O ADOLESCENTE E A ATUAÇÃO PEDIÁTRICA

Histórica e culturalmente, as crianças de 0 a 5 anos sempre foram as usuárias habituais dos serviços de saúde pública em nosso país. Recebiam as vacinas definidas no calendário instituído pelo Ministério da Saúde, e as crianças de famílias com poder aquisitivo maior complementavam a vacinação com a compra de outras vacinas recomendadas pela Sociedade Brasileira de Pediatria e que ainda não estavam disponíveis na rede pública. Essas crianças eram acompanhadas no seu crescimento e desenvolvimento e, a partir dos 5 anos, só procuravam atendimento quando adoeciam ou na vigência de alguma intercorrência.

Nessa perspectiva, os escolares, aqui incluídos os adolescentes – faixa etária dos 12 aos 18 anos segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente ( ECA ) , ficavam à mercê dos serviços de pronto-socorro, não sendo objeto de políticas públicas de saúde entendidas na sua forma integral e de forma ampliada.

Tratando-se de fase da vida com especificidades e peculiaridades próprias, a adolescência está intimamente relacionada aos determinantes sociais que lhe dão as características que a identificam. Embora sejam todos os adolescentes criativos, sonhadores, gregários, ávidos por adquirir sua autonomia e, basicamente sujeitos de direitos quanto a todos os preceitos fundamentais da pessoa humana, é missão de todos nós, pediatras, acolhermos a todos da mesma forma generosa e atenta. Assim atuamos sempre que chegam a nós.

Lamentavelmente não existem políticas públicas de Estado, nas 3 esferas de governo, que garantam o acesso universal dos/as adolescentes aos serviços de atenção básica de saúde. Os  adolescentes sofrem a precarização da Saúde, ficando o SUS à mercê dos desmandos das “autoridades” constituídas.

Parafraseando o grande Milton Nascimento, temos que ir aonde os adolescentes estão. Os pediatras podem fazer a diferença. Vamos ser a voz dos nossos pacientes até que eles próprios assumam o seu protagonismo.

Dra. Rachel Niskier Sanchez
Presidente do Departamento Científico de Adolescência – SOPERJ
Agosto / 2020