então ocorre para ossos, músculos e articulações, coincidindo com a fase aguda da doença e uma potente reação inflamatória, com clínica que muito se assemelha ao CHIKV.
Período de incubação
Varia de um a 12 dias.
Manifestações clínicas
Em geral as manifestações clínicas são leves e autolimitadas. A doença apresenta uma fase aguda de três a cinco dias, com os sintomas mais comumentes descritos na literatura, a tríade formada por febre de início abrupto, artralgia/artrite e erupção maculopapular, mais raramente detecta-se a presença de sangramento. Podem ocorrer ainda cefaleia, dor retro-orbitária, mialgia, vômitos e diarreia. Mais de 50% dos casos podem evoluir para um quadro subagudo com artralgia persistente. Uma outra característica é a possibilidade de a febre apresentar um padrão bimodal.
Existe relatado de apenas um caso fatal por encefalopatia.
Tratamento
Não há tratamento específico, apenas sintomáticos e manutenção de hidratação adequada.
Complicações
Hepatite, complicações cardíacas e neurológicas também foram descritas e raramente presença de hemorragias.
Diagnóstico laboratorial
Anticorpos da classe IgM aparecem a partir do terceiro dia de doença e persistem por até três meses. Os testes sorológicos utilizados são inibição da hemaglutinação, fixação do complemento, teste de neutralização, MAC-ELISA e EIA. O PRNT é considerado padrão ouro para alphaviroses.
RT-PCR (plasma e urina) entre 2 a 6 dias do início dos sintomas.
Diagnóstico diferencial
Chikungunya, dengue, enteroviroses, hepatites, zika, além de outras doenças exantemáticas.
Conclui-se que as características tropicais do Brasil e a presença de vetores capazes de transmitir o vírus, constituem fatores que favorecem o surgimento de surtos, ou mesmo a disseminação do MAYV para áreas urbanas.
Bibliografia
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Maio / 2019.