Meu filho tem a língua presa, e agora?

Mitos sobre a língua presa e frenotomia lingual

Leticia Reis
Grupo de Trabalho de Otorrinolaringologia da SOPERJ

Desde 2014 está disponível nas maternidades um protocolo para avaliação de freio lingual em recém-nascidos, o chamado “teste da linguinha”. Além disso, é possível encontrar informações em mídias sociais com facilidade.

Será que esta informação mais disponível e acessível a algumas famílias vem gerando um diagnóstico exagerado e com ele uma super indicação do procedimento de frenotomia? Cabe aos profissionais habilitados examinar, orientar e, principalmente saber quando intervir.

Nos tópicos abaixo vamos desvendar quatro mitos sobre a anquiloglossia e a frenotomia lingual.

  1. “Todos os bebês com o teste da linguinha alterado devem fazer a cirurgia.”
  • Nem todos os bebês precisam passar pelo procedimento, principalmente se a alteração for um achado isolado e o binômio mãe-bebê seguir sem queixas quanto à amamentação. É necessário avaliar cada caso individualmente, se existem estratégias não cirúrgicas para a queixa e deixar claro o benefício que se espera com a frenotomia de acordo com cada faixa etária (amamentação? engasgos? pronúncia?). Não existe embasamento em antecipar o procedimento pensando na prevenção de um problema futuro que pode nem vir a acontecer.
  1. “A cirurgia resolve a amamentação.”
  • De fato a correlação mais estudada é com a amamentação. Foi observada redução dos scores de dor maternos e melhora na percepção da amamentação pela mãe após o procedimento. No entanto, existem bebês com a língua presa que mamam normalmente, ao mesmo tempo em que podem existir crianças que após a cirurgia desenvolvem aversão ao seio por um período. É importante conversar com o pediatra e, quando indicado, com equipes de consultoria de amamentação e bancos de leite para esgotar as possibilidades de falha da amamentação.
  1. “A ausência da fala pode ser pela língua presa.”
  • Não é verdade! Talvez o pior dos mitos. A língua presa pode causar prejuízo na pronúncia de alguns fonemas, mas a aquisição de fala e linguagem vai muito além da anatomia do freio lingual. Nesses casos cabe sempre avaliação médica e fonoaudiológica sem demora.
  1. ”É rapidinho, faz no consultório.”
  • A faixa etária que tolera o procedimento ambulatorial é restrita, geralmente crianças com menos de 2 meses. Em crianças maiores pode haver maior reação e tendência a sangramento, além de área cruenta com necessidade de sutura. Nestes casos, é mais seguro realização em centro cirúrgico.

Referências bibliográficas:

  1. Brookes A, Bowley DM. Tongue tie: the evidence for frenotomy. Early Hum Dev. 2014; 90(11):765-8.
  2. Webb AN, Hao W, Hong P. The effect of tongue-tie division on breastfeeding and speech articulation: a systematic review. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2013; 77(5):635-46.