O Mês da Conscientização do Olho Seco foi criado, em 2017, pela TFOS (Tear Film Ocular Surface Society), visando chamar a atenção da população sobre essa patologia que impacta na qualidade de vida e pode alterar a visão. Em 2020, a Associação dos portadores de Olho Seco – APOS, junto com a TFOS, instituiu no Brasil o Julho Turquesa: Mês da Conscientização do Olho Seco.
Segundo o Dews II (Dry Eye Workshop Society), a prevalência de olho seco no mundo varia de 5% a 50%, sendo mais frequente em países asiáticos e pacientes mais idosos. No Brasil, estima-se que 12,8% da população convivam com a doença, sendo a incidência maior entre as mulheres.
O Olho Seco ou Síndrome do Olho Seco decorre de alteração do volume ou função da lágrima, resultando em um filme lacrimal instável e doença da superfície ocular. A distribuição da lágrima na superfície ocular depende diretamente do reflexo de piscar (controle neurológico), contato da superfície ocular com as pálpebras e da integridade do epitélio corneano.
Com relação aos sintomas, até 70% dos pacientes são assintomáticos, descobrindo a doença no exame oftalmológico de rotina. Dentre as principais manifestações clínicas, temos hiperemia conjuntival, prurido, embaçamento transitório da visão, fotofobia e crostas palpebrais. A sensação de ressecamento, corpo estranho ou ardência nos olhos, que pioram ao longo do dia, são as queixas mais frequentes.
As causas do olho seco são multifatoriais, desde doenças oculares ou sistêmicas, até fatores ambientais, alimentares e comportamentais.
Atualmente o uso prolongado de eletrônicos tem provocado aumento da incidência de olho seco na população pediátrica, pois quando estão concentrados no equipamento piscam menos, aumentando a evaporação do filme lacrimal, o que faz com que a lubrificação ocular fique deficiente.
Crianças com atopia ocular também tendem a ser mais suscetíveis ao aparecimento do quadro, o qual deve sempre ser investigado durante as avalições oftalmológicas.
O uso de lentes de contato, que tem aumentado em adolescentes, também é um importante fator desencadeante da síndrome do olho seco, pois aumentam a evaporação do filme lacrimal, reduzindo o fluxo da lágrima e propiciando o aparecimento de infeções.
O diagnóstico é realizado durante o exame oftalmológico com a aferição do tempo de ruptura do filme lacrimal (BUT – Break-up time), avaliação da produção de lágrima (Teste de Schirmer, clearence de fluoresceína e osmolaridade lacrimal) e pesquisa de doença da superfície ocular (realizado com corantes e citologia).
O tratamento do olho seco depende da causa subjacente, porém o uso de colírios e/ou géis lubrificantes são fundamentais e ajudam na redução dos sintomas, uma vez que exercem a função da lágrima fisiológica. Dieta equilibrada, associada à suplementação de ômega-3, também é extremamente importante para a produção de um filme lacrimal adequado.
Alguns casos têm indicação de procedimentos mais específicos, como anti-inflamatórios tópicos, oclusão dos pontos de drenagem da lágrima com plugs ou termocauterização, uso de lentes de contato terapêuticas ou tratamento com luz pulsada.
É importante realizar orientações às famílias na adequação de medidas ambientais para prevenção da síndrome nos pacientes pediátricos, principalmente naqueles com conjuntivite alérgica associada, pois o aparecimento da doença pode comprometer o rendimento escolar.
Dra. Bárbara Gonet
Membro do Grupo de Trabalho de Oftalmologia da SOPERJ