Risco da hesitação da vacinação contra Covid-19

O Departamento Científico de Imunizações da SOPERJ elaborou um artigo para alertar sobre o risco da hesitação em vacinar as crianças contra a Covid-19. No texto, a presidente do Departamento, Dra. Isabella Ballalai, fala sobre a preocupação do movimento antivacina e esclarece as questões sobre o assunto.

É lamentável ter que assistir a um “circo antivacina” tomar conta do Senado Brasileiro. Anunciado como um debate “científico” e “técnico”, o evento contou UNICAMENTE com nomes de brasileiros e estrangeiros absolutamente ativistas antivacina.

Vamos aos fatos:
  • As vacinas mRNA, após uma avaliação rigorosa dos dados clínicos fornecidos pelos laboratórios fabricantes, foram inicialmente registradas para uso emergencial devido à pandemia, mas possuem faz tempo o registro definitivo emitido pela Anvisa e outras agências regulatórias, como EMA (na Europa) e FDA (nos EUA), entre tantas outras.
  • Como ocorre com qualquer vacina – e também medicamentos –, desde a aplicação da primeira dose e até hoje, a eficácia e segurança continuam a ser monitoradas, o que, infelizmente, muitos desavisados entendem como uma prática nova que reflete riscos escondidos. Mas não é!
  • Estudos de eficácia e efetividade (este, demonstrando a capacidade da vacinação gerar diminuição de casos, hospitalizações e mortes pela covid-19), realizados em diferentes países, permitiram confirmar o impacto positivo dessas vacinas no controle da pandemia.
  • Além disso, importante acompanhamento baseado na vigilância global de eventos supostamente atribuíveis a todas as vacinas covid-19 disponíveis no mundo, e a investigação de cada possível evento grave, permitiu ao longo do tempo que, quando necessárias, fossem realizadas atualizações das bulas.
  • A aplicação de milhões de doses no Brasil e no mundo em tempo recorde permitiu que eventos adversos raros, e até raríssimos, fossem identificados em tempo também recorde. Graças a aplicação de milhões de doses em todo o mundo e em tempo recorde, hoje, temos um quantitativo de dados imenso, obtido também em tempo recorde, sobre a segurança e a eficácia das vacinas covid-19, o que contraria os questionamentos de muitos antivacinistas sobre o que pode acontecer daqui alguns anos.
  • Um número ínfimo de todos os eventos supostamente atribuíveis às vacinas mRNA (e a outras vacinas covid-19) tiveram a vacinação como causa, ou como possível causa, após rigoroso estudo de cada notificação, e foram incluídos nas bulas atuais.
  • Podemos afirmar: a grande maioria das reações à vacina é leve e transitória, como a dor no local da injeção ou febre baixa.
  • Em todo o mundo, os dados dos órgãos de vigilância dos ministérios da saúde são claros: os benefícios das vacinas mRNA superam em muito os possíveis riscos oferecidos pela vacinação e em muito mais os riscos trazidos pela doença covid-19.
  • As teorias conspiratórias sobre as vacinas mRNA não têm fundamento científico e são propagadas por indivíduos com interesses aparentemente obscuros.
E sobre o risco da covid-19 para crianças?

As iniciativas de disseminar a desconfiança na imunização de crianças com as vacinas mRNA infelizmente é um case de sucesso em todo o Planeta e se transformou na atual bandeira do antivacinismo mundial. Teve início no Brasil quando, em 4 de janeiro de 2022, uma audiência pública sobre o tema (o que não houve para nenhuma outra faixa etária) incluiu nomes de médicos que desde o início da pandemia militavam em prol dos tratamentos precoces (sem qualquer embasamento científico) e contra as vacinas.

O lamentável sucesso da desinformação se deu devido à estratégia de destruir a percepção de risco relacionada com a carga da doença no público infantil, negando-se o número de crianças hospitalizadas e que foram a óbito por covid-19. A grande questão é que percepção do risco depende de atitudes individuais, como mostra o modelo sociocognitivo proposto por Eberhardt e Ling:

  • As pessoas são mais propensas a se engajar em comportamento protetor quando acreditam que não agir representa um risco para si mesmas e que o comportamento protetor reduz a ameaça, mesmo causando eventos adversos;
  • Já pessoas que relatam hesitação vacinal acham que não faz sentido prevenir uma infecção percebida como não prejudicial usando uma vacina que, ao contrário, foi considerada prejudicial.

É crucial que a população e os profissionais da saúde busquem informações confiáveis em fontes oficiais, como o Ministério da Saúde, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e sociedades médicas renomadas.

Precisamos nos unir em prol da saúde pública e combater a desinformação. A vacinação é uma das ferramentas mais eficazes que temos para prevenir doenças e salvar vidas.

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Isabella Ballalai

Presidente do Departamento Científico de Imunizações